sexta-feira, 7 de março de 2014

FanFic - Biology 2 Capítulo 18





As horas passaram relativamente depressa. Estávamos nos divertindo, dançando vez ou outra, quando alguma música imperdível começava a tocar, e rindo bastante com alguns dos amigos de Dianna. Tínhamos acabado de voltar da pista de dança quando o celular de Eleanor tocou, e sua expressão descontraída deu lugar a uma tensa assim que leu o nome no visor.
– É ele? – perguntei, já sabendo a resposta. Ela assentiu, e eu a imitei, em forma de apoio, para então observá-la se dirigir ao banheiro. Meus olhos continuaram perdidos na direção que ela seguiu por mais algum tempo, até que outra pessoa atraiu minha atenção ao se aproximar discretamente.
– Com licença – um homem desconhecido, usando roupas pretas e um avental da mesma cor, o que imediatamente me ajudou a identificá-lo como um barman, disse, com cuidado para não me assustar – Tenho um presente para a senhorita.
– Um presente? – gaguejei, após o choque inicial, e na mesma hora, fitei o pequeno copo preenchido por uma bebida transparente, acompanhado por um recipiente igualmente pequeno com um gomo de limão e um sachê de sal, sobre a bandeja que o homem trazia consigo.
– Sim. Esta bebida foi oferecida por um senhor que me pediu para entregá-la à senhorita.
Meu coração acelerou instantaneamente, bombeando desconfiança para cada centímetro de meu corpo. Externei minhas dúvidas sem pestanejar.
– Que senhor?
A resposta do barman quase teria me feito cair, se eu já não estivesse sentada.
– Niall Horan.
Mantive meus olhos no homem, que esperava uma reação decente, porém não pude esboçar uma. Niall estava aqui? Como? Impossível! Ele estava na tela de meu computador minutos antes de sair de casa... Subitamente, a sensação de estar sendo observada me dominou. Senti meu corpo inteiro esquentar, especificamente meu rosto.
Olhar ao redor foi inevitável. Não encontrei quem eu procurava, o que meu cérebro julgou ser o esperado. A viagem que Niall teria que fazer para estar ali era de mais ou menos uma hora e meia, e que, devido ao horário e à velocidade que seu carro era capaz de atingir, poderia facilmente ser reduzida. Era perfeitamente plausível que ele tivesse saído de casa assim que me despedi dele, e que tivesse chegado agora para me surpreender. A cada segundo, eu me convencia mais e mais de que aquilo era possível, de que ele realmente estava no meio de todas aquelas pessoas, esperando que eu o encontrasse e coroasse nosso reencontro com minha expressão de absoluta euforia.
– E então? – o barman questionou, ao perceber que estava distraída, e eu voltei a fitá-lo – A senhorita aceita o presente?
Meus olhos pousaram no shot de tequila esperando sobre a bandeja de prata enquanto eu tirava minhas últimas conclusões. Se o próprio barman estava me entregando a bebida, não havia motivo para desconfiar da procedência dela... Não era como se ele fosse concordar em servir algo possivelmente alterado a algum cliente, certo? Se fosse o caso, a vida noturna do mundo inteiro estaria em grande risco.
Lancei um rápido olhar na direção do banheiro, sem detectar qualquer sinal de Eleanor, e ao perceber que o homem começava a ficar confuso diante de minha reticência, voltei a encará-lo e sorri.
– Sim... Claro que sim.
O barman retribuiu meu sorriso e transferiu os objetos da bandeja para a mesa em que eu estava sentada; depois, agradeceu com um aceno de cabeça.
– Tenha uma boa noite, senhorita – ele disse gentilmente, antes de se afastar e retornar ao seu posto.
– Obrigada – suspirei, examinando a bebida diante de mim com pensamentos conflitantes. Ao mesmo tempo em que eu queria apenas virar aquela dose e sair à procura de Niall, flashbacks da festa na casa de Kelly Smithers me vinham à mente, dizendo que eu não deveria ingerir tal veneno. Enfim, cheguei a uma decisão razoável: aquela noite e a festa de Kelly não tinham qualquer relação entre si. Antes, eu estava sozinha; hoje, eu estava acompanhada não só de Eleanor, mas também, muito possivelmente, de Niall. Antes, eu havia tomado vários shots; hoje, seria apenas um.
Agindo por impulso, antes que meus temores infundados me impedissem mais uma vez, e mantendo as palavras de Eleanor em mente, realizei o breve ritual da tequila, me utilizando dos três componentes servidos pelo barman.
