domingo, 27 de outubro de 2013

FanFic - Biology 2 Capítulo 5





- O quê?
De alguma forma, as palavras escaparam por minha boca, mesmo que eu duvidasse de que era capaz de falar.
- Ele sabe disso, Emily também, é claro, a família toda sabe – Elliot continuou, detendo-se aos fatos e ignorando minha pergunta – Ele não quis assumir o filho e manda algum dinheiro todo mês como pensão, mas nunca...
- Elliot, você está aí!
Eu teria pulado de susto se já não estivesse completamente paralisada ao ouvir a voz de Emily unindo-se a nós na sacada.
- É, eu... Eu vim fumar – ele mentiu, colocando a mão no bolso e tirando um cigarro dali no maior estilo blasé, como se eu mal estivesse ali. Excelentes atores, eles.
- Você pode fazer isso mais tarde, papai quer falar com você agora – ela disse, tirando o cigarro de sua mão e me lançando um sorriso rápido – Desculpe, se importa se eu roubá-lo um pouquinho?
Balancei a cabeça negativamente, forçando-me a reagir. Não adiantaria de nada ficar parada ali feito pedra e dar bandeira agora, por mais que eu não quisesse ter que encarar aquela situação.
Emily voltou para o interior da casa com o irmão em seu encalço, e ele me lançou um último olhar cheio de segredos antes de sumir de vista. Dei as costas para a porta da sacada, respirando fundo algumas vezes, o pânico de antes reinando novamente, agora muito mais forte e mesclado a outro sentimento que eu infelizmente conhecia bem.
Traição.
Ele sabe disso.
Ele nunca quis assumir o filho.
Fechei os olhos, minha mente rodopiando perigosamente e me forçando a apoiar as mãos sobre o parapeito.
Havia algum motivo para tudo aquilo. Ele não teria simplesmente ignorado um filho por nada, não era possível. Ele não teria abandonado a própria prima com uma criança que também era sua e se livrado de todas as responsabilidades com apenas uma pensão mensal sem uma boa razão.
Uma peça muito importante estava faltando. E só havia uma pessoa que poderia completar o quebra-cabeça.
- Até que enfim te achei.
Meu corpo se retesou ao ouvir a voz de Niall, e logo em seguida seus braços envolvendo minha cintura. Tentei agir naturalmente.
- Pois é, eu... Precisava de um pouco de ar fresco.
- Com toda aquela gente fumando em cima de você, imaginei que você escaparia mais cedo ou mais tarde – ele riu baixo, plantando um beijo na curva de meu pescoço – Mas está frio aqui fora e você está sem casaco.
- Eu estou bem – falei apenas, desviando o rosto do dele e implorando para que ele não percebesse minha mudança de humor.
Obviamente, não funcionou.
- Aconteceu alguma coisa?
Meu coração quase parou ao ouvir sua pergunta. Por onde começar?
- Não... Eu só estou um pouco zonza mesmo – respondi, sem coragem de dizer a verdade e fingindo um sorriso – Minha cabeça está um pouco pesada.
Niall franziu a testa por um momento, desconfiado.
- Você está um pouco pálida... O que mais está sentindo? – ele murmurou, virando-me de frente para si e analisando meu rosto.
Havia tantas coisas que eu gostaria de responder! Mas eu ainda não estava pronta para aquele confronto. Minhas pernas tremiam e eu tinha medo de desmaiar a qualquer momento, subitamente sem chão. Como o homem que eu conhecia e o homem que abandonara seu filho com a própria prima podiam ser a mesma pessoa?
- Um pouco de fraqueza – falei, evitando contato visual – Eu acho que vou me deitar.
- Tem certeza? Não é melhor chamarmos um médico? Você estava bem há pouco tempo – ele disparou, impedindo que eu me movesse quando ameacei seguir para a sala de estar – Isso não é normal, (S/N).
Muitas coisas sobre você não são normais também, é o que descubro a cada minuto que passo aqui.
- Só preciso descansar – neguei, empurrando-o pelo peito discretamente, sentindo-o me acompanhar ao caminhar até a porta - Não precisa subir comigo, fique com a sua família...
- Não vou te deixar sozinha – Niall me interrompeu, com a expressão firme e preocupação nos olhos. Lembrete: não tente contato visual outra vez a não ser que queira mesmo desmaiar.
