terça-feira, 10 de dezembro de 2013

FanFic - Biology Capítulo 10






Segurei a maçaneta com mais força, sentindo um certo desequilíbrio devido à adrenalina subitamente lançada em meu sangue. Encarei os olhos inocentes de Harry, sabendo que por trás do disfarce, algo terrível aguardava o momento certo para se revelar. Um sorrisinho satisfeito fez o canto de sua boca subir quase que imperceptivelmente, o que apenas contribuiu para que minhas entranhas se revirassem. Inclinando a cabeça um pouco para o lado, parecendo divertir-se com a repentina palidez que sua aparição causara, ele enfim falou.
– Olá, (S/N).
Minha respiração se tornou irregular à medida que meu cérebro percebia que aquela situação estava realmente acontecendo. O choque se esvaiu rapidamente, levando consigo boa parte de minha firmeza, e após algumas tentativas frustradas, consegui responder.
– O que você está fazendo aqui?
Harry ergueu levemente as sobrancelhas diante de meu esforço para balbuciar aquelas palavras, esforçando-se para não gargalhar. Quando voltou a falar, seu tom não me agradou nem um pouco, cheio de segundas intenções.
– Vim falar com você, oras. O que mais eu estaria fazendo?
Respirei fundo, tentando recuperar minha autoridade, e de certa forma, consegui. Retribuí o sorrisinho medíocre com um cínico, ainda que com apenas metade da intensidade que gostaria de demonstrar.
– Eu não tenho nada pra te falar.
Sem hesitar, empurrei a porta, com toda a intenção de fechá-la sem a menor cerimônia, mas sua mão me impediu, forçando-a na direção contrária e vencendo sem muito sacrifício.
– Mas eu tenho – ele retrucou, agora me olhando de forma levemente ameaçadora – E acredite, você vai gostar de me ouvir.
– Nada do que você diga me interessa – rosnei, o pânico voltando a se instalar dentro de mim – Vá embora.
– O que é isso? – ouvi Eleanor perguntar, emergindo do corredor, e após um instante de silêncio, ela se aproximou – O que ele está fazendo aqui?
Harry soltou um risinho de escárnio, sem desviar os olhos dos meus em momento algum. Um calafrio percorreu minha espinha ao imaginar o que ele tinha em mente.
– Boa pergunta – respondi apenas, forçando minha voz a soar confiante, embora eu estivesse assustada e mal pudesse esconder isso.
– Eu não sei como você nos encontrou, mas seja lá o caminho que o trouxe até aqui, por favor, pegue-o novamente e vá embora – Eleanor disse, colocando-se entre nós e encarando-o firmemente por alguns segundos antes de recuar e fechar a porta sem mais delongas. Sua postura não o impediu de dizer uma última frase, ainda que contra a madeira que nos separava.
– Você vai se arrepender de não ter me escutado.

– Mas é claro que você não tem que escutar nada do que esse crápula tem pra te dizer!
Suspirei pesadamente ao ouvir o sermão enérgico de Eleanor, afundando meu rosto nas palmas de minhas mãos. O choque de reencontrar Harry após tudo o que havia acontecido entre nós havia me abalado consideravelmente; assim que nos vimos livres de sua presença, me arrastei até o sofá e não ousei me levantar, com os joelhos mais trêmulos que o recomendável para ficar de pé. Eleanor, em compensação, andava de um lado para o outro, gesticulando enquanto esbravejava ofensas ao visitante indesejado e especulava como ele havia descoberto seu endereço.
– Ele me seguiu até aqui – falei, dando de ombros e silenciando-a imediatamente com meu tom conclusivo – É a única possibilidade.
Eleanor ponderou minha teoria por um breve instante e assentiu, sentando-se ao meu lado.
– Mais um motivo para você não dar ouvidos a ele – ela murmurou, colocando uma mão em meu ombro – Fala sério, o cara te seguiu da sua casa até aqui. Sabe-se lá há quanto tempo ele vem te observando! Sabe-se lá o que ele pretende!
– Você está ajudando bastante, obrigada – resmunguei, massageando minhas têmporas. Dessa vez, foi Eleanor quem suspirou.
– Me desculpe, eu só... Não confio nem um pouco nele.
– E você acha que eu confio?