Resisti à vontade de me levantar e procurar Niall por alguns minutos, na esperança de que Eleanor voltaria e me ajudaria em minha empreitada. Diante de sua ausência, no entanto, decidi que a encontraria depois, quando ela enfim retornasse para a mesa onde os amigos de Dianna pareciam ter estabelecido seu território. Pedi para que alguns deles – os mais sóbrios – a alertassem para me telefonar quando voltasse, e iniciei minha busca pelo espaço escuro, lotado e abafado da casa noturna, ainda sentindo o álcool queimar em minha garganta. Senti minhas pálpebras cada vez mais pesadas, e amaldiçoei a pequena, porém poderosa dose que havia ingerido. Será que ele riria de mim quando me visse naquele estado, zonza após uma cerveja e um shot de tequila? Do jeito que era ridículo, tiraria sarro de mim por dias.
Me apoiei numa parede para respirar fundo e tentar afastar a sonolência que se apoderava de mim numa velocidade absurda – eu realmente devia ficar longe dessa merda de bebida – quando enfim avistei uma silhueta familiar, com os cotovelos apoiados no bar atrás de si, me encarando com um sorrisinho de canto. Tive que reabastecer meus pulmões novamente, pois todo o ar que havia acabado de inalar desapareceu assim que nossos olhos se encontraram. Tentei ao máximo não parecer uma idiota ao sorrir de orelha a orelha e me aproximar, mas falhei por completo.
Assim que seu corpo estava ao alcance do meu, abracei-o com força, afundando meu rosto em seu pescoço, e ele soltou um risinho surpreso.
– Sentiu minha falta? – ele murmurou, e apesar de sua boca estar próxima de meu ouvido, o barulho ao nosso redor era tão alto que fazia sua voz soar diferente.
– Muita! – exclamei, apertando-o ainda mais em meus braços – Não acredito que você está aqui!
– Pois é... – Niall assentiu, logo depois que o soltei para poder examinar seu rosto, um tanto embaçado pela combinação do escuro e das luzes frenéticas e pelo efeito irritantemente potente da bebida – Fico feliz que tenha gostado da surpresa.
– Ah, sim, eu adorei – respondi, acariciando seus ombros, e ao senti-lo fazer o mesmo em minha cintura, não pude conter minha sugestão indecorosa, levando minha boca até seu ouvido para murmurá-la – Mas vou adorar ainda mais quando dermos o fora daqui.
Niall me observou momentaneamente, como que intrigado por minhas palavras, mas logo teve sua expressão contornada pela mesma malícia que eu mostrava no meu.
– Seu desejo é uma ordem – ele concordou, e só o que sei depois disso é que quando deixamos o estabelecimento e entramos em seu carro, a primeira coisa que fiz foi colar meus lábios nos dele.
Porque depois disso, tudo se resume a uma indiscernível escuridão, que durou muito além das horas em que permaneci adormecida.

O quarto estava ligeiramente iluminado quando abri meus olhos, sendo imediatamente atingida por uma sutil, embora bastante incômoda, dor de cabeça. Tudo estava fora de foco, e somente depois de me sentar na cama e piscar várias vezes, reconheci meus arredores.
Ou melhor, não os reconheci.
Minha primeira reação foi franzir a testa, seguida de batimentos cardíacos acelerados. Em segundos, eu estava alerta, inspecionando cada centímetro do ambiente à procura de algum elemento familiar, ao mesmo tempo em que tentava me recordar dos eventos que precederam minha presença naquele local. Nada fazia sentido. Nada.
Até o momento em que um item jogado sobre uma poltrona no canto do quarto fez meu estômago despencar e ameaçar expelir tudo o que eu já tinha ingerido na vida.
Lágrimas arderam em meus olhos, embaçando a imagem do suéter verde musgo atirado sobre a mobília.
Respirar era impossível, por mais que meu corpo tivesse iniciado um processo de hiperventilação. Pânico era pouco para descrever o sentimento que corria em minhas veias a uma velocidade absurda. Da cabeça aos pés, eu tremia, me encolhia, me abraçava, tentava me proteger do que já havia acontecido, ainda que eu não me recordasse de nada que atribuísse sentido àquela realidade.
Estaria eu sonhando? Alucinando? No inferno? Tudo ao mesmo tempo?
Um clique vindo da porta derrubou quatro opções num piscar de olhos. Assim como um animal assustado, ergui meus olhos na direção do som, e me deparei com a prova de que sim, aquilo tudo era 100% real.
