domingo, 27 de outubro de 2013

FanFic - Biology 2 Capítulo 3






((S/N)’s POV)



- Tô ficando gorda.
- Hã?
Ouvi Niall soltar uma risada curta, e o olhei com ceticismo.
- É sério! – resmunguei, sem me importar com o vento que bagunçou meus cabelos ao entrar pela janela quando virei minha cabeça na direção dele – Olha!
Levantei minha blusa até expor minha barriga, e o fato de estar com os pés sobre o painel do carro só piorava a situação calamitosa de minha gordura localizada.
- Nossa... Sua nojenta, sai do meu carro – ele disse, cheio de sarcasmo ao me olhar, mas antes de direcionar seus olhos para a frente algo chamou sua atenção em minha cintura, fazendo-o franzir a testa – Esse hematoma é obra minha?
- Acho que sim – respondi distraidamente enquanto ele voltava a focar sua atenção no trânsito quase inexistente, pressionando o pequeno roxo em minha pele e sentindo-o um pouco dolorido – Mais um pra coleção.
Niall deu um charmoso sorriso de canto, daqueles que faziam uma febre inexplicável subir pelas pernas, e eu baixei a barra da blusa, frustrada com as reações idiotas que meu corpo demonstrava por quase tudo que ele fazia.
- Sua pirralha – ele falou, revirando os olhos por detrás dos óculos escuros, e eu, indignada, lhe dei um soquinho no ombro – E nem adianta querer dar o troco, porque além de pirralha você é fraca.
- Eu consegui deixar a marca dos meus dedos no seu braço uma vez! – lembrei, tentando não rir das provocações dele – Você mesmo assumiu que ficou dolorido.
- Não me lembro disso – ele rebateu na mesma hora, mentindo descaradamente.
- Argh, você me tira do sério! – exclamei com os olhos cerrados, dando vários tapas em seu braço antes de cruzar os meus e olhar na direção oposta à dele – Não quero mais falar com você.
- (S/N)? – ele chamou, sem receber resposta imediata. Fiz bico, irritada com a facilidade que ele tinha de me irritar (não de um jeito sério... na verdade era até divertido, se é que isso existia), e percebi que ele olhava meu reflexo no retrovisor do carro.
- Que é? – rosnei, sem conseguir evitar que meus lábios formassem um sorriso contrariado em meu rosto, e o vi sorrir de volta enquanto reduzia a velocidade.
- Chegamos.
Virei meu rosto na direção do dele, subitamente séria, e ele fez uma curva, parando diante de um alto portão de metal que interrompia uma cerca viva igualmente imponente.
- Bom dia, senhor – um homem sorriu cordialmente ao reconhecer Niall, que retribuiu o cumprimento com um aceno de cabeça, e permitiu que entrássemos na propriedade. Engoli em seco ao ver a mansão, precedida por uma extensa área verde.
- Bem vinda à casa dos meus pais – ele anunciou com certo embaraço, parando a poucos metros da porta.
Respondi com um sorriso indeciso entre ansiedade e alegria. Estava na hora de finalmente conhecer sua família.
Assim que o ronco do motor cessou, uma senhora saiu pela porta da frente do casarão, sorrindo docemente ao nos ver.
- Querido! – ela suspirou, caminhando até Niall, que saiu do carro direto para seu abraço.
- Oi, mãe – o ouvi dizer enquanto também deixava o automóvel. Não consegui conter um sorriso ao ver os dois se cumprimentando tão carinhosamente.
- Fizeram boa viagem? Minha nossa, como você está magro. Está com fome? O almoço está quase pronto – ela disparou, acariciando o rosto de Niall enquanto o examinava de cima a baixo e depois olhando para mim conforme eu contornava o carro até parar ao lado deles – Oh... E você deve ser a famosa (S/N).
Tive certeza de que meu rosto ficou roxo de vergonha ao dar um sorriso tímido em confirmação, e senti os dedos de Niall se entrelaçarem aos meus.
- Você é mesmo muito bonita – ela sorriu, me observando com interesse e depois lançando um olhar cúmplice ao filho, que sorria disfarçadamente de volta – Muito prazer.