– Não, mas eu te conheço, e sei que você está doida pra saber o que ele tanto insiste em te contar!
Arrisquei um olhar inocente, quase ultrajado, e ao perceber que não colou, encolhi os ombros, derrotada.
– Tá, eu admito que fiquei curiosa, mas...
– (S/N) (seu sobrenome), você é inacreditável! – Eleanor me interrompeu, levantando-se e voltando a perambular pela sala com a expressão lívida – Quantos tapas ele vai ter que te dar até você entender que nada a respeito de Harry Styles presta?
Devolvi seu olhar irritado com um verdadeiramente ofendido, e ela entendeu que havia ido longe demais de imediato.
– Me desculpe, de novo. Eu só não consigo te entender. Por que o perigo te atrai tanto? Por que você sempre faz questão de estar no olho do furacão?
Franzi a testa, incrédula. Meus ouvidos não podiam acreditar no que ouviam.
– Sabe o que eu não consigo entender? – retruquei, tentando me manter calma – Como você pode pensar uma coisa dessas a meu respeito, sendo que você é uma das pessoas que mais sabe o quanto eu só quero que me deixem em paz.
Deixei que minhas palavras fizessem efeito, observando sua expressão mudar gradativamente até chegar a um aspecto de remorso, e então continuei:
– Você acompanhou tudo de perto... E justamente por isso, sabe que tenho motivos de sobra para querer saber o que Harry planeja. Eu preciso pelo menos tentar impedi-lo.
Alguns segundos de silêncio se passaram, até que ela respirou fundo e fechou os olhos.
– Desculpa. Você está absolutamente certa.
Eleanor voltou a se sentar ao meu lado no sofá, e segurou uma de minhas mãos com firmeza.
– Só me prometa uma coisa.
– Não sou muito boa com promessas.
– Prometa que não vai procurá-lo, pelo menos não neste fim de semana – ela prosseguiu, como se nem tivesse me ouvido – Seria muita idiotice da sua parte marcar um encontro com esse cara enquanto estiver sozinha na cidade.
Refleti brevemente sobre sua sugestão, e por mais que minha consciência concordasse em gênero, número e grau com sua lógica, meu instinto me dizia que aquela promessa era algo que eu não seria capaz de cumprir.
– (S/N)... – Eleanor advertiu, novamente percebendo que havia algo de errado em meu silêncio.
– Eu prometo que não vou procurá-lo, pelo menos não neste fim de semana – repeti, lançando-lhe um olhar sério – Satisfeita?
Eleanor cerrou os olhos, inspecionando minha expressão, até revirá-los e se levantar de novo.
– Só quando eu voltar de viagem e descobrir que você cumpriu sua promessa – ela respondeu, e subitamente ficou imóvel – Quer saber? Eu não vou. Tenho certeza de que Ewan vai concordar em cancelar.
– Eleanor, pelo amor de Deus, não seja ridícula – pedi, ficando de pé e me aproximando dela com determinação – Eu não vou fazer nada de errado, está bem? Confie em mim, pelo menos um pouquinho.
A campainha tocou logo depois que terminei de falar, e, assentindo resignadamente, ela se afastou para abrir a porta. Ewan a esperava do outro lado, pronto para carregar sua bagagem até o porta-malas de seu carro e dirigir até a casa dos pais. Nos despedimos rapidamente (Eleanor despejou outras centenas de recomendações sobre minha cabeça, às quais eu respondi com um abraço silencioso), e observei o carro de Ewan se afastar antes de entrar. Ao me encontrar finalmente sozinha, soltei um longo suspiro, aliviada.
Apesar de minha solidão, algo me dizia que aquele fim de semana estava longe de ser tranquilo.
Dois minutos mais tarde, a campainha voltou a tocar. Meus olhos se arregalaram ao imaginar quem eu encontraria ao abrir a porta, e minha mente já previu horrores.
– Boa tarde – o entregador de pizza sorriu, completamente alheio à minha ansiedade, e somente ao pegar a caixa que ele me estendia, me lembrei de que estava faminta. Sorri de volta, paguei o pedido e tranquei a porta, rindo de minha própria estupidez. Harry não chegaria ao ponto de ficar vigiando a casa de Eleanor até que ela saísse para me abordar sozinha.