– Bom dia, flor do dia!
Se eu já não estivesse tão apavorada, teria gritado a plenos pulmões depois de ouvir as palavras carinhosas e carregadas de falsidade de Harry.
Continuei paralisada, completamente impotente diante de tudo o que se desenrolava diante de meus olhos. Meu cérebro entorpecido ainda tentava juntar os fragmentos inexistentes que certamente explicariam minha atual situação, sem qualquer sucesso. Quando Harry se aproximou da cama, sentando-se na ponta mais próxima aos meus pé, estremeci ainda mais ao vê-lo diminuir a distância entre nós, porém não fui capaz de reagir de forma mais defensiva. Minha total vulnerabilidade fez com que traços de divertimento surgissem em seu rosto, o que só intensificou minha náusea.
– Como foi a sua noite? – ele indagou, num tom de voz supostamente amistoso que combinava com seu olhar irônico – Ah, é verdade. Você provavelmente não se lembra de muita coisa.
Mantive meu olhar apavorado fixo no dele, sem saber mais como me defender. Harry prosseguiu após um breve silêncio, parecendo cada vez mais entretido.
– Sinto muito. Foi um mal necessário.
A naturalidade com a qual ele atropelava minha confusão ajudou a acelerar o rompimento do estado de choque, ainda que minha voz tenha levado alguns segundos para ressurgir.
– O que você fez? – murmurei, com o máximo de raiva que pude exprimir. Ele suspirou profundamente, segurando o riso, e respondeu com toda a displicência do mundo.
– Pra começar, acalme-se, eu mal toquei em você, tanto é que você ainda está completamente vestida. Com isso resolvido, digamos que, inicialmente, você estava numa casa noturna ontem, e eu também. Depois disso, eu, percebendo que seu fiel escudeiro não estava presente, resolvi lhe enviar um pequeno agrado no nome dele, com um ingrediente secreto nele. E finalmente, por mais idiota que esse plano soe, você ainda caiu como um patinho.
Absorvi sua explicação sucinta com dificuldade, ainda atordoada por absolutamente tudo. Algumas peças ainda faltavam, e eu não hesitei em apontar tais lacunas, buscando me manter racional e totalmente alerta diante dele.
– Como você sabia?
– Que você estaria lá? – ele completou, erguendo as sobrancelhas, e antes de responder, não pôde conter um risinho orgulhoso – Oras, sua querida amiga Dianna me convidou! Como eu poderia não aparecer, depois de ela ter demonstrado tanto interesse em mim? Sinceramente, tenho tido tanta sorte ultimamente que até eu me surpreendo.
Fechei os olhos por um instante, a cada descoberta mais aterrorizada. Então ele realmente era o homem misterioso... Meu enjoo se intensificou.
– Foi tudo uma armação, não foi? – perguntei, com a voz ainda rouca pelo desuso, embora já cheia de ódio – Você só se aproximou dela porque nos viu juntas? –  Harry concordou com a cabeça, nem um pouco envergonhado de seu ato vil.
– Vou confessar que não esperava que você aparecesse – ele comentou, sem poder disfarçar a satisfação que extraía daquela conversa – Já estava quase ameaçando desistir quando você chegou, e depois, pouco antes da sua amiga finalmente largar do seu pé e te deixar sozinha, exatamente como eu precisava que você estivesse para executar meu plano.
– Como você adulterou a minha bebida? – disparei, alimentada pela aversão a todo o esquema barato que ele havia arquitetado para me atingir.
– Aquele barman é meu amigo... Bastou caprichar na gorjeta pra que ele me fizesse um pequeno favor – Harry piscou, radiante ao destrinchar sua artimanha – E o nome falso foi espetacular. Estou particularmente boquiaberto com minha genialidade.
Desviei meu olhar para baixo, fitando minhas mãos trêmulas sobre meus joelhos, sem acreditar que tudo aquilo era verdade. Como pude ser tão idiota?
– Então... Niall não estava lá... – sussurrei para mim mesma, e recebi uma curta gargalhada em resposta.
– Claro que não, e devo dizer que essa foi uma das melhores partes. Eu estava cogitando a possibilidade de encontrar certa resistência de sua parte na hora de te trazer pra cá, mas foi exatamente o contrário. Mal conseguia se desgrudar de mim, pensando que eu era o seu querido Horan. Preciso agradecer pela incrível colaboração.
– O que você quer? – falei, incapaz de suportar aquela conversa, mas ainda disposta a arrancar o máximo de informações possível dele – Por que fez tudo isso?