- O prazer é todo meu, senhora Horan – falei educadamente, e qual não foi minha surpresa ao vê-la se aproximar e me dar um abraço. Aquilo foi totalmente inesperado. Eu previa no máximo um aperto de mão.
- Ora, por favor – ela riu ao se afastar – Estamos numa reunião familiar, vamos dispensar as formalidades. Me chame de Audrey. Venham, vamos entrar!
Respirei fundo, involuntariamente apertando a mão de Niall com mais força, e ao lançar-lhe um rápido olhar nervoso, vi um sorriso divertido muito confortável em seu rosto.
Acompanhamos a senhora Horan – digo, Audrey – até o interior da casa, tão elegante e bonito quanto seu exterior. Passamos pelo hall de entrada, que já me permitia ter uma noção do quão grande o resto seria, e chegamos até uma bela escadaria, de onde seguimos para a direita.
- Estávamos colocando a conversa em dia e aproveitando o dia ensolarado enquanto vocês não chegavam, mas agora podemos mandar servir o almoço – ela disse enquanto caminhávamos na direção de uma grande porta que dava para o exterior novamente. Minhas entranhas reviraram de ansiedade a cada passo que dávamos até finalmente deixarmos a casa, chegando na área da piscina, onde algumas pessoas conversavam. Engoli em seco.
... Olá, família Horan?
- Niall! – uma das mulheres sorriu ao ver que nos aproximávamos, e pelas discretas rugas em seu rosto, logo presumi que deveria ser uma de suas tias – Só faltava você!
- Oi, tia Margareth – ele disse com um meio sorriso, e então mais sete pares de olhos caíram sobre nós. O que basicamente significa que todos estavam me analisando dos pés à cabeça. Eu sabia que devia ter escolhido um jeans mais escuro.
- Como vai, meu rapaz? – o homem bastante calvo ao lado de Margareth perguntou enquanto ela cumprimentava o sobrinho com um abraço, fazendo o mesmo que ela logo depois.
- Vou bem, tio Joseph, obrigado – Niall respondeu, voltando a envolver minha cintura com seu braço assim que o tio se afastou – Esta é minha namorada, (S/N).
- Minha nora em potencial – Audrey disse gentilmente, me lançando um olhar maternal – Ela não é linda?
Niall apenas suspirou, lançando um olhar de censura à mãe, que revirou os olhos em resposta. Se não estivesse tão intimidada, teria sido difícil não rir.
- Muito prazer – gaguejei para os tios dele, sorrindo cordialmente.
- Muito mesmo, com o namorado que você tem... – uma voz masculina murmurou atrás deles, que se viraram para olhar seu dono – O apelido dele não é britadeira por acaso.
Franzi a testa ao observar o homem incrivelmente bonito sentado numa das espreguiçadeiras, que me olhava de cima a baixo com vago interesse para depois fixar seus olhos entediados nos meus.
Niall havia me dito que seria um choque, mas eu definitivamente não estava esperando por uma apresentação tão marcante, primo gay.
- Elliot! – a mulher que dividia a cadeira com ele chamou em tom de repreensão – Quanta grosseria!
- Que seja – ele deu de ombros, disfarçando uma risada maldosa e depois olhando para o primo – Oi, Niall.
- Oi, Emily – Niall rebateu, dando ênfase à palavra ao dar um sorriso forçado à moça, que eu logo deduzi ser sua prima e portanto, irmã de Elliot – Essa é (S/N), minha namorada.
Elliot fingiu não sentir o fora que havia levado enquanto Emily prendeu um sorriso maldoso e me olhou com simpatia.
- Prazer em conhecê-la – ela disse com humor na voz, e eu sorri timidamente de volta. Ela era tão bonita quanto o irmão, o que basicamente me fazia a pessoa mais feia no recinto. Nem os mais velhos perdiam de mim.
- Mamãe, eu achei uma minhoca! – uma voz de criança exclamou, se aproximando em rápidos passos até Emily – Olha!
Um sorriso enorme se abriu em meu rosto ao ver um garotinho parar ao lado da espreguiçadeira, arfando, e estender o braço para a mãe, mostrando o pequeno bicho que havia encontrado no jardim. Elliot revirou os olhos, enojado, e se levantou, esbarrando em meu ombro ao passar por mim. Ignorei sua atitude imatura completamente, disposta a fazer exatamente o mesmo pelo resto do fim de semana.
