sábado, 29 de junho de 2013

FanFic - Biology Capítulo 21





- Eu não acredito! É você mesmo? Já faz tanto tempo que não te vejo que já estava esquecendo seu rosto!
Respirei fundo ao ver Eleanor estender os braços em minha direção, com um sorriso divertido, e não pude deixar de rir, mesmo que pouco, de sua recepção exagerada. Ao vê-la depois de dois dias tão turbulentos e completamente distantes de minha realidade, me dei conta de que minha vida tinha, de certa forma, voltado ao normal: eu tinha uma mãe que me amava, uma melhor amiga que me apoiava em praticamente tudo, e um namorado simplesmente fascinado por mim. A cada passo meu que ecoava pelo frio pátio do colégio, uma simples pergunta se intensificava em minha mente, tornando-se quase impossível de ser ignorada. Mas não de ser respondida.
O que mais eu poderia querer?
- Que saudade – foi tudo que consegui dizer quando cheguei perto dela, abraçando-a com força. A sensação de poder contar com alguém que provavelmente não me mataria se descobrisse meus segredos, e inclusive já sabia de uma boa parte deles, era extremamente revigorante.
- Hm, não gostei desse seu tom de voz – ela murmurou, ainda me abraçando, e eu sorri fraco, comprovando minha teoria de que estava pra nascer uma pessoa que me conhecesse tão bem como ela – Acho bom a senhorita me contar tudinho, ouviu? E a propósito, cadê o Hazza?
- Ele não vem hoje – respondi, e ela desfez o abraço pra poder me ver, com a expressão confusa – Está no hospital.
Eleanor arregalou os olhos, assustada, e meu rosto adotou traços pesarosos.
- (S/N) (seu sobrenome)... O que raios você fez com ele? – ela sussurrou, e se eu não estivesse tão esquisita, teria rolado de rir. Mas apenas sorri fraco novamente e balancei a cabeça em negação.
- Calma, não é nada do que você tá pensando – expliquei, e ela colocou a mão sobre o peito, um pouco mais aliviada – Ele tomou sol demais e acho que está com um princípio de insolação. Tive que insistir muito com ele hoje de manhã pra que ele concordasse em ir ao médico e ignorasse o fato de que tinha que dar aulas.
Sim, eu finalmente o tinha convencido a ir ao hospital, depois de um certo esforço. Antes de ir para a escola, ajudei Hazza a vestir uma blusa e uma bermuda, e o coloquei dentro de um táxi, já que dirigir seria um pouco difícil pra ele. Como não podia acompanhá-lo, por medo de sermos flagrados juntos, pedi ao motorista do táxi que o ajudasse a se locomover e o esperasse durante seu atendimento (óbvio que tive que gastar um pouco de minha mesada nessa transação, mas não deixei que Hazza visse essa parte), e pedi também para que o sempre simpático porteiro, Andy, o ajudasse a subir até seu apartamento na volta. Mesmo sabendo que tudo ficaria bem, um certo aperto em meu peito por não poder estar com ele insistia em me deixar deprimida. Pelo menos fiz Hazza prometer que me ligaria assim que chegasse em casa, o que de certa forma me tranqüilizava um pouco.
- Coitadinho – Eleanor lamentou, fazendo cara de pena, e eu assenti – Mas não se preocupe, vai ver que ele melhorará rapidinho. E você, não tomou sol não? Tá parecendo uma zumbi, credo.
- Tomei sim, tá legal? Você sabe que meu bronzeado não dura, e quando dura, é pra ficar descascando logo depois – resmunguei ofendida, cruzando meus braços e fazendo Eleanor rir – Então eu prefiro que ele não dure mesmo.
- Sei sim, você é toda problemática – ela assentiu, ainda rindo um pouco, mas logo sua expressão se tornou séria e sua voz diminuiu de volume – Ih, falando em problema...
Franzi a testa em sinal de dúvida, mas assim que percebi a fixação do olhar de Eleanor em direção a algo atrás de mim, já soube do que se tratava. Nem me dei ao trabalho de virar para saber quem havia acabado de chegar. Três segundos depois, Niall passou bem ao nosso lado, e seu perfume adentrou minhas narinas, assim como meus olhos se fixaram inconscientemente em seus cabelos bagunçados, sua nuca e...
Puta merda, Horan. Precisava ter vindo de preto? Justo de preto? Por que ele tinha que jogar tão na minha cara que tinha um corpo simplesmente perfeito? Argh, vai pro inferno, demônio.