Nos despedimos de todos rapidamente, seguindo para o quarto em silêncio. Vesti meu pijama enquanto ele me observava, prestes a se atirar no chão caso eu perdesse a consciência – sua reação quando eu quase tropecei na calça do pijama foi prova suficiente disso – e sem mais conversa me deitei, de costas para seu lado da cama.
- Me avise se sentir algo diferente, está bem? Eu não vou sair daqui – o ouvi sussurrar algum tempo depois, deitando-se ao meu lado e beijando o topo de minha cabeça, aconchegando-me contra seu corpo. Fechei os olhos com força, afastando algumas lágrimas confusas que ameaçavam se formar neles, e assenti de leve.
Mal fui capaz de pregar o olho pelo resto da noite.
Niall demorou a cair no sono, alerta para qualquer chamado meu, que nunca veio. Já era quase manhã quando seu braço finalmente relaxou sobre minha cintura, e com todo o cuidado que pude juntar, me esgueirei para fora da cama, calçando as mesmas sapatilhas do dia anterior e deixando o quarto.
A casa estava deserta conforme eu caminhava silenciosamente rumo à área externa. De braços cruzados para combater a fria brisa matinal, ainda intocada pelos primeiros raios de sol, vaguei pelos jardins sem pressa, muito menos direção. Minha mente trabalhava sem parar desde a noite anterior, ruminando as palavras de Elliot e tentando preparar meu coração para o que mais cedo ou mais tarde viria.
Eu precisava conversar com Niall.
Me sentei sob uma árvore, abraçando minhas pernas dobradas contra o peito e afundando o rosto entre meus joelhos. Estava com dor de cabeça há horas e minhas pálpebras imploravam por descanso, apesar de meus pensamentos agitados. Fechei os olhos, soltando um suspiro angustiado que havia prendido a noite toda, e tudo ficou silencioso por um segundo.
- Querida... O que você está fazendo aqui?
Acordei num pulo, olhando na direção da voz, e me deparei com Audrey a alguns metros de distância, alarmada com minha presença. Já estava mais claro, o que me fez deduzir que eu havia pegado no sono por algum tempo.
- Eu... Me desculpe – murmurei, esfregando os olhos com as costas das mãos, só então percebendo que estava congelando – Eu não consegui dormir e resolvi dar uma volta... Acabei cochilando.
- Tudo bem, não precisa se desculpar – ela sorriu, aproximando-se e agachando ao meu lado, com uma mão solidária em meu ombro – Você parecia fraca ontem à noite... Está melhor?
Hesitei antes de responder, sem saber o que dizer. Eu queria, precisava me abrir com alguém, e quem seria melhor que a mãe dele?
- Não exatamente. Na verdade... Tem uma coisa que eu preciso perguntar.
Audrey franziu o cenho levemente.
- Pois então pergunte.
Mais hesitação. Respirei fundo.
- Por que... Por que Niall abandonou Ben?
As feições antes leves deram lugar à seriedade e contenção. Eu sabia que seria assim. Ela não me responderia com toda a felicidade do mundo depois de trazer à tona tão inesperadamente um assunto íntimo de família.
Levou algum tempo, mas ela finalmente respondeu, esboçando um sorriso sem humor.
- Creio que isso é obra do Elliot... Acertei?
- Não quero prejudicar ninguém – respondi evasivamente, mas ela não precisava de minha confirmação para tirar suas próprias conclusões.
- Eu não sou a pessoa mais apropriada para responder suas perguntas – Audrey disse, num tom baixo e educado – Só... Por favor, tome cuidado. Não é o assunto preferido entre os familiares... Então procure a pessoa certa para sanar suas dúvidas. E vá para dentro, faz frio de manhã aqui fora.
Observei Audrey se levantar com um olhar contido, sem deixar margem para mais perguntas. Mesmo que eu tivesse todo o discurso preparado em minha mente, as palavras jamais sairiam de minha boca depois de sua resposta. Era nítido que ninguém se comprometeria a falar sobre aquele assunto, nem mesmo Emily... A não ser Elliot, que agora, como ele mesmo havia dito, não teria a mínima chance de conversar comigo depois que descobrissem o que me contara.
E Niall.
De volta à estaca zero.