Mal havia me acomodado no sofá, e meu celular tocou. Bastou uma rápida olhada no visor do aparelho para que minhas conclusões a respeito da sanidade mental de Harry descessem pelo ralo.
– Uau – falei ao atender a ligação, tentando manter meu tom de voz calmo embora o nervosismo tivesse voltado com força total, a ponto de fazer meu apetite desaparecer – Essa foi rápida.
– Obrigado – ele respondeu, nem um pouco modesto.
– Então é assim que você conquista suas amantes agora? – prossegui, irritada com sua prepotência, e, ao mesmo tempo, aterrorizada por ela – Você fica de tocaia perto das casas delas, espera até que elas saiam para visitar uma amiga e puf! Aparece magicamente para estragar a diversão. Devo confessar, você já teve dias melhores.
Harry soltou um risinho divertido.
– E você perde cada vez mais a noção do perigo, pelo que estou percebendo. Não tem medo de que suas respostas atravessadas façam minha paciência se esgotar?
– Se isso acontecer, o que você vai fazer? – rebati, sem permitir que ele me derrotasse, ou pelo menos disfarçando meu medo ao máximo. Talvez, se eu mantivesse minhas defesas firmes, ele se intimidasse e deixasse alguma pista sobre o que estava tramando escapar.
– Espero que não tenhamos que chegar a esse ponto, sinceramente – ele disse, parecendo despreocupado com minhas ofensivas – Não acho justo que tenhamos que incomodar Niall logo agora que ele enfim encontrou o pai que existe dentro dele, e creio que você concorda comigo.
Minha garganta se fechou à menção de Niall. Como ele sabia de tudo aquilo? Será que ele já o havia perturbado antes de recorrer a mim? Tentei manter a calma.
– O que você quer? – rosnei, sem paciência para seus joguinhos.
– Não precisa ficar nervosa, (seu sobrenome)... Só estamos conversando – Harry riu, fazendo meu estômago se revirar de raiva – E conversar é exatamente o que eu quero fazer.
– Já estamos conversando – falei, logo em seguida – Diga logo o que tiver que dizer e suma da minha vida de uma vez.
– Receio que as coisas não aconteçam tão rapidamente quanto nós dois desejamos – ele suspirou, adotando um tom sério – Essa será apenas a primeira de algumas conversas que precisaremos ter.
– Então comece a falar logo!
– Não por telefone. Prefiro que seja pessoalmente.
– E eu prefiro nunca mais ter que olhar na sua cara, mas infelizmente, nem tudo acontece como nós queremos – neguei, irritada com todo aquele mistério – Sem chance, eu não vou me encontrar com você.
– Pode escolher a hora e o lugar – Harry insistiu – Eu não pretendo machucar você. Na verdade, o que eu quero não tem nada a ver com você.
– Ótimo! Então adeus!
Ele levou alguns segundos para responder, claramente desaprovando minha resistência.
– Por favor, apenas ouça o que eu tenho a dizer. Prometo nem sequer tocar em você.
Fechei os olhos, determinada a cumprir a promessa que havia feito a Eleanor ainda há pouco, mas a urgência inesperada nas palavras de Harry, incompatível com sua postura hostil, apenas alimentou minha curiosidade. Se ele precisava tanto de minha atenção, só podia se tratar de um assunto grave, que talvez não pudesse esperar um fim de semana.
Amaldiçoando-me mentalmente e desde então pedindo desculpas à Eleanor, tomei minha decisão.
– Está bem.

Observei distraidamente o cardápio sobre a mesa, tentando conter minha ansiedade. Eu havia chegado ao café no qual marquei nosso encontro há alguns minutos, e a consciência de que, a qualquer momento, Harry surgiria em meio aos demais clientes e se sentaria à minha frente fez meu estômago revirar. Ao mesmo tempo em que eu queria terminar logo com tudo aquilo e me ver livre dele para sempre, eu rezava para que ele não chegasse nunca e se esquecesse de mim de uma vez por todas.
Infelizmente, a segunda opção se tornou impossível, pois assim que ergui meus olhos do menu para inspecionar meus arredores, me deparei com uma figura familiar se aproximando. Respirei fundo ao observá-lo se sentar diante de mim, e por mais que quisesse fugir o mais depressa possível, não evitei seu olhar.
– Obrigado por concordar em me ver.