- Problema? – gaguejei, desviando meus olhos involuntariamente grudados ao corpo de Niall (mais especificamente, à sua bunda ressaltada pela calça um pouco justa) rapidamente e voltando a olhá-la com uma pontada de frustração e ressentimento – Não vejo problema nenhum.
Eleanor ergueu uma sobrancelha, cética, e minha firmeza vacilou um pouco.
- Desde quando você atingiu esse ponto de autocontrole? – ela perguntou, e eu apenas revirei os olhos, fingindo desinteresse.
- Não é autocontrole – respondi, balançando negativamente a cabeça e tomando todos os cuidados necessários para não olhar para Niall, por mais que a porta da sala dos professores ficasse na mesma direção de Eleanor e ele estivesse passando por ali naquele exato momento – É determinação. Eu amo Hazza, e ele também me ama... Por que eu precisaria de mais alguém?
- Não sei – ela deu de ombros, abandonando a expressão desconfiada e mudando para uma distraída – Sexo, talvez.
- Eleanor! – exclamei, empurrando-a de leve, e um sorrisinho safado surgiu em seu rosto, assim como minhas bochechas devem ter corado.
- Ah, (S/N), fala sério... Sexo é ótimo e você sabe muito bem disso – ela riu baixo, apontando pra mim e fazendo cara de sabida – Não tente bancar a santinha, porque comigo não cola.
Apesar de desaprovar seu comentário desnecessário (e seu alto teor de fatos reais), não consegui responder nada. Minha concentração se esvaiu novamente e meus olhos foram cruelmente arrancados de Eleanor e conectados a Niall, que agora fazia o caminho inverso ao anterior para entrar no prédio onde ficavam as salas. Conforme se aproximava da entrada do prédio, que por sinal era onde eu e Eleanor estávamos paradas, sua expressão fechada se tornava cada vez mais nítida, e, infelizmente, mais bonita. Não que eu ligasse para isso, claro.
Respirei fundo, afastando todo e qualquer pensamento indesejado de minha mente, e finalmente consegui rebater a brincadeira idiota de Eleanor, alto o suficiente para que Niall me ouvisse ao passar bem atrás dela.
– Posso até não ser santa... Mas não sou um mero brinquedo.
Assim que as últimas palavras saíram de minha boca, Niall parou de andar, logo atrás de Eleanor. Meu olhar ávido acompanhou seu rosto enquanto ele o virava na minha direção, e logo os aros azuis de seus olhos se tornaram plenamente visíveis. Sua testa estava franzida sobre eles, e seus lábios estavam firmemente fechados, formando uma linha reta e demonstrando sua seriedade. Não desviei meu olhar do dele; pelo contrário, intensifiquei nossa conexão visual até que ele se desse conta de que estava me olhando por tempo demais e passasse a encarar o chão, voltando a andar logo em seguida. Eleanor, confusa demais para entender alguma coisa, apenas olhou para trás tentando acompanhar meu olhar ainda fixo, e ao encontrar a porta do prédio já vazia, voltou a me encarar, desconfiada.
- Se antes eu já estava achando que precisava saber de algo, agora eu tenho certeza absoluta disso – ela murmurou, me analisando minuciosamente, e eu não conseguia tirar meus olhos do local onde antes Niall me encarava – Mas seja lá o que esse algo for, tenho a impressão de que não é nada pacífico.
- Alguém já te disse que seu poder de dedução é simplesmente incrível? - sorri de um jeito maldoso, satisfeita por ter conseguido alfinetar o idiota do Horan, e voltei a olhar para Eleanor, que ainda me fitava daquele jeito desconfiado. De pacífica, aquela história não tinha absolutamente nada. Aliás, tudo que envolvesse Niall Horan em minha vida jamais seria pacífico.
E tal constatação me fez concluir, agora com certeza, que minha vida havia realmente voltado ao normal.

Metade da segunda aula. Física. Uma professora de 45 anos toda esticada pelas sucessivas cirurgias plásticas e com menos roupa do que eu, no maior estilo brotinho, tentando enfiar na cabeça de seus alunos ainda sonolentos algumas fórmulas sobre elétrica. Duas palavras: não, obrigada.
