segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Imagine Hot Duplo - Zayn e Harry




Você e seu amigos combinaram de se encontrar na casa do Harry, um de seus melhores amigos, para uma maratona de filmes. Mas 3 de seus amigos desmarcaram, dizendo que tinham compromisso e não poderiam ir.

Mas mesmo assim você foi.

Você era o tipo de garota que se dava melhor com garotos, pois achava eles mais verdadeiros, mais sinceros, e sempre se deu bem com eles.

Chegando na casa do Harry, você o cumprimenta, e vê que Zayn também está ali.

- Os outros não vão vir. - Harry disse com uma cara de decepcionado.

- Pois é, to sabendo… Mas na próxima eles vem. - você sorri para ele.

- E então, sua mãe ta em casa Harry? - Zayn perguntou sério.

- Sim, ta tomando chá com a vizinha.

- Ah, vou lá cumprimentar ela então…

- Não! Deixa ela lá e vamos para o meu quarto. - Harry te interrompeu.

- Ta, mas… Ok, depois eu do um oi pra ela então.

Os dois sorriram e vocês foram para o quarto do Harry.

Já no quarto dele, Harry se senta na cama e começa olhar para você de uma forma diferente.

- Eu tive uma ideia melhor. - ele disse sorrindo maliciosamente.

- Envolve filmes? - você perguntou.

- Sim, mas não esses chatos aí. Podemos fazer um. - ele sorri cheio de malicia novamente.

- O que está se passando nessa sua cabeça de vento hein Harry? - você pergunta um pouco preocupada.

- Algo muito irado. - ele disse ainda com cara de malicioso.

- Pela sua cara é putaria. - disse Zayn.

- Relaxa Zayn, a gente vai se divertir. - ele disse dando um tapinha no ombro de Zayn.

Harry foi até uma comoda e pegou uma câmera que estava em cima dela.

- Harry, o que você esta pensando em fazer com isso? - você perguntou assustada.

Zayn apenas riu.

- Sério mesmo Harry? - ele disse ainda rindo.

- O que Zayn, é sério o que? - você perguntou ainda assustada.

- Vamos fazer o nosso filme. - Harry riu.

- O que? Tipo, como? Ãn? - você não estava entendendo o que eles queriam com aquilo.

- Nós três, vai ser legal, vamos lá gente. Fazer uma coisa diferente as vezes é bom. - ele soltou mais um sorriso malicioso.

- Não vou transar com você enquanto o Zayn filma, ou vice e versa. Que seja, esquece! - você cruzou os braços.

- Nada disso. Zayn não vai filmar, e nem eu. - ele disse com o mesmo sorriso. - Nós três vamos nos divertir. Juntos.

Você arregalou os olhos.

- Nada disso! Eu não sou puta Harry. - você disse enfurecida.

- Eu não to dizendo que você é puta.

- Mas é o que essa brincadeirinha sua aí diz. E isso é loucura, somos amigos.

Zayn ficava quieto, e só ria.

- Zayn diga alguma coisa, pelo amor de Deus. Tira essa ideia da cabeça do Harry.

Zayn te olhou com um olhar quente, o que fez com que seu corpo se arrepiasse todo.

- Não Zayn, para com isso, não me olhe assim. - você reclamava.

- É uma boa ideia. - disse Zayn.

- Pera aí, essa era a intensão? Quer dizer que se os 4 estivessem aqui, eu teria que trepar com os 5? Vocês são loucos. - você se virou para ir embora, mas Zayn te impediu.

Ele trancou a porta e tirou a chave.

- Você pode ir embora, se convencer a gente de que não quer isso. - Harry disse arrumando a câmera.

Você estava com as costas encostada na porta, e Zayn estava impedindo sua passagem, com os braços um de cada lado de sua cabeça, olhando fixamente para você.

Ele passou a língua em seus lábios e então lhe deu um beijo calmo, só encostando os lábios de leve nos seus.

Você ficou sem ar por um instante.