Hesitei por um instante antes de responder. Ficar perto dele era mais difícil do que havia imaginado; tudo o que antes era carinho parecia ter se transformado em medo, implorando-me para me afastar dele sem pensar duas vezes.
– Eu não concordei. Não tive outra opção.
– Sim, você teve – Harry rebateu, sem pestanejar – Você poderia ter chamado a polícia. Você poderia ter implorado para que Eleanor ficasse. Você poderia ter ignorado minha ligação. Mas ao invés disso, você está aqui. Então não se finja de desinteressada e ouça o que eu tenho a dizer.
Engoli em seco. Meu coração batia aceleradamente, bombeando adrenalina para todos os cantos de meu corpo e me fazendo questionar se marcar aquele encontro havia sido uma boa ideia.
Definitivamente, não. Mas já estava feito.
– Estou ouvindo, não estou? – falei, erguendo as sobrancelhas por um momento. Eu já estava encrencada mesmo, por que agir como uma criancinha amedrontada? Se ele estava pensando que conseguiria me derrotar, estava muito enganado.
– O que eu tenho pra dizer é um tanto... Chocante – ele avisou, após uma breve pausa – Vai ser um pouco difícil de acreditar a princípio, mas você é uma garota esperta, tenho certeza de que não vai demorar a entender.
– Apenas diga logo – pedi, começando a ficar impaciente com todo aquele mistério. Harry assentiu, suspirando profundamente e debruçando-se sobre a mesa.
– Há alguns meses, fui alertado por meu médico a respeito de algumas alterações preocupantes em meus exames.
Meus olhos deixaram de evitar os dele, alarmados com o teor e tom de suas palavras. Minha hostilidade se dissipou quase que completamente, e minha mente imaginou as piores situações num milésimo de segundo. Notando meu assombro, Harry explicou melhor a que se referia.
– Acalme-se, eu não vou morrer. Não por enquanto. Sinto muito.
Cerrei os olhos levemente, desaprovando sua piada de mau gosto. Ainda que eu não sentisse a menor simpatia por ele, não o desejava nada de mal, apenas o queria bem longe de mim. Ele soltou um risinho sem humor algum e continuou.
– A questão é: por razões que ainda não foram esclarecidas, eu... Não posso mais ter filhos.
Seus olhos se desviaram dos meus, observando a rua pela vitrine ao lado de nossa mesa, e a mudança em seu comportamento foi tão brutal quanto repentina. Harry travou o maxilar, como se estivesse lutando para se manter calmo. Fui incapaz de sequer respirar por alguns segundos, absolutamente desnorteada diante de sua revelação. Ele parecia ter sido sempre um homem saudável... Aquilo não fazia sentido. Ou talvez eu apenas não quisesse que um destino tão triste tivesse despencado sobre sua cabeça. Levei algum tempo para processar a informação, e quando enfim pude dizer algo, minha voz saiu baixa.
– Eu sinto muito.
Harry assentiu, respirando fundo antes de prosseguir, ainda sem me encarar.
– Jenny me deixou quando soube... Ser mãe sempre fora seu grande sonho, e agora que eu não posso mais... Fazer isso por ela, acabamos nos afastando, até que ela enfim terminou tudo entre nós.
Baixei meus olhos para meu colo, incapaz de continuar observando suas feições cada vez mais tristes. Meu cérebro ainda lutava para absorver as infelizes notícias que ele compartilhava, completamente confuso diante de sua mudança radical de postura, enquanto meu coração transformava boa parte do medo que eu sentia por ele em compaixão. Por mais que tivéssemos nos machucado muito, ele foi parte significativa de minha vida, e eu não podia deixar de me sentir horrível diante de seu sofrimento. A tristeza era nítida em seu rosto, agora que a fachada arrogante e ameaçadora havia cedido, e eu mal conseguia imaginar o pesadelo em que sua vida se transformara durante os últimos meses.
– Harry... Você tem certeza disso? – murmurei, voltando a fitá-lo – Já procurou outro médico?
– Três, para ser mais exato – ele respondeu, sustentando meu olhar com resignação – Sim, eu tenho certeza.
– Não existe nenhum tratamento?
– Para quê? Ninguém sabe me dizer o que eu tenho. E enquanto não descobrirem, não há como combater isso... O que quer que isso seja.