Eu rabiscava incessantemente em meu caderno, imaginando que espírito havia se apossado de minha mão para mantê-la tão inquieta. Primeiro, fiz cubos deformados devido à minha incapacidade de desenhar algo que prestasse. Depois de uns vinte desses nas bordas da folha, acabei desistindo de formas geométricas e comecei a esboçar um olho gigante no centro. Enquanto arrumava alguns detalhes de seu contorno, tentando ignorar a voz irritante da professora esbravejando as fórmulas na frente da classe, me lembrei do dia em que li num site sobre o significado dos rabiscos que as pessoas fazem quando estão distraídas, e que podem às vezes transmitir seus sentimentos. Olhos e cubos, pelo que eu me lembrava, representavam uma situação na qual a pessoa está frente a frente com uma decisão importante ou um fato decisivo, e não quer ou tem medo de encará-la. Revirei os olhos pela futilidade desse tipo de análise, e repeti mentalmente as mesmas duas palavras: não, obrigada.
Até que meu olho estava indo bem, mesmo com o fato de minha habilidade artística ser uma merda, mas foi inevitável não pular na cadeira e tremer meu traço quando o celular vibrou dentro do bolso da calça. Só podia ser Hazza. Aleluia.
Pedi à professora para ir ao banheiro, e ela mal me olhou, compenetrada demais em supostamente ensinar os poucos alunos interessados a aplicar suas fórmulas ridículas de tão fáceis. Saí quase que correndo da sala, e assim que fechei a porta atrás de mim, atendi à chamada, sem nem olhar para o número.
- (Seu apelido)? – a voz de Hazza emanou do aparelho sem que eu nem precisasse dizer nada, e um sorriso aliviado surgiu em meu rosto.
- Oi, amor – respondi, caminhando lentamente em direção ao banheiro – Como você tá? Já voltou do hospital? Foi tudo bem? O que te disseram lá?
- Calma, uma coisa de cada vez – ele riu, e eu não pude deixar de imitá-lo de um jeito nervoso, só então notando minhas perguntas afobadas – Eu estou bem, já estou em casa, foi tudo bem por lá, mas... Eu tenho uma notícia não muito agradável.
- Desde que você não fique desse jeito pra sempre, ou por muito tempo, não vejo nada que possa ser tão ruim – adiantei ansiosamente, desistindo de chegar até o banheiro e me apoiando na parede ao lado de uma sala de aula qualquer.
- Segundo o médico, eu vou voltar ao normal em breve, não se preocupe com isso – Hazza disse, com a voz levemente divertida, e o alívio cresceu ainda mais dentro de mim – O problema é que eu vou precisar de cinco dias de descanso para isso. E quando eu digo descanso, estou dizendo que não poderei ir à escola. Ou seja... Não vou poder te ver.
Meus olhos, que observavam o corredor deserto, despencaram até encontrar meus próprios pés após aquela notícia. Cinco dias sem Hazza, ainda mais agora, que eu precisava dele como nunca para me manter firme em minha decisão e não me deixar abater, seriam quase uma eternidade.
Mas tudo bem. Eu era forte o suficiente para agüentar, certo?
Respirei fundo, me preparando para dizer que não me importava e que havia grandes chances de sobrevivência para mim, mas antes que eu pudesse abrir a boca, a porta da sala da qual eu estava praticamente ao lado se abriu, e o professor Horan irrompeu dela, quase trombando comigo ao fazê-lo. Seu jaleco absurdamente branco, em contraste com sua roupa preta, esvoaçou escandalosamente devido ao seu movimento brusco para frear e não tocar em mim, ao contrário de seus olhos, que se depararam com os meus carregados de uma surpresa assustada. Senti que fui atingida por uma nuvem de seu perfume assim que ele freou bem perto de mim, e para o meu próprio bem, tentei não respirá-lo. Em vão, claro, porque quando finalmente consegui bloquear minhas vias respiratórias, já havia inspirado o suficiente para que aquele cheiro viciante dominasse meus pulmões por completo. Como eu era idiota.
Niall não disse nada (e eu não esperava que ele o fizesse, ainda mais vendo que eu estava falando ao celular), e apenas continuou bruscamente seu caminho até as escadas, descendo-as velozmente e me deixando desnorteada. Eu tinha um certo problema com proximidade exagerada, em especial quando a pessoa desconfortavelmente próxima era ele; era como se eu fosse um aparelho eletrônico que sofresse interferência diante de seu corpo e ficasse todo desregulado.
- Eu sei que a notícia não é nada boa, mas também não precisa ficar nesse silêncio fúnebre – Hazza murmurou, com um certo humor na voz, e eu acordei de meus devaneios. Nota mental: dar um jeito nessas minhas viagens na maionese pós-Horan.