Harry terminou de ajeitar a cama e se aproximou de vocês dois. Então Zayn saiu da sua frente e os dois te conduziram até a cama.

No fundo você sabia que queria aquilo, mas tinha medo.

- Vocês… Meu Deus.  você ainda estava assustada.

- Só responde uma coisa. - disse Harry.

- O que? - você perguntou.

- Você quer ou não? - ele perguntou uma única vez.

Zayn estava ao lado dele, a encarando com aquele olhar devorador e novamente você se arrepiou, só com a ideia de ter os dois a sua disposição naquele instante.

- Não vou dizer que isso não é tentador, porque é… Mas é loucura…

- Então você quer. - Harry te interrompeu.

- Sim, eu quero porra. Mas sem câmeras.

- Ah não, aí perde toda a diversão.

- E se alguém ver essa porra? Sua mãe, sei lá, alguém.

- Ninguém vai ver, relaxa, eu vou esconder.

- Não, esquece!

- Tem certeza? - ele perguntou de olhando bem sério.

- Não. - você sabia que queria, mesmo filmando, era algo novo e muito excitante.

- Então você topa? - Harry perguntou sorrindo.

- Se alguém ver isso, eu capo vocês dois.

Zayn soltou um sorriso gostoso e Harry apenas se sentou ao seu lado.

- Então vamos começar tirando sua roupa…

Aos poucos ele foi tirando sua roupa, sedutoramente, enquanto Zayn apenas olhava.

Quando você já estava totalmente despida, Zayn começou a tirar a roupa dele, bem lentamente. Ficando apenas de cueca. Uma boxer preta.

Harry também se despiu, rapidamente.

- Vamos fazer um joguinho rápido. - ele disse agarrando sua cintura.

Você estava sentada na cama, e Harry a colocou ajoelhada no chão enquanto ele se sentava.

- Depois você vai ser recompensada, fica tranquila. - ele disse mordendo o lábio inferior.

Zayn tirou a cueca e parou do seu lado, ele começou a massagear seu membro enquanto você agarrava o do Harry, que já estava duro.

Você o masturbou um pouco e depois o colocou na boca, começando lentamente, chupando devagar, e depois mais forte.

Mas você não ficou muito ali, logo o tirou da boca e subiu na cama. Ficando de quatro.

Zayn ficou na sua frente, ajoelhado, e Harry se posicionou atras de você.

Sua boca atacou a ereção de Zayn enquanto Harry te massageava com os dedos.

Zayn gemia na sua frente e Harry finalmente meteu em você.

Um momento exclusivo que você nunca teria novamente, então era bom aproveitar ao máximo.

Sua boca trabalhava no membro de Zayn no mesmo ritmo que Harry metia em você e tirava. Devagar no começo. Aumentando a velocidade aos poucos, e a força também.

Seu corpo já estava implorando por descanso, mas os dois anda resolveram trocar de lugar.

Agora você chupava o Harry e Zayn te penetrava por trás.

Seus gemidos saíram mais altos, assim como os do Harry e do Zayn.

Você chupava com força toda a ereção de Harry, cada parte, o enfiava na boca e o tirava, e Zayn metia bem fundo em você.

Harry foi o primeiro a gozar, na sua boca. Você engoliu rapidamente aquele líquido e logo gozou também, gemendo alto.

Zayn levou mais um tempo até finalmente atingir o orgasmo, e quando atingiu, conseguiu meter em você mais uma vez, para finalizar.

Os três se jogaram na cama e ficaram descansando. Até a mãe de Harry bater na porta.

- Filho, algum problema aí?

Os três pularam da cama em um movimento rápido e vestiram suas roupas.

- Merda. Caralho. Porra! Se vestem rápido, rápido. - Harry quase caiu enquanto vestia suas roupas.

Quando os três estavam vestidos ele abriu a porta.

- Aconteceu alguma coisa? - Anne perguntou preocupada. - Você estão com uma cara.

- Oi… - você disse envergonhada, e foi dar um abraço nela.