- Filho, você já sujou sua roupa? Eu pedi pra não brincar na terra antes do almoço! – Emily suspirou, prendendo um sorriso diante da empolgação do menino – Agora largue isso e diga oi para o seu tio e a namorada dele.
- Oi, tio! – ele disse alegremente, piscando várias vezes ao dirigir seus olhos de Niall para mim – Oi, namorada do tio!
- Fala, pequeno – Niall sorriu, bagunçando os cabelos do garoto, que soltou uma breve risada – Ben, esta é (S/N).
- Oi, (S/N)! – Ben corrigiu, evidenciando suas bochechas coradas ao sorrir ainda mais para nós antes de voltar a falar com a mãe – Tô com fome... Já podemos almoçar?
- Só se você largar essa minhoca e subir comigo para trocarmos essa blusa antes – ela respondeu, ficando de pé e estendendo-lhe a mão. Na mesma hora, ele a obedeceu, e os dois entraram em casa.
- Que garotinho adorável! – guinchei com os olhos brilhando. Niall apenas assentiu, me conduzindo até o pequeno grupo de pessoas que conversavam a alguns metros de distância.
- Esses são meus tios paternos, Sarah e Leonard – ele prosseguiu, indicando uma mulher que com certeza aparentava muito menos idade do que realmente tinha e um homem com um bigode incrivelmente medonho, que sorriam gentilmente para nós; cumprimentei os dois com um gesto respeitoso de cabeça – E este é meu pai, Anthony.
- Que bom que ainda se lembra dos nomes de todos - o homem de mais ou menos cinquenta anos ao lado de Leonard riu ao enfim ser apresentado, tão charmoso quanto o resto da família. Mas que coisa, não tinha ninguém feio naquele raio de casa?
Ah, sim, tinha. Eu.
- Me poupe do drama, mamãe já se encarregou dessa parte – Niall revirou os olhos, cumprimentando o pai com um abraço – Esta é (S/N).
- Muito prazer, (S/N) – ele sorriu, estendendo sua mão para que eu lhe desse a minha, e quando o fiz, recebi um leve beijo próximo ao pulso – Seja bem vinda.
- Obrigada – falei, um tanto surpresa pelo tom galante que ele havia usado ao pronunciar meu nome... Seduzir estava no sangue da família, pelo visto.
- Vamos entrando... O almoço será servido em poucos minutos – Audrey anunciou, seguindo para o interior da casa, e todos a acompanharam. Niall voltou a segurar minha mão com firmeza, e rapidamente ergueu uma sobrancelha quando o olhei, o que só tornou seu sorriso discreto mais charmoso. Acho que aquilo era um sinal de que estava fazendo tudo certo até então...
O almoço foi bastante tranqüilo. A comida estava simplesmente deliciosa, e apesar de muitas perguntas serem dirigidas a mim e Niall, ele conseguiu fazer com que eu não me sentisse pressionada ou sem graça diante da curiosidade de seus familiares. O único que parecia insatisfeito era, obviamente, Elliot, que comia em silêncio, só falando quando lhe perguntavam alguma coisa, e ainda assim num tom desgostoso. Eu nunca imaginei que Niall estivesse tão certo quanto à obsessão do primo por si.
- Vocês devem ter acordado cedo e passado horas naquele carro, merecem um descanso – Audrey sorriu quando todos já se levantavam da mesa – O quarto já está preparado para recebê-los.
- Obrigada – agradeci gentilmente ao seguir com Niall para as escadas, porém algo nos parou no meio do caminho. Ou melhor, alguém.
- Nós redecoramos seu quarto, espero que goste – Elliot comentou, parando à nossa frente e olhando para o primo, que já havia cerrado os olhos em desconfiança – Que pena você não ter trazido a Kelly esse ano... Ela iria adorar as novas cortinas!
Com um sorriso falso direcionado a mim, ele rapidamente subiu para seu quarto. Não era como se eu realmente fosse fazer alguma coisa de que ele devesse ter medo, já que de repente respirar havia ficado difícil.
- Kelly? – repeti após algum esforço, quebrando o silêncio tenso entre nós – Kelly Smithers?