- Ah, não, eu... Eu vou ficar bem, não se preocupe – falei, tentando não parecer tão afetada pela breve presença de Niall – Descanse bastante e fique bem logo, é só o que eu quero que você faça.
- Pode deixar, eu vou fazer – ele sorriu, ainda falando um pouco baixo, e diminuiu ainda mais o volume de sua voz ao continuar – Vou morrer de saudades.
Fechei os olhos e mordi meu lábio inferior, sentindo meu coração finalmente dar seus primeiros sinais de normalidade após o momento relâmpago de adrenalina, e respirei fundo antes de respondê-lo, sendo tão sincera com ele quanto eu não me lembrava de ter sido por muitas vezes.
- Eu também.
- Eu amo você – Hazza sussurrou, e mesmo mal conseguindo ouvir sua voz, soube que ele estava sorrindo ao falar.
- Volte logo... – cochichei, abrindo os olhos novamente, e soube que não era preciso repetir suas palavras para que ele entendesse que eu sentia o mesmo. Hazza desligou logo em seguida, e mesmo após o fim da chamada, mantive meu celular próximo de minha orelha, com duas últimas palavras presas em minha garganta. Mesmo sabendo que ninguém as ouviria, minha alma precisava que eu as dissesse, consumida por toda a agonia que eu guardava dentro de mim, e assim eu o fiz.
- Por favor.

- Baile de primavera?
Empaquei diante do grande e colorido cartaz afixado numa das paredes do pátio, após ler as três palavras que apareciam em seu título.
- Nossa, só agora você reparou nisso? – Eleanor perguntou, surpresa com meu choque – Está aí há umas duas semanas, pelo menos.
Impossível. Essa era a palavra que ecoava em minha cabeça, como uma sirene de ambulância. Era absolutamente impossível que aquele cartaz estivesse ali há duas semanas. Como eu poderia ter passado por ele durante quase dez dias e não o ter visto? Quer dizer... Uma coisa tão divulgada como um baile de primavera deveria ter saltado aos meus olhos, certo? Olhei em volta, caçando outros cartazes, e não precisei ir muito longe para encontrá-los. E não foram poucos. OK, talvez eu tenha andado preocupada demais com conflitos internos para reparar neles. Eu nunca reparo em nada que acontece naquela escola mesmo, a não ser que envolva pessoas de meu interesse.
- Um baile de primavera? – repeti, ainda incrédula, e só então meus olhos se dirigiram à data do evento – Nesse sábado?
– Isso mesmo, (S/N), um baile de primavera – Eleanor bufou, revirando os olhos e me puxando pela mão até o lugar onde costumávamos ficar durante todos os intervalos - Para pessoas sociáveis interagirem e se divertirem, o que não costuma se aplicar a nós, pelo menos não no meio dessa gente.
- Se ser sociável é ser fútil que nem a Smithers e as outras meninas dessa escola, nunca quero deixar de ser anti-social – falei, e ela concordou com um aceno de cabeça – Na verdade, nem sei por que fiquei tão afetada com esse baile... Não vou participar mesmo.
- Nem eu – Eleanor deu de ombros – Você podia dormir lá em casa, né? A gente comprava barras de chocolate e passava a noite falando de homens bonitos... O que acha?
- Eu topo, mas prefiro que seja lá em casa – assenti, me lembrando de minha mãe e da saudadezinha que eu já estava sentindo dela, assim como de meu quarto, meu reino sagrado, meu santuário imaculado e todos os outros nomes religiosos que você pode imaginar – Já passei muitas noites fora de casa ultimamente.
- Tenho certeza de que nossa noite vai ser muito mais divertida do que a desse povo fútil – ela disse, convicta, e eu ri de sua expressão convencida – Falando em futilidade, acabei de me lembrar de que preciso pegar o livro de geografia para a próxima aula... Vem comigo até meu armário?
- Claro – respondi, rindo novamente de seu comentário sobre geografia e futilidade, opinião com a qual eu concordava plenamente, levando-se em consideração que nosso professor era ninguém mais, ninguém menos que Christopher Hammings.
Chegamos rapidamente ao armário de Eleanor, e assim que ela o abriu, um pedaço de papel caiu de dentro dele. Ela franziu a testa, desconfiada, e pegou o papel do chão, lendo seu conteúdo logo em seguida. Seus olhos se arregalaram após ler o curto texto escrito no bilhete, e vendo que ela estava paralisada diante do que lera, arranquei o papel de sua mão, curiosa.