- Oi querida, o que houve? Você esta toda vermelha e suada. - ela disse acariciando suas bochechas.

- Nada, a gente tava assistindo filmes, aqui ta calor… Por isso.

- Harry… O que a minha câmera ta fazendo aqui? - ela perguntou indo em direção da câmera.

- Merda! - ele falou alto. - Não mãe, pera, tem um trabalho meu aqui… De escola. - ele disse pegando a câmera e a desligando.

Seu coração pulou dentro de seu corpo, você estava apavorada.

- Depois eu te entrego ela. - ele disse guardando a câmera na mochila.

- Ok, vocês querem alguma coisa? Pra beber? Comer?

- Não, obrigada. - você disse ainda envergonhada.

- Não, valeu. - disse Zayn.

- Depois a gente vai la comer alguma coisa mãe.

- Ok, então eu vou dar uma saidinha, qualquer coisa me liga. - ela disse sorrindo.

- Ok mãe, até.

Harry fechou a porta assim que Anne saiu.

- Merda Harry! Apaga essa porra. - você disse apavorada.

- Ok, ok, mas primeiro vamos ver. - ele disse sorrindo.

Morrendo de vergonha vocês viram o vídeo. Você não acreditou no que tinha acabado de fazer. Estava mais do que com vergonha, nunca mais iria fazer uma coisa daquelas, mesmo tendo sido bom, eles eram seus amigos, isso não era coisa que amigos normais faziam. Aquilo seria um segredo que você guardaria para a vida inteira.


Fim...