Niall apenas suspirou, levando uma mão ao rosto em sinal de frustração, e eu imediatamente senti uma forte náusea.
- Eu não acredito nisso – gaguejei, sem reação. Meu almoço estava voltando pelo caminho por onde havia entrado e eu estava tão incrédula que tudo o que fiz foi me deixar ser arrastada por Niall para o quarto. Ele mal teve tempo de fechar a porta atrás de nós antes que eu finalmente explodisse.
- Por que você não me contou antes? – disparei, olhando-o com indignação – Por que não me contou que Kelly já esteve aqui?
Ele abriu a boca para falar, mas antes que qualquer palavra saísse de sua boca, o interrompi.
- Em nenhum momento você julgou relevante mencionar esse pequeno detalhe? Não passou pela sua cabeça um segundo sequer que talvez fosse sensato de sua parte compartilhar esse fato? Eu não acredito, eu juro que não acredito nisso...
Niall me encarou com um misto de desespero e arrependimento enquanto eu andava de um lado para o outro, até enfim se aproximar de mim e postar suas mãos em meus braços.
- Você tem razão... Eu devia ter contado antes – ele disse com sinceridade, tentando me acalmar – É que tudo aquilo foi tão insignificante perto de trazer você aqui... Eu não queria estragar esse momento.
- Mentir nunca é a melhor opção – rosnei, me desvencilhando de suas mãos e dando-lhe as costas – A verdade sempre acaba aparecendo e estragando tudo.
- Você quer saber a verdade? – ele bufou, irritado – Tudo bem, eu conto. Não tenho nada a esconder.
- Ótimo, pode começar – assenti, voltando a me virar em sua direção com os braços cruzados sobre o peito numa postura hostil – Sou toda ouvidos.
- Sim, eu já trouxe a Kelly aqui – Niall iniciou, e eu senti o enjôo subir por minha garganta novamente ao ouvir as palavras saírem de sua boca – Mas nunca significou nada para mim, muito menos para a minha família.
- Realmente, estou me sentindo muito mais confiante agora – dei risada, sem me preocupar em dosar meu sarcasmo.
- Será que você não entende? – ele exclamou, novamente se aproximando de mim com urgência no olhar e na voz – Eu nunca senti nada por ela, absolutamente nada! Eu só a trouxe aqui porque estava cansado de ficar sozinho! Não agüentava mais querer alguém que me fizesse morder a língua por todas as vezes em que menosprezei o amor, que me fizesse parecer um idiota só de olhar pra mim e realmente me fizesse sentir quando me tocasse... Não só perceber.
Ele se sentou na cama ao nosso lado, respirando fundo e esfregando o rosto com as mãos. Mantive minha postura séria.
- Eu estava cansado de querer você.
A raiva em meus olhos desapareceu por alguns segundos enquanto meu coração respondia às suas palavras com batimentos cada vez mais acelerados, mas logo respirei fundo e voltei a adotar uma expressão centrada.
- Não foi uma boa idéia, mas pelo menos ela me ajudou com o Elliot – Niall murmurou, cabisbaixo – A cada ano que se passava ele ficava cada vez mais ousado e eu não agüentava mais as provocações dele... Ninguém mais agüentava, na verdade. Então eu a trouxe no ano passado numa tentativa de afastá-lo, e felizmente, funcionou.
Franzi a testa involuntariamente, impressionada com o que ele estava me contando. Elliot estava começando a me dar medo de verdade.
- No fim das contas foi um erro trazê-la aqui – ele prosseguiu com uma risada ácida – Meu pai não parava de paquerá-la, e... Bem, você conhece a Smithers. Não é tão difícil assim cair nas graças dela.
Pisquei algumas vezes, ainda processando o que ele havia acabado de dizer. Eu só podia ter entendido errado.
- A Kelly... Dormiu com o seu pai? – soprei, chocada demais para encontrar minha voz.
- O que você esperava? Ela é jovem e fácil, meu pai é rico e tem seu charme... Um tinha o que o outro queria – ele deu de ombros, balançando negativamente a cabeça – A única coisa que me decepciona nessa história toda é minha mãe.
- Ela sabe? – perguntei imediatamente, sentando-me ao lado dele, ainda mais horrorizada com tudo o que estava ouvindo e deixando a raiva de lado por um momento. Aquilo era muito mais sério.