Levei alguns minutos para me recompor, levantando-me e seguindo para o interior da casa. O corredor ainda estava deserto quando voltei para o quarto, e me sentei na poltrona próxima à cama, observando o homem que dormia pesadamente sobre o colchão.
Quem era ele?
Estava na hora de descobrir. Chega de temer, chega de fraquejar. Eu precisava saber.
Assim que ele acordasse, eu o confrontaria. Não conseguiria passar mais um minuto sequer perto dele sem externar tudo o que estava enjaulado em minha cabeça.
E então eu esperei. Foi menos difícil cochilar algumas vezes agora que eu tinha tomado uma decisão, mas eu acordava sempre que ele se remexia na cama, esperando encontrá-lo de olhos abertos a cada vez.
Enfim, isso aconteceu.
- Bom dia.
Abri os olhos, piscando algumas vezes até focalizá-lo, e meu coração parou por um instante. Não me permiti voltar atrás.
- Bom dia.
- Por que não está deitada? – ele perguntou, sentando-se sobre a cama e ostentando leves olheiras sob seus olhos atentos – Aconteceu alguma coisa?
- Eu estou bem – afirmei, me sentindo culpada por tê-lo deixado preocupado com meu suposto mal estar – Só tive uma noite difícil.
Uma leve confusão tomou conta de seu rosto.
- Difícil? O que eu perdi?
Respirei fundo, sem perder a determinação, e comecei uma conversa que poderia acabar muito mal.
- Eu sei que o Ben é seu filho.
Um longo silêncio caiu sobre nós, tornando nosso contato visual quase insuportável combinado à tensão que nos envolvia. Ele soltou um riso nervoso, me olhando como se eu tivesse três cabeças.
- O que você está dizendo?
- Eu já sei de tudo, não adianta negar – insisti, firme em minhas palavras – Eu sei que você sabe, eu sei que todos sabem... Eu sei.
Seus olhos se arregalaram levemente, e depois se fecharam com força, desviando-se dos meus ao se abrirem outra vez. Sua testa se franziu como se estivesse sentindo dor, e gradativamente, ele voltou a me olhar.
Tentei engolir o choro, mas antes que meus esforços pudessem fazer efeito, meus olhos já estavam marejados. Eu já estava plenamente convencida de que era real, mas a parte de mim que vivia num mundo onde utópico onde nada jamais doeria ainda esperava que ele pudesse tirar aquela certeza de mim. Perceber em seus olhos derrotados que isso não aconteceria fez com que minhas resistências fraquejassem.
- Agora eu entendo o seu comportamento estranho de ontem à noite – ele soprou, sem conseguir sustentar meu olhar – Você descobriu a única coisa que não podia saber sobre mim.
- Como você foi capaz? – falei, mal esperando que ele terminasse de falar, deixando todos os pensamentos que me torturavam há várias horas escaparem por minha boca sem filtro – Como você consegue dormir à noite sabendo que seu filho pode estar precisando de você? Ou então, que ele nem sabe que você é o pai dele?
Niall não se mexeu, apenas me ouviu, sem mover um músculo. Ele sabia que tudo que eu dizia era a mais pura verdade, e impulsionada por minha raiva, continuei despejando minha indignação nele.
- Você já parou pra pensar que ele sente sua falta? Que durante esses poucos anos de vida, ele se pergunta por que você o deixou? Você sequer passa algum tempo com ele quando visita seus pais? Você sequer fala com ele? Você sequer sabe que ele existe?
- Eu não estava pronto pra ser pai! Aquilo foi um acidente, nós não devíamos ter deixado acontecer! – ele exclamou, levando uma mão ao rosto e em seguida puxando seus cabelos para trás em sinal de nervosismo – Eu não estou preparado pra isso... Não posso encarar uma situação dessas, você não entende?
- Não, Niall, eu não entendo – respondi, sentindo as primeiras lágrimas rolarem por meu rosto conforme ficava de pé, incapaz de controlar minha agitação – Eu não entendo como você está preparado para transar com a sua prima e não está preparado para criar o filho que fez com ela!
- Aquele filho arruinaria minha vida! – ele exclamou, com os olhos úmidos – Eu era jovem, estava apenas começando a minha vida fora da faculdade, não podia me prender a um filho, ainda mais da minha própria prima! Seria o fim de qualquer chance de ser feliz pra mim! Seria um peso, uma responsabilidade eterna que eu não queria!