Um breve silêncio caiu sobre nós. Observei a rua por um momento, tentando organizar meus pensamentos, e em meio ao choque, consegui recuperar parte de meu foco. – Eu não estou entendendo... Como eu posso te ajudar nisso tudo?
Harry fixou os olhos em mim, e uma determinação aos poucos preencheu suas íris, como se nem tudo estivesse perdido. Metade de mim ficou aliviada por ainda haver uma luz no fim do túnel para ele, enquanto a outra metade entrou em modo de alerta, nem um pouco confortável com toda aquela instabilidade.
– Só você pode me ajudar, (S/N) – ele disse, sério – Mas para que você entenda isso, eu vou ter que contar algo que aconteceu alguns anos atrás... E eu preciso que você escute até o fim.
Meu olhar compadecido voltou a mostrar desconfiança, e ele rapidamente reforçou seu pedido:
– Eu já menti para você uma vez, e foi essa mentira que nos separou. Não pretendo repetir a experiência. Por favor, me dê uma chance.
Ponderei seu pedido, com milhões de pensamentos colidindo em minha mente, e enfim assenti, disposta a pelo menos ouvi-lo. Harry respirou fundo outra vez, e começou a falar.
– Niall e eu nos conhecemos desde a faculdade, como você já sabe. Costumávamos ser melhores amigos naquela época... Difícil de acreditar, eu sei. Mas é verdade. Inclusive, quando conseguimos nossos primeiros empregos, ainda em lugares diferentes, bem antes de irmos para o colégio no qual você estudava, ele me chamou para passar alguns dias na casa de seus pais, enquanto seu apartamento em Londres ainda estava sendo providenciado, para comemorarmos.
Escutei com atenção, ainda sem entender como tudo aquilo me envolvia de alguma maneira, mas não o interrompi. Ouvi-lo falar sobre Niall fazia meu coração doer de formas que eu ainda desconhecia, o que eu achava ser impossível; parte disso se devia ao fato de que eu me sentia a principal culpada pelo fim da amizade dos dois.
– Eu já havia ido até lá algumas vezes, conhecia sua família, então aceitei sem cerimônias. Esperamos até todos irem dormir e assaltamos o estoque de cerveja que o pai de Niall havia comprado para o churrasco do dia seguinte. Resumindo: acabamos com tudo. Enchemos a cara. Foi um porre histórico.
Harry riu baixo ao recordar os fatos que relatava, porém seu rosto voltou a ficar sério em seguida.
– Até que Emily apareceu.
Franzi a testa. O que Emily teria a ver com...
Minha garganta fechou ao juntar as peças do quebra-cabeça. Não podia ser... Ou podia?
Me esforcei para continuar acompanhando o relato de Harry.
– Niall havia caído no sono há alguns minutos. Quer dizer, ele havia parado de responder ao que eu dizia, então presumi que tivesse adormecido. Estávamos um pouco distantes da casa, sentados na grama, para evitar que alguém nos encontrasse por acidente, mas ela nos achou. Ela se aproximou de nós em silêncio, e parou diante de mim. Apesar de estar bastante alterado, ainda era capaz de entender que sua presença ali não fazia o menor sentido, mas ela ignorou minhas perguntas... Não sei por que me surpreendi quando ela simplesmente se atirou em mim. Eu já devia saber.
Ele fez uma breve pausa, balançando negativamente a cabeça, como se aquilo soasse tão absurdo para ele quanto para mim.
– Desde a primeira vez em que estive na casa dos Horan, eu percebi que ela me olhava de um jeito diferente... Mas nunca pensei que chegaria a tanto. Ela era mais nova que eu, e prima do Niall, ou seja, território proibido. Além do mais, ela não havia despertado meu interesse, ainda que não houvesse impedimentos entre nós. Mas isso não a impediu de tentar. Assim como o irmão dela sempre foi obcecado por Niall, ela sempre foi obcecada por mim, a partir do momento em que pus os pés naquela casa.
A cada palavra, tudo parecia fazer mais sentido em minha cabeça. Ainda assim, era muito difícil de acreditar que aquilo estava realmente acontecendo. As engrenagens em minha mente giravam a todo vapor, e eu mal conseguia disfarçar minha curiosidade para saber mais. Harry continuou, parecendo envolvido demais em suas memórias para sequer notar minha reação.