- Ela sempre sabe – ele disse com certa amargura – Não foi a primeira escapada dele e com certeza não foi a última. Ela sabe que ele é infiel... Eles têm um acordo.
- Acordo? – repeti, tão entretida no que ele contava que nem me dei conta de que talvez estivesse me intrometendo demais.
- Eles se amam, de verdade – Niall explicou, retribuindo meu olhar atento – Mas meu pai tem... Necessidades que minha mãe já não pode mais suprir. Então ele procura quem possa preencher esse posto fora de casa... E ela não se importa.
Engoli em seco, lembrando-me do quão próximos Audrey e Anthony foram durante todo o tempo em que estávamos reunidos. Se Niall não tivesse me dito tudo aquilo, eu jamais adivinharia que algo daquele tipo acontecia. Permitir que o próprio marido seja infiel, apesar de ser uma atitude compreensiva da parte dela, não deve ser a tarefa mais fácil do mundo.
- Isso não significa que eu não me importe... Mas eu sei que eles são felizes assim, e é tudo o que eu quero – ele suspirou com um sorriso fraco – Assim como é o que eu quero para nós.
Seus olhos se fixaram nos meus com muita intensidade, como se ele quisesse ter certeza de que eu entenderia o quão sincero ele estava sendo através daquele olhar. Suas mãos envolveram as minhas com suavidade, espalhando arrepios por meu corpo.
- Me desculpe... Eu devia ter te contado sobre a Kelly antes, mas foi tudo um erro tão desagradável que eu não pensei que teríamos que tocar nesse assunto novamente. Eu devia saber que o idiota do Elliot não pensaria duas vezes antes de jogar sujo.
Respirei fundo, um tanto arrependida por ter ficado brava agora que sabia o que havia acontecido.
- Vai passar – murmurei, fechando os olhos por um momento numa tentativa de afastar os pensamentos ruins de minha mente – Me desculpe por ter reagido daquele jeito, eu não sabia...
- Tudo bem – ele disse com a voz baixa, observando nossas mãos vagamente – Eu entendo.
Sorri fraco para ele, que parecia um tanto chateado, e sem me importar com mais nada daquilo, o abracei. Mal havíamos chegado e já estávamos brigando... Não era assim que eu queria que as coisas acontecessem.
- Eu sempre vou fazer de tudo para sermos felizes – ele disse contra a pele de meu pescoço – Eu não posso perder você.
Um mau pressentimento subitamente provocou um calafrio em minha espinha. Por que ele estava dizendo aquilo?
- Não mentir para mim já é um bom começo – murmurei, lutando contra a insegurança que repentinamente crescia dentro de mim.
Desfiz nosso abraço, olhando fundo em nos olhos azuis dele, que agora pareciam preocupados.
- Eu confio em você – sussurrei, com toda a minha honestidade – Não me faça perder uma das coisas que mais amo sobre nós dois.
Ele respirou fundo, baixando o olhar por um segundo, e assentiu.
- Eu não vou deixar isso acontecer – ele disse, e eu esbocei um sorriso antes de unir nossos lábios num breve, porém significativo beijo.
Não era uma promessa. Era um pedido mútuo.
Por favor, não estrague tudo.

Acordei um tanto alarmada devido ao fato de que havia adormecido inesperadamente. Niall e eu estávamos deitados vendo TV antes de cair no sono – por quantas horas eu havia dormido, a propósito? – e agora eu estava sozinha no quarto. Esfreguei os olhos ao procurar pelo relógio no criado-mudo, e ao ver que havia cochilado por apenas meia hora, reparei num pequeno bilhete ao lado da luminária.

Você dorme demais. E olha que o velho aqui sou eu.
Fui para a garagem resolver algumas coisas para o meu pai. Está um calor horrível, então tome um banho se quiser se refrescar e vista algo leve - sua mala já está no quarto! – antes de vir me procurar.

- Panaca – resmunguei com um sorriso sonolento, me espreguiçando demoradamente antes de levantar e seguir suas instruções. Demorei um pouco mais que o aconselhável no chuveiro, deixando que a água me relaxasse, e vesti um shorts jeans, uma camiseta branca larga - porque era dele e cobria até boa parte de minhas coxas - e sapatilhas azuis. Prendi o cabelo numa trança simples e segui para o exterior da casa. Onde raios ficava a garagem?