Fiquei em silêncio, sem acreditar nas palavras que saíam de sua boca. Observei-o escorregar para fora da cama pelo outro lado, andando de um lado para o outro, tão decepcionada como nunca estive.
- Como você pode dizer essas coisas e não ter nojo de si mesmo? – murmurei, deixando as lágrimas caírem livremente; ele baixou seu olhar, afetado por minha pergunta, mas eu não me importei – Ele é só uma criança, Niall... Você já parou pra pensar que ele não tem culpa por ter nascido?
Fiquei em silêncio por poucos segundos, deixando que minha voz reverberasse em sua mente e o fizesse entender a profundidade dos danos que causara ignorando aquela criança desde que nascera.
- E quanto à Emily? – continuei, soltando um riso medíocre – Ela tinha praticamente a minha idade quando tudo aconteceu... E você a abandonou. Sozinha com um filho pra criar... Sabe, isso me faz repensar o quanto posso confiar em você.
- Não tente comparar duas situações completamente diferentes! – ele disse, exaltado – Eu... Eu amo você, jamais faria isso!
- Então o que a tornou tão diferente de mim foram seus sentimentos? – rebati, sem me deixar impressionar – Realmente, é assim que homens de verdade lidam com seus erros... Julgando-os pelo quanto se importam com as conseqüências deles!
- Por que você está me julgando? A vida é minha, o erro foi meu e você não tem nada a ver com nada disso! – Niall explodiu, avançando em minha direção, e eu não me mexi, finalmente recebendo uma resposta honesta – Eu não preciso da repreensão de ninguém, muito menos da sua!
Senti lágrimas queimando em meus olhos, desesperadas para caírem por meu rosto, mas eu as contive. Apenas encarei os olhos lunáticos dele, esboçando um sorriso satisfeito.
- Você tem razão – soprei, erguendo as sobrancelhas em tom de aprovação, e vi o turbilhão de sentimentos em seu rosto virar vazio enquanto ele se dava conta do que havia dito – Me desculpe por me importar.
Respirei fundo, vendo seus olhos rapidamente encherem-se d’ água, e caminhei devagar até a porta, sentindo meu corpo inteiro tremer. Antes que eu pudesse girar a maçaneta, ouvi sua voz perguntar num tom rouco.
- Aonde você vai?
Encarando o chão, sem forças para olhá-lo de novo, respondi friamente.
- Achar um jeito de voltar para casa.
- Espera, não faz isso... Calma, vamos conversar.
- Eu não quero mais conversar – falei, me encolhendo ao sentir que ele se aproximara e tentava segurar meu braço – Não com esse desconhecido.
Encarar a porta era mil vezes mais fácil que olhar para ele depois do que havia me dito. Por mais que seja difícil assumir um filho, nada justificava seu egoísmo e a maneira imatura com a qual resolveu a situação.
- Não sou um desconhecido – ele murmurou, sua voz fraquejando assim como minha respiração ao sentir a dor em seu tom – Eu só cometi alguns erros... Mas eu nunca... Nunca esperei que você seria a pessoa a me julgar por eles.
Fechei os olhos, desmoronando por dentro e tentando conter as lágrimas furiosas que se acumulavam em meus olhos.
- Eu sinto muito... Eu realmente sinto – solucei, virando-me de frente para ele e sentindo meu coração se contorcer ao ver sua expressão derrotada – Ter um filho não é uma questão de estar pronto ou não. Nunca se está pronto para ter um filho... Mas não é algo de que se possa fugir, uma vez feito. Essa criança precisa de você. E ela não pode esperar até que você esteja pronto para assumi-la. Você precisa se ajustar, não ele.
Enxuguei meu rosto com as mãos trêmulas, olhando-o com desapontamento. Niall encarava o chão, com o maxilar travado e os olhos inundados. Quando ele ergueu o olhar até mim, senti como se aquelas verdades estivessem sempre ali, enterradas em sua consciência, mas ninguém, nem mesmo ele, jamais as tivesse trazido à superfície. E agora que elas estavam tão nitidamente jogadas sobre seus ombros, o peso da culpa era quase maior do que o suportável.
- Não vá embora... Por favor – ele implorou, respirando profundamente na tentativa de se manter íntegro – Vamos conversar, me deixe explicar...