Retirado de: http://1d-imagines-hot.tumblr.com/tagged/imagine

FanFic - Biology Capítulo 8





(S/N) (seu sobrenome)’s POV



Olhei ao redor assim que entrei no restaurante, apertando a alça da bolsa sobre meu ombro com um pouco mais de força que o necessário. Não demorei a encontrar quem eu procurava, e em passos largos, caminhei até a mesa, de onde ela acenava discretamente para mim.
– Desculpe o atraso – suspirei, ocupando a cadeira vaga à sua frente – Não consegui sair mais cedo da aula como eu planejava.
– Não se preocupe, eu acabei de chegar – Jules*, amiga de Niall, respondeu, observando enquanto eu me acomodava e recebia o menu que o garçom prontamente me ofereceu. Sem a menor fome para almoçar, coloquei-o sobre a mesa, ansiosa demais para sequer fingir interesse nele.
* Pra quem não lembra quem é Jules (acredito que ninguém lembre, hehe), favor checar o comecinho do capítulo 2!
– Obrigada por aceitar se encontrar comigo – ela disse, sorrindo gentilmente. Neguei com a cabeça.
– Imagine... Se você me ligou, deve ter algo importante para dizer.
– É, eu tenho... Quer dizer, espero que ainda seja importante para você.
Engoli em seco, prevendo o rumo que a conversa tomaria. De imediato, tirei aquela dúvida de sua mente.
– Eu ainda me importo com ele... Muito. Se dependesse de mim, não estaríamos separados.
Jules me analisou por um momento antes de assentir.
– É bom ouvir isso. Porque se você não se sentisse dessa forma, vir aqui hoje teria sido um completo desperdício do seu tempo.
– Eu não teria vindo se não me importasse – falei, tentando não parecer tão desesperada para saber o que ela tinha para me dizer – Sei que nosso único vínculo é Niall... Não haveria outro motivo para nos encontrarmos a não ser ele.
Novamente, ela assentiu, tomando um gole de sua água antes de prosseguir. Dessa vez, ela não hesitou antes de ir direto ao ponto, o que eu apreciei imensamente.
– Niall tem agido de uma forma muito estranha ultimamente, e me pediram para contatar você.
Franzi a testa, tão confusa quanto preocupada. Várias dúvidas se acumulavam em minha mente, e eu logo tratei de expressar a mais urgente delas:
– Agindo de uma forma estranha... Como assim?
– Fazendo coisas que ele antes não faria.
Jules fez uma breve pausa e respirou fundo antes de continuar.
– O mero fato de Niall ter se mudado para a casa dos pais já é espantoso o suficiente... Mas como ele tem uma forte razão para voltar...
– Ben – murmurei, fingindo que as lembranças que aquele nome trazia não me afetavam profundamente. Jules concordou com um meneio de cabeça.
– Mas não é só isso – ela prosseguiu – Já faz algum tempo que eu não o visito, mas Audrey me disse que ele tem passado muito tempo com o pai no escritório... Ela acha que ele pretende assumir os negócios da família.
Meus olhos se arregalaram ao ouvir tal notícia. Levei alguns segundos para encontrar minha voz.
– Mas... Ele sempre jurou que não faria isso... Que não servia para administrar todo o patrimônio da família, que nunca se submeteria a ficar trancado numa sala assinando papéis e administrando as finanças.
– Eu sei, e por isso me preocupo tanto – ela disse, séria – Parece que ele está tentando, não sei... “Consertar” sua vida em todos os aspectos... Começar do zero, fazendo o que os outros esperam dele, e não agindo de acordo com o que ele julga certo.
Esfreguei o rosto com as mãos, mais assustada a cada segundo. O que ele estava fazendo? Minha garganta se fechou à medida que uma sensação de culpa crescia dentro de mim. Eu o havia feito rever seus conceitos, repensar suas decisões, mas nunca imaginara que ele levaria tal reflexão até as últimas consequências. Mudar tanto... Tudo aquilo era realmente necessário?
– Meu Deus – foi tudo o que pude dizer, fitando a superfície da mesa como se pudesse encontrar nela uma resposta, uma direção.
– Eu tentei conversar com ele... Brad também – Jules suspirou, com o olhar baixo – Mas ele não se abre... Apenas diz que mudou sua forma de pensar sobre muitas coisas.
Mantive-me calada, sem saber como reagir diante de tal situação. Quando enfim consegui falar, a frase que saiu de minha boca era mais do que óbvia:
– Precisamos fazer alguma coisa.
– Eu sei – ela concordou, erguendo o olhar até o meu – Audrey me disse o mesmo ao telefone ontem de manhã. E é por isso que estamos aqui agora.
Pisquei algumas vezes, levando alguns segundos para processar a informação.
– Audrey pediu para você me ligar?
Jules assentiu. Meu coração acelerou ainda mais, como se previsse o que viria.
– Ela quer que você compareça ao jantar de aniversário dela neste sábado... Para conversar com ele e, quem sabe, pelo menos entender o motivo de tudo isso.
Por um momento, apenas a encarei, sem reação. A mãe de Niall queria que eu fosse ao seu jantar de aniversário para conversar com ele? Eu jamais imaginei que aquilo fosse acontecer, nem mesmo em meus devaneios mais fantasiosos, que haviam se tornado bem mais frequentes nos últimos três meses, desde que ele havia terminado comigo e mudado de cidade.
– Você tem certeza? – balbuciei, chocada demais para esboçar uma reação mais decente. Ela confirmou com a cabeça.
– Ela disse que teria te ligado se soubesse seu número, mas como Brad é o único amigo de Niall com o qual a família tem algum tipo de contato, pediu para que eu transmitisse o recado.
Continuei paralisada por alguns instantes, absorvendo o que ela me dissera, e enfim entendi o que precisava fazer. Se a própria Audrey havia se dado ao trabalho de contatar Jules para chegar a mim, e considerando tudo o que ela havia me dito há alguns minutos, o caso deveria ser realmente grave. Além do mais, ela estava me dando uma oportunidade perfeita para falar com ele, e eu não estava em condições de negar uma oferta daquelas. Três meses de distância, de total silêncio da parte dele... Por mais que eu tentasse telefonar, ele nunca atendia, nem mesmo quando eu usava outro número que não fosse o do meu celular.
Eu não podia continuar no escuro. Muito menos agora que uma luz surgia no fim do túnel.
Respirei fundo, reunindo coragem para dar minha resposta e me agarrando à ideia de que, mesmo estando apavorada, eu estava fazendo a coisa certa. Mesmo que tudo terminasse de forma desastrosa, eu teria a chance de vê-lo, e talvez esse mero fator já contribuísse para causar alguma mudança nele... Essa era a minha última esperança.
– Pode dizer a ela que eu estarei lá.