Não levei muito tempo para encontrar o lugar, após alguns minutos caminhando pela propriedade. Me surpreendi ao ver que uns cinco carros – e quando eu digo carros, me refiro a carros de verdade, não os meros meios de transporte que pessoas normais geralmente têm – estavam estacionados no grande espaço coberto. Niall já havia me dito que seu pai tinha amigos que trabalhavam em grandes empresas automobilísticas e de certa forma isso contribuía para que a família tivesse carros excelentes, mas ainda assim me surpreendi. Eu sempre me surpreendia, e duvidava muito que um dia deixasse de me surpreender.
- Bom dia! – Niall sorriu ao surgir de trás de um dos veículos, e eu pulei de susto – Achou muito difícil me encontrar?
Abri a boca para responder, mas qualquer palavra que eu pudesse dizer se tornou insignificante quando ele começou a se aproximou de mim.
Ele estava apenas de calça jeans.
Ele sabia que eu tinha um fraco por ausência de camisas.
Desgraçado.
Com uma risada sacana ao perceber que sua pergunta havia se tornado irrelevante, ele parou a poucos centímetros de mim, perto o suficiente para que sua respiração batesse em meu rosto, porém longe o suficiente para que eu somente o beijasse se realmente quisesse.
Em meio aos tremeliques de meus joelhos e pensamentos impuros, me perguntei pela milésima vez como ele era capaz de fazer aquele tipo de coisa.
Que se dane, eu podia pensar nisso mais tarde.
Coloquei minhas mãos sobre seus ombros, tomando impulso para envolver minhas pernas em seu quadril, e nossos lábios colidiram sem a menor gentileza. Meus dedos buscaram seus cabelos da nuca, um pouco úmidos de suor, enquanto suas mãos escorregavam por minha cintura para tirar proveito de minhas coxas em seguida. Apesar do movimento brusco, o que predominava em nosso beijo era a intensidade.
Niall deu alguns passos na direção da garagem, e não demorou muito para que ele me apoiasse sobre uma estante onde algumas ferramentas repousavam. Por vários minutos continuamos nossa batalha de nervos, dispostos a resistir bravamente até que o outro assumisse a derrota.
Quando já estava ficando difícil respirar e eu estava prestes a partir o beijo, ouvi um gemido baixo escapar pelos lábios dele, e então anunciar sua desistência.
- Ganhei – sorri debilmente com a boca inchada, ofegante.
- Se o seu shorts não fosse tão curto... Talvez eu tivesse mais chances – ele arfou, enterrando o rosto em meu pescoço e dando uma mordida no lóbulo de minha orelha. Cruzei minhas pernas ao redor dele, aproximando nossos corpos, e pude sentir que ele estava empolgado por debaixo da calça. Joguei a cabeça para trás, sentindo meu coração bater tão rápido que me causou uma leve tontura.
- Quais são as chances de alguém nos pegar aqui agora? – sussurrei, cheia de segundas intenções.
Com um suspiro, ele ergueu o rosto para me encarar, com a testa franzida em desapontamento.
- Eu tenho que consertar o carro do meu pai – ele murmurou com desânimo, encolhendo os ombros – Ele não deixa mais ninguém tocar nele a não ser eu, e precisa que esteja pronto até amanhã cedo, quando um possível comprador virá avaliá-lo.
Revirei os olhos, recostando-me na parede atrás de mim. Um carro era mais importante do que eu. Inacreditável.
- Posso pelo menos ficar aqui com você? – perguntei, fazendo beicinho – Não quero ficar sozinha pela casa.
- Claro que pode... Desde quando você precisa pedir uma coisa dessas? - Niall sorriu, achando graça de minha pergunta, e me deu um selinho – Só não garanto que será divertido, já que não vou poder te dar muita atenção.
Dei de ombros, sem muita escolha, e o observei pegar algumas ferramentas na caixa ao meu lado para voltar a trabalhar no motor do carro de onde ele havia surgido alguns minutos atrás. Tentando lutar contra o tédio (sem falar na frustração), entrei no carro e me acomodei no estreito banco de trás.