Estou em Londres, e doente de saudades de você. Use o vestido mais bonito que tiver, porque na noite de sábado, você vai ser minha. E se já tiver um par, aconselho que dispense o idiota, a menos que ele queira perder alguns dentes. E.

Não consegui dizer nada; apenas olhei para Eleanor, que se mantinha imóvel, tão em êxtase quanto eu. Ambas sabíamos muito bem quem havia escrito aquele bilhete, mas a surpresa era grande demais para termos qualquer tipo de reação.
- (S/N)... – ela murmurou após alguns segundos de silêncio, me encarando com um misto de medo, surpresa e insegurança no olhar – Eu conheço essa letra como a palma de minha mão... É a letra do...
- Ewan! – completei, perplexa, percebendo que ela havia deixado a frase inacabada.
Ewan era o ex-namorado de Eleanor, que havia se mudado para Oxford no final do ano anterior. Apesar de ter sido ela quem decidira terminar com o namoro ao invés de tentar um relacionamento à distância, eu sempre soube que Eleanor ainda cultivava sentimentos em relação a ele, e que fizera aquilo para evitar os aborrecimentos que um namoro distante pode trazer. Ewan, mesmo sendo totalmente apaixonado por Eleanor, o que ela correspondia à altura, percebeu que aquilo seria o melhor para os dois e se contentou em apoiar sua decisão, o que só aumentava minha vontade de vê-los juntos outra vez. Eles eram simplesmente o casal mais fofo que podia existir na face da Terra, fato.
Um sorriso empolgado surgiu em meu rosto. Já havia passado da hora de algo revigorante animar a vida de Eleanor, e nada poderia ser melhor do que uma visita de Ewan. E, pelas claras intenções dele, ele não estava vindo para brincadeira; ela parecia saber disso muito melhor do que eu, pelo jeito que suas mãos começaram a tremer.
- E agora, Eleanor? – perguntei, observando-a pegar o bilhete de minhas mãos e relê-lo com ansiedade – O que você vai fazer?
- Eu não faço a menor idéia! – ela quase exclamou, nervosa, e por um momento eu pensei que seus olhos fossem saltar de suas órbitas – Você acha que... Que eu devo ir ao baile com ele?
- Lógico que deve! – concordei, assentindo vigorosamente, e ela ergueu os olhos do papel para mim, aflita – Seja lá como ele conseguiu colocar esse bilhete dentro do seu armário, duas coisas são certas: ele está aqui, e obviamente espera uma resposta sua! Então, pelo amor de Deus, ligue pra ele o mais rápido possível e diga que sim!
- Ele está aqui, (S/N)... Ele está aqui, em Londres, perto de mim outra vez – ela murmurou, respirando fundo e pressionando o papel contra o peito, e eu pude ver que seus olhos estavam ficando ligeiramente úmidos – Você sabe o quanto ele me faz falta.
- Aawn! – sorri, abraçando-a com força e sem conseguir disfarçar minha empolgação – Vai dar tudo certo, você vai ver.
- Tomara – ouvi Eleanor suspirar, retribuindo meu abraço, e logo em seguida, o sinal tocou, anunciando o término do intervalo.
Ainda assimilando a surpresa de Ewan, voltamos às nossas classes, com sorrisos de orelha a orelha estampados em nossos rostos. E durante o resto das aulas, me peguei imaginando o reencontro dos dois, e surpreendentemente me esquecendo de meus próprios problemas. Era impossível não sorrir ao visualizar Eleanor e Ewan juntos novamente, e tal visão me transmitia uma certa dose de tranqüilidade, anulando um pouco a tensão que me rondava. De vez em quando, coisas boas ainda me aconteciam, mesmo que indiretamente, o que me fez pensar que talvez nem tudo estivesse tão perdido assim para mim.
Na hora da saída, a mãe de Eleanor já a esperava, e só tivemos tempo de nos despedir com sorrisos eufóricos no rosto. Já minha mãe, pontual como sempre, ainda não havia dado sinal de vida, e eu me conformei em esperá-la, sentada na mureta em frente ao colégio. Alguns minutos depois, minha visão da rua foi bloqueada por uma coisa loira e artificial, que eu nem precisei examinar muito para reconhecer: Kelly Smithers. Ignorei o fato de que ela tinha outros milhares de lugares para ficar, mas tinha escolhido justo o ponto que me impedia de ver os carros que chegavam, e apenas suspirei, decidida a não me deixar irritar por razões bobas. Se eu continuasse daquele jeito, acabaria ficando com rugas, e Kelly com certeza não era importante o suficiente para ser um dos motivos delas.