– E então, o que ela queria? – Eleanor perguntou assim que cheguei ao apartamento que ela dividia com Ewan, após meu encontro com Jules.
– Você nem imagina – falei, atirando-me no sofá, e vendo a curiosidade em seus olhares, resumi rapidamente a situação, o que só tornou tudo muito mais real.
– Nossa, o cara surtou totalmente – Ewan disse, me observando como se eu tivesse acabado de contar uma história de terror – Eu, hein.
– Se não quiser ajudar, não precisa atrapalhar, amor – Eleanor sorriu entre dentes, lançando-lhe um olhar de censura por sua infeliz escolha de palavras antes de se voltar para mim – (S/N), eu nem sei o que te dizer... Que loucura.
– Eu sei – bufei, fechando os olhos e cobrindo meu rosto com as mãos – E eu não consigo deixar de pensar que a culpa é minha.
– Pelo amor de Deus, mas é claro que não! – ela exclamou, puxando meus pulsos para baixo e me forçando a olhá-la – Se você fez alguma coisa, foi tentar colocar algum juízo na cabeça dele.
– Ele bem que estava precisando – Ewan adicionou inocentemente, e ao receber outro olhar assassino da namorada, protestou – Ué, eu só tô falando a verdade!
– Tudo bem, eu não sei se posso ficar muito pior do que já estou – intervim, antes que Eleanor pudesse retrucar – Pelo menos, eu vou ter uma chance de consertar as coisas no sábado.
– Espero que você consiga – ela sorriu fraco, e por mais que seu esforço para me animar fosse nítido, algo parecia estranho em sua expressão.
– O que foi? – perguntei, inclinando a cabeça para o lado e olhando-a com desconfiança. Automaticamente, ela soltou um grunhido frustrado, revirando os olhos.
– Olha, eu juro que estou tentando ser a amiga mais compreensiva e otimista do mundo – ela começou, falando depressa, como se estivesse guardando aquele discurso por um bom tempo – Mas... Já se passaram três meses desde que ele foi embora, (S/N).
Respirei fundo, imitando seu gesto e também revirando meus olhos ao prever o que viria. Pois é, parecia que eu poderia ficar pior do que já estava.
– Três meses é um bom tempo – Eleanor continuou, desacelerando seu ritmo e tentando soar menos taxativa e mais persuasiva – E se ele não tiver mais intenção de voltar? O que, convenhamos, depois de tudo que a Jules disse, é bem provável. O cara se mudou pra outra cidade, e se isso não for empecilho suficiente, deixou bem claro que não te quer na vida dele por pelo menos um bom tempo. Qual parte do “siga em frente” você não entendeu?
– Qual parte do “eu não vou desistir dele” você não entendeu? – retruquei, começando a ficar irritada com sua insensibilidade – Ele esperou por mim por três anos, Eleanor! Três anos! Além do mais, quando o Ewan foi embora, você ficou arrasada e se recusou a sair com outros caras por meses, então não venha querer me dar lição de moral.
Eleanor balançou negativamente a cabeça, desaprovando minha atitude, e lançou um olhar desesperado a Ewan.
– Me dá uma força aqui, por favor.
Ele fez uma careta ao ser intimado a opinar, e apesar de levar alguns segundos para tomar coragem, indeciso entre olhar para mim ou para ela, se manifestou:
– Falando como um cara... E caras conhecem outros caras...
– Fala logo – rosnei, sem paciência para rodeios.
Decidindo-se por encarar o chão, ele enfim respondeu.
– Eu concordo com ela. Você é nova demais pra lidar com todo esse drama, e ele sabe disso, por isso terminou tudo entre vocês... Por mais que ele goste de você, não dá pra ignorar esse tipo de coisa.
– Ele só está fazendo isso porque acha que não me merece! – rebati, levantando-me do sofá, irritada demais para continuar sentada entre os dois – Pelo menos não enquanto sua... Honra estiver manchada por um erro do passado. Ou qualquer outra coisa menos dramática.
– Primeiro, que eu saiba, ele não é nenhum samurai pra ter que “limpar sua honra” – Eleanor disse, erguendo um dedo a cada item listado – Segundo, erro do passado uma ova, porque filho é pra sempre. Agora me diz, onde tem espaço pra você nessa nova fase sou-o-novo-Dalai-Lama da vida dele?
O choque de sua pergunta fez com que o medo de não me encaixar mais em seu mundo, que eu constantemente reprimia e isolava sob uma grossa camada de determinação, se espalhasse em frias ondas por meu corpo. Levei alguns segundos para responder, já sem energia para discutir.
– Se eu não correr atrás, nunca vou descobrir.
Eleanor respirou fundo, sua expressão mudando da agressividade para a compaixão ao perceber que havia tocado num ponto delicado.
– Você sabe que eu só quero o seu bem, não sabe? – ela perguntou com um toque de arrependimento na voz, ficando de pé – Eu só digo todas essas coisas porque detesto te ver assim, sofrendo por um relacionamento que pode não ter mais futuro.
– Eu só preciso saber... – insisti pela última vez, com o último fio de persistência que me restava – Não posso conviver com essa dúvida.
Ewan, que nos assistia em silêncio, me lançou um olhar compreensivo e ao mesmo tempo encorajador, compreendendo meus motivos. Eleanor fez o mesmo, incapacitada diante de meu argumento. Cansada de toda a tensão que o dia já havia trazido antes mesmo das duas da tarde, forcei um sorriso sem graça e, dirigindo-me a Ewan, perguntei:
– Se importa se eu roubar sua namorada por algumas horas? Eu tenho um compromisso meio... Importante no sábado, e preciso encontrar um vestido decente até lá.
Uma vez quebrado o clima pesado, ele fingiu pensar no meu caso antes de assentir, o que fez com que todos caíssemos num riso breve, mas aliviado.