Harry ergueu as sobrancelhas, e a cruel leveza em sua expressão deu lugar a uma seriedade ameaçadora e implacável.
– Tudo isso serviu pra provar que eu estou disposto a fazer o que for preciso para ter o que quero. Inclusive ameaçar as pessoas de quem precisarei para chegar lá.
Sustentei seu olhar determinado, perplexa.
Ben. O que ele queria era Ben.
Meu corpo ainda tremia, meu coração ainda batia freneticamente, o ar ainda me faltava, e lágrimas ocasionalmente ainda rolavam por meu rosto... Eu ainda estava em pânico, e não conseguia enxergar uma solução a não ser ceder. Se ele tinha sido capaz de ir tão longe apenas para me intimidar, o que faria se eu não concordasse em ajudá-lo? Estremeci ainda mais só de imaginar.
Após um suspiro frágil e derrotado, assinei minha própria sentença.
– O que eu preciso fazer?
Um sorriso vitorioso surgiu em seu rosto.
– Conseguir uma amostra de DNA de Ben. E manter segredo sobre nosso acordo com seu príncipe encantado. Não quero que ele se meta no meu caminho, já tenho obstáculos suficientes. Só quero que ele saiba quando tiver a prova em minhas mãos.
– Como vou conseguir uma amostra de DNA? – perguntei, incrédula – Ainda mais sem a ajuda de Niall?
Harry deu de ombros, mantendo o sorriso e adicionando o triplo de desprezo.
– Seja criativa! Você tem uma semana.
Observei-o se levantar, mais do que satisfeito, e caminhar até a porta do quarto. Ao tocar na maçaneta, contudo, ele voltou a falar.
– Ah, a propósito, seu celular tocou a noite inteira. Acho que algumas pessoas devem estar preocupadas com o seu paradeiro... Talvez seja uma boa ideia ir logo para casa. Quem sabe você ainda consiga chegar atrasada para o almoço. Ou cedo para o jantar.
Assim que ele concluiu a frase e saiu do quarto, busquei um relógio instintivamente na mesa de cabeceira, e senti meu rosto empalidecer ao constatar que eram quase duas da tarde. Encarei os números no visor por um tempo que me pareceu infinito, forçando minha mente a funcionar e a processar tudo o que havia sido despejado sobre minha cabeça. Enxuguei meu rosto com as mãos, ainda trêmulas, embora novas lágrimas tenham substituído as antigas em meros segundos, e me obriguei a levantar da cama, notando que ainda usava meus sapatos da noite anterior. Ao encontrar minha bolsa, compartilhando a mesma poltrona do suéter, nem pensei em checar meu celular. Eu não queria ver nem falar com ninguém; eu só queria ir para casa e dormir, para sempre.
Deixei o cômodo e percorri o pequeno corredor até a sala, onde Harry assistia TV do sofá. Não ousei olhá-lo, sabendo que seria impossível conter minha ânsia de vômito se o fizesse, e me dirigi à porta do apartamento. No entanto, quando estava prestes a fechá-la atrás de mim, não pude evitar olhar por sobre meu ombro e fazer uma última pergunta.
– Como posso ter certeza de que você não... Fez nada comigo?
A voz de Harry foi totalmente indiferente ao responder.
– No momento, você não pode. Mas quando eu tiver meu filho, talvez possamos voltar a conversar sobre isso.
Fechei os olhos com força, me sentindo completamente suja, e ciente de que tal situação não mudaria até que ele me provasse que nada tinha acontecido. Sua resposta enigmática não foi suficiente para me tranquilizar, mas eu sabia que nada que eu dissesse me ajudaria a arrancar algo mais concreto dele. Eu me sentia tão cansada, tão podre, tão enganada, que nem sequer tinha forças para bater nele. Tudo o que eu queria era ir embora, pra bem longe, fugir daquela sensação horrível de ter sido usada, menosprezada, diminuída.
E o pior de tudo: eu não tinha uma prova sequer de que havia sido vítima de uma armadilha.
Talvez o pior de tudo tenha sido correr até a armadilha, abraçá-la, e deixar que ela me levasse para sua casa.
Niall jamais me perdoaria. Eu jamais me perdoaria.
Com todos esses pensamentos em primeiro plano, e muitos outros, bati a porta do apartamento e desci as escadas, tentando desesperadamente conter meus soluços, por mais que soubesse que essa seria uma guerra perdida.


CONTINUA...

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