Ou talvez fosse.
- Ei, Niall! – ouvi sua voz de atriz pornô chamar, e instintivamente meus olhos se fixaram nela, que acenava em direção à saída do colégio – Vem cá!
Não demorou muito e Niall apareceu, parando bem em frente a ela e a uma distância relativamente pequena de mim, o que me permitia ouvir toda a conversa.
- Sim, senhora – ele disse, sorrindo de lado, e a mesma raiva que senti no dia anterior voltou a borbulhar em minhas entranhas, fazendo com que minhas mãos involuntariamente se fechassem em punhos.
- Já tem par pro baile de sábado? – ela murmurou, encarando-o com seus felinos olhos verdes e enrolando uma mecha de seu cabelo loiro oxigenado no dedo indicador.
Me recusei a continuar observando aquela cena deplorável praticamente no meio da rua. Sinceramente, de onde aquela biscate havia saído? De um filme pornô desses do tipo colegial? Sério, que ódio que eu sentia daquela vaca. Não que eu ligasse pro homem que ela estava seduzindo, até parece que eu tinha algum tipo de ciúmes do Horan, mas era repugnante ter que assistir às suas técnicas sujas e saber que, mesmo sendo tão exageradamente promíscua, ela costumava conseguir o que queria.
- Já – ele respondeu, sem se desfazer de seu sorriso, e ao ver que Kelly havia adotado uma expressão chateada, completou sua frase – Você.
Ela ergueu as sobrancelhas por um momento, surpresa com a brincadeira dele, e logo em seguida voltou a sorrir daquele jeito nojento. Alguém tem uma metralhadora pra me emprestar?
- Quem disse que eu quero ir com você? – ela perguntou, cerrando os olhos de um jeito supostamente provocativo, mas que do meu ponto de vista, só a tornou ainda mais depravada.
- Sua testa – Niall falou, e pode ter sido só impressão minha, mas parecia haver alguns traços de tédio em seu rosto – Está escrito nela.
Foi impossível controlar o riso depois daquele fora simplesmente épico, mas eu me esforcei em engolir minhas gargalhadas, processo que, apesar de exigir muito autocontrole, felizmente não chamou muito a atenção das pessoas. Se havia algo que me fazia rir, era ver Kelly levando algum fora; funcionava melhor que qualquer filme de comédia.
- Tem certeza de que é só isso que está escrito? – ela murmurou, lançando olhares discretos para os lados, certificando-se de que quem estava por perto não a ouviria (o que não adiantou nada, porque eu li seus lábios) – Quer chegar mais perto para ler o resto?
Meu queixo caiu até bater no chão com aquele absurdo. Eu realmente viveria muito melhor sem ter ouvido uma cantada tão barata como aquela. Era muita sem-vergonhice mesmo, francamente. Pensando melhor, matá-la com uma metralhadora seria delicadeza demais... Atirá-la num tanque de ácido sulfúrico e observar o efeito desse ato me parecia uma idéia muito mais atraente.
- Guarde seu lixo sonoro para o fim de semana, Smithers – Niall sorriu, e apesar de suas palavras rudes, vi que ele a encarava com um olhar que eu (infelizmente) conhecia bem: um olhar cheio de luxúria, que tirava o fôlego de qualquer mulher sem esforço algum. E que agora, só conseguia me causar nojo e ódio. Tá, e daí que não era só isso? O resto não interessa.
Uma buzina soou de leve na rua, e logo depois, ouvi uma voz familiar chamar meu nome. Subitamente alarmada, olhei na direção do som, desviando do bloqueio formado por Kelly, e vi o carro de minha mãe estacionado. Aliviada por finalmente poder ir embora dali, caminhei até o Land Rover, sentindo o olhar de Niall pesar sobre minhas costas durante o trajeto. Ao contrário dele, que grudou seus olhos em mim desde que ouviu minha mãe me chamar, não ousei olhar em sua direção, sentindo meu estômago revirar de nojo devido à ceninha patética entre ele e Kelly. Se era assim que ele queria se comportar, fazendo questão de jogar na minha cara que tinha várias outras garotas para colocar no meu lugar, ele que agüentasse as conseqüências de seus atos.
Afinal de contas, eu não estava dando a mínima para isso. Certo?



CONTINUA...

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