- Eu não tenho mais nada pra te dizer... E não sei se ainda há algo que você possa me explicar – suspirei, baixando meus olhos numa tentativa de reunir forças – Eu... Eu não sei se ainda posso confiar em você.
Seus olhos pareciam gritar, feridos com minhas palavras, e eu tive que me apoiar contra a parede para que minhas pernas não cedessem. Doía tanto em mim quanto nele, mas eu não podia voltar atrás agora que tudo já havia sido externado.
- Por que você está dizendo essas coisas? – ele perguntou num sopro, um tanto desesperado. As lágrimas agora caíam livremente por meu rosto.
- Eu preciso me afastar de você – respondi, fitando-o com o máximo de autocontrole que me restava, o que era praticamente nada - Talvez seja temporário, talvez...
Deixei a frase no ar, sem conseguir pronunciar seu fim, embora este ecoasse em minha cabeça. Talvez seja definitivo.
- Não – Niall reivindicou, segurando minhas mãos com os olhos vidrados – Não, você não pode fazer isso comigo! Isso não tem nada a ver com você!
- Eu não posso ignorar uma coisa dessas – falei, sentindo minhas mãos arderem dentre as dele, já sentindo uma falta que eu sequer podia mensurar de tocá-las – Eu não consigo. Eu olho pra você... Mas não é você que eu vejo... É outra pessoa. É o pai do Ben.
Niall vasculhou meus olhos, buscando algum fio de fraqueza no qual ele pudesse se agarrar e me fazer mudar de idéia, mas não havia nenhum. Por mais que aquilo doesse de uma maneira assustadora, eu sabia que estava fazendo a coisa certa por todos nós. Eu precisava seguir a razão daquela vez, e continuar agindo como se um filho não tivesse aparecido era simplesmente inaceitável, além de impossível.
- Por favor, me perdoe – ele soprou, apertando minhas mãos e me olhando com súplica – Eu sei que fui um monstro, mas eu quero consertar isso! E sei que não vou conseguir sozinho, não vou conseguir sem você, eu não posso te perder, muito menos agora!
- Eu não posso ficar se não confiar em você – sussurrei, com o olhar dilacerado por deixar aquelas sinceras e dolorosas palavras saírem – Enquanto eu não tiver essa confiança... Não vai acontecer. Eu não vou voltar.
Ele afrouxou a força em minhas mãos, e seu rosto esvaziou-se de emoções. Só havia o choque e a desolação. As lágrimas pareciam queimar minha pele, e antes que eu não tivesse mais forças para acabar com aquilo de uma vez por todas, me forcei a dizer uma última palavra antes de deixar o quarto:
- Desculpe.

Enxuguei uma lágrima que escorria pelo canto de meu olho enquanto o ônibus me levava de volta para Londres. O sol estava a pino, iluminando mais um lindo dia, mas dentro de mim só chovia.
Me despedir de todos não foi tão fácil quanto pensei; Audrey tentara me convencer a ficar, mas foi em vão. Emily chorava silenciosamente, me olhando como se tivesse destruído minha vida, o que não era bem o caso, apesar de doer da mesma forma. Ben apenas cochilava no sofá, alheio a tudo como sempre estivera.
Niall havia sumido. Depois que o deixei no quarto para arrumar uma maneira de ir embora, não o vi mais. Não consegui ir procurá-lo, o orgulho me dominando e a ele também; talvez mais adiante nós pudéssemos conversar de novo, quando parasse de doer tanto...
Abracei minha bolsa, respirando fundo e tentando dormir um pouco depois de uma noite inteira em claro... Sem sucesso.
Mesmo que eu conseguisse dormir, só o que conseguiria seriam pesadelos.
Novamente, meus pensamentos voaram para ele, por mais que eu tentasse desviá-los. A decepção em seus olhos, tão límpidos antes, tão escuros agora, o ardor de todas as palavras impensadas e cruelmente honestas... Era como se eu nunca mais fosse conseguir deixar aquela dor para trás.
Não, disse a mim mesma. Levaria algum tempo... Mas ele entenderia que fiz a coisa certa. Semanas, meses, anos, mas ele entenderia, e faria a coisa certa também. Eu sabia que ele faria.
E então, quem sabe, pudéssemos tentar de novo.
Mas por ora... Precisávamos aprender algumas lições e curar algumas feridas separados.



CONTINUA...

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