– Ei, isso aqui funciona? – perguntei quando meus olhos caíram sobre o que parecia ser um rádio próximo ao painel.
Fiquei de joelhos no banco e esgueirei meus ombros pelo espaço entre os assentos da frente, mexendo no que me parecia ser o tuner. Não obtive resposta, e virei meu rosto para descobrir o motivo do silêncio. Revirei os olhos ao vê-lo me olhar através do vidro traseiro. Piscando algumas vezes, com o rosto vazio e uma leve demência momentânea, ele finalmente notou o que havia acontecido.
- Desculpe – Niall murmurou, me fazendo balançar negativamente a cabeça e soltar um risinho – O que você disse?
- Nada, deixa pra lá – falei, passando o resto de meu corpo para o banco do motorista, a fim de não distraí-lo para que terminasse logo de arrumar aquele carro - Pode continuar o seu trabalho.
Ainda rindo disfarçadamente do momento puberdade dele, continuei tentando fazer o rádio funcionar, e depois de alguns minutos de trabalho, consegui destravar o botão velho que o ligava.
- Não acredito que você conseguiu arrumar essa coisa! - ele riu, fechando o capô do carro para me olhar com a expressão espantada.
- Pois é, nada que um toque de delicadeza feminina não resolva – pisquei, ignorando o fato de que quase havia arrancado o painel inteiro do carro para destravar aquele botão. Ele franziu a testa, duvidando de minha resposta, e ambos caímos no riso.
Passamos boa parte da tarde ouvindo músicas antigas, conversando, rindo, e confesso, nos amassando. Já havia escurecido há um tempo quando ele terminou o conserto, e sem aceitar não como resposta, me carregou até a casa.
- Aí estão vocês – Audrey sorriu ao nos ver subindo as escadas – O jantar está quase pronto.
- Ótimo, estou faminto – Niall disse, sem nem parar para respondê-la, e quando já estávamos a uma distância razoável, sussurrou em meu ouvido – Em todos os sentidos.
Prendi uma gargalhada, afundando meu rosto em seu pescoço enquanto percorríamos o caminho até o quarto, e ele me prensou contra a porta assim que a fechamos.
- E então... Onde estávamos? – ele sussurrou, beijando meu pescoço sem pudor.
- Na parte em que você vai tomar banho – respondi, mordendo meu lábio em seguida e empurrando-o pelos ombros – Você está sujo de graxa, nem pensar.
Ele levou alguns segundos para entender, e mais alguns para se conformar.
- Ugh, tudo bem – resmungou, dando-me as costas e indo para o banheiro – Mas não pense que isso vai ficar assim, você ainda me paga!
- Fique limpinho, amor – dei risada, afinando a voz, e recebi uma careta mal educada em resposta. Caminhei até minha mala para escolher uma roupa, cantarolando uma música qualquer que ouvimos na rádio mais cedo, porém um burburinho no corredor se destacou sobre o barulho do chuveiro. Franzi a testa, preocupada, e me aproximei da porta, tentando entender o que estava acontecendo.
- Você não vai fazer isso, eu não vou deixar! – uma voz feminina disse, num volume razoavelmente baixo.
- Ela precisa saber, e eu aposto que ele ainda não contou! – um homem rebateu, e então eu reconheci as vozes de Elliot e Emily. Cerrei os olhos.
- Não é problema seu, portanto não se meta! – ela rosnou, parecendo apavorada – Quando você vai parar de destruir a vida das pessoas?
- Destruir? Eu só quero ajudar! Talvez ela o ajude a entender que o Ben precisa do pai! – Elliot respondeu, irritado – Por quanto tempo você pretende continuar mentindo pro seu próprio filho? Você não acha que ele merece saber a verdade?
Os dois continuaram discutindo, mas meu cérebro não foi capaz de processar o resto da conversa. Meu corpo havia paralisado, o choque entorpecendo meus músculos e fechando minha garganta num segundo, meus olhos arregalados, perdidos num lugar qualquer da parede.
Por alguns segundos que me pareceram horas, eu não consegui formar a frase dentro de minha cabeça. Porém, as palavras encontraram seu rumo sozinhas.
Niall era pai de Ben. 




CONTINUA...

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