– Enfim... Emily me atacou, sem dizer uma palavra sequer. De início, eu tentei impedi-la, tentei empurrá-la para longe, mas ela continuava insistindo, e a quantidade exorbitante de álcool em minhas veias não estava ajudando nem um pouco. Após algum tempo, eu não pude mais lutar... Como dizem por aí, e infelizmente, com razão, comecei a pensar com a outra cabeça, e... Bem, a próxima lembrança que tenho é a de acordar pouco depois do amanhecer em seu quarto, sem roupas, com Emily dormindo tranquilamente em meus braços, igualmente nua.
Meus olhos se arregalaram ao ouvir a confirmação de minhas suspeitas. Então ele havia dormido com Emily... Isso só podia significar que...
– Nem preciso dizer que pirei quando percebi o que havia feito – Harry prosseguiu, lançando-me um olhar cauteloso – Saí correndo de lá e me enfiei no quarto de hóspede onde deveria ter dormido, não sem antes fazê-la prometer que não contaria a ninguém. Mal consegui pregar os olhos pelo resto da manhã, imaginando como Niall reagiria quando descobrisse, se descobrisse. Para minha sorte, quando o encontrei no café da manhã, ele simplesmente comentou que nem se lembrava de como havia ido parar em sua cama na noite anterior. O resto da família parecia sequer desconfiar do que havia acontecido, o que me deixou muito mais tranquilo. Mas, como você já deve imaginar, meu sossego não durou muito.
– Ela te procurou alguns meses depois – completei, mal conseguindo conter a agitação dentro de mim.
Harry assentiu, olhando fundo em meus olhos, e por mais que uma voz ainda me alertasse sobre a possibilidade de tudo aquilo ser pura invenção, por mais mirabolante que sua história parecesse ser, a cada segundo eu me sentia mais próxima da verdade.
– Ela estava grávida... E o filho só podia ser meu.
Ele me encarou por um instante, analisando minha reação, e quando consegui me recuperar do choque de ouvir sua confissão, gaguejei:
– E então, o que aconteceu?
– Marcamos um encontro, ela me implorou por ajuda... O que mais uma garota de 19 anos faria numa situação como essa?
Engoli em seco, sem conseguir evitar me colocar no lugar de Emily devido à idade que tinha na época. A simples ideia de engravidar de um homem que mal conhecia provocou calafrios.
– Eu entrei em pânico – Harry continuou, desviando o olhar, como se estivesse envergonhado – Disse que não poderia fazer nada por ela, que não tinha a menor intenção de me casar, nem nada do tipo... Cheguei até a pedir para que ela desistisse da gravidez.
Pisquei algumas vezes, tentando evitar que lágrimas que eu não sabia explicar se acumulassem em meus olhos.
– Você pediu para que ela abortasse? – perguntei, imaginando o desespero de Emily ao ouvir tal coisa da pessoa que deveria tê-la ajudado num momento tão crítico. Ele nem sequer se importou com o que ela queria, com o que ela sentia... Apenas consigo mesmo, com seus próprios interesses.
Não pude deixar de pensar sobre o que teria feito se eu estivesse na situação em que Emily estava. A mera hipótese fez minha mente girar.
– Eu não me orgulho nem um pouco disso... Mesmo naquela época, eu já tinha consciência de quão errada era minha atitude – ele respondeu, cabisbaixo – Mas era a única saída que eu enxergava. Nenhum de nós dois estava preparado para tamanha responsabilidade, nós dois seríamos infelizes se aquela criança nascesse. Mas Emily se recusou a interromper a gravidez... Ela insistiu em criar o bebê sozinha, e ameaçou revelar a todos que eu era o pai, o que traria consequências indesejadas para mim. Sua família exigiria que eu ajudasse de alguma forma, ainda que apenas através de um nome no registro de nascimento... Eu tinha uma vida inteira pela frente, não podia deixá-la arruinar todos os meus planos.
Harry respirou fundo, sem conseguir me encarar, e eu apenas esperei que ele continuasse, completamente paralisada.
– Então eu a ameacei. Disse que se ela me envolvesse de alguma forma naquilo tudo, eu... Eu a processaria pelo que aconteceu naquela noite, e daria um jeito de tirar a criança dela. Pediria custódia na justiça, qualquer coisa, tudo o que me fosse possível para puni-la. Eu a ameacei de várias formas, de todas as que pude pensar. De alguma forma, funcionou, porque ela simplesmente foi embora sem dizer uma palavra e nunca mais me procurou. Talvez ela tenha sentido tanta raiva e tanto nojo de mim que preferiu me ver longe daquela criança. Somente ouvi a seu respeito novamente alguns meses depois, quando todos descobriram sobre a gravidez... E ela teve a brilhante ideia de incriminar o próprio primo.
Fechei os olhos, concentrando-me em respirar normalmente. Era demais para mim... Eu me recusava a acreditar que havia tanto descaso, tanto egoísmo por trás da existência de um simples garotinho, que não tinha a menor culpa de nada daquilo, e que todo aquele peso havia sido jogado sobre os ombros de um homem igualmente inocente...
– Niall... – sussurrei, sem conseguir evitar que seu nome escapasse por entre meus lábios. Ele não fazia ideia... Ele era apenas uma vítima, assim como Ben.
– Eu juro que não fazia ideia de que ela o culparia – Harry disse, mantendo seu tom grave – Mas infelizmente, ele era a saída perfeita. Quando ele me procurou, mais nervoso do que eu já o havia visto, perguntando o que havia acontecido naquela noite, eu fiquei tão chocado quanto ele ao descobrir que Emily havia transferido minha culpa para ele. No entanto, eu não tinha outra opção a não ser acatar ao seu plano. Era a minha vida, ou a dele.
Meus olhos horrorizados encontraram os dele, pesarosos, e dessa vez eu não consegui lutar contra as lágrimas que embaçavam minha visão. Minha respiração se tornou irregular, minhas mãos tremiam, meu coração batia num ritmo frenético. Eu precisava sair dali. Harry não se intimidou pela indignação em meu rosto. – Então, quando me chamaram para esclarecer o que realmente havia acontecido, eu não hesitei em dizer que sim, Niall havia dormido com Emily... E ninguém hesitou em acreditar em meu testemunho, ou no dela. Ninguém sequer desconfiou de que pudéssemos estar mentindo.
Balancei a cabeça, me recusando a acreditar que aquela história era verdade. Uma sensação de revolta, de repulsa, de ódio começava a crescer dentro de mim. Senti vontade de gritar, de pular em cima dele, de estapeá-lo, socá-lo, chutá-lo, matá-lo. Como ele havia sido capaz?
– Mas agora eu estou disposto a corrigir meu erro... Quero assumir a paternidade de Ben. E você é a única pessoa que pode me ajudar. Niall jamais me escutaria, mas ele escuta você. Apesar de não estarem mais juntos, eu sei que ele ainda acreditaria em você. Ele te ama... De verdade.
– Chega – falei, sem conseguir assimilar mais uma palavra – Eu preciso ir embora daqui.
Trêmula, me levantei e caminhei em passos rápidos até a saída, quase esbarrando num homem que passava na calçada. Eu estava tão chocada, tão ofendida por toda aquela sujeira que mal conseguia enxergar o que acontecia ao meu redor, o que apenas intensificou meu susto ao sentir os dedos de Harry envolverem meu pulso e me puxarem em sua direção.
– Por favor, diga que vai me ajudar – ele murmurou, numa última tentativa de me convencer.
– Me larga – exclamei, desvencilhando-me dele o mais rápido que pude e dando-lhe as costas. Porém, ele foi mais rápido e repetiu seu gesto.
– Se você não me ajudar por bem... – ele rosnou, voltando a usar seu tom hostil – Vai me ajudar por mal. E acredite, você não quer que eu te force a cooperar comigo.
Encarei seus olhos ameaçadores por um instante, até que ele me soltou e, com um risinho, se afastou, não sem antes dar um último aviso:
– A gente se vê.



CONTINUA...

3 comentários:

  1. Oh My Josh!!!.O harry e o pai do Ben?!Suspeitava disso.Continuaaaaa logo por favor!

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  2. CONTINUAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA PELA AMOR DE DEUS, ESTÁ PERFEITAAA A FIC *---------------*
    bjss Liamda ><
    ps: Leitora nova na área tuts tuts tuntun tuts tuts ehueheuehue

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