Meus olhos acompanhavam distraidamente as manchas coloridas que passavam pela janela do carro a cada metro percorrido do longo caminho. A viagem parecia completamente diferente à noite, ou talvez fosse apenas a constante sensação de desconforto em meu estômago que estivesse confundindo meus sentidos. Meus músculos começavam a reclamar devido ao já extenso tempo durante o qual eu os mantinha retesados, temendo relaxar no banco traseiro do carro que Audrey havia mandado para me buscar duas horas mais cedo naquele sábado, que parecera demorar anos para chegar. E que agora que estava ali, parecia estar indo rápido demais. Já estava escuro? Fazia tanto tempo assim desde que eu saíra de casa?
Durante todo o trajeto, minha mente não conseguia se desvencilhar de um único pensamento. Eu iria vê-lo naquela noite. Depois de três longos meses sem qualquer contato, eu estaria diante dele novamente. Poderia olhar para ele, refrescar minha memória, relembrar suas feições, sem precisar recorrer às fotos tiradas quando ainda nos víamos quase todo dia, feito dois idiotas apaixonados.
Qual seria sua reação? Ele ficaria feliz com a minha presença? No fundo, eu esperava que sim. Era possível, certo? Em nenhum momento, ele disse que não me amava mais... Talvez ele também sentisse minha falta. Nada o impedia de sorrir ao me ver, e então correr em minha direção para me abraçar, e...
Errado. Revirei os olhos diante de minha própria estupidez. No momento, tudo o que ele acreditava ser o certo a fazer desde a última vez em que o vi o impedia de agir daquela forma e me excluía de sua vida por tempo indefinido. Na melhor das hipóteses, ele se manteria a vinte passos de mim, fingiria ouvir o que eu tinha a dizer (que, a propósito, apesar da noite anterior passada em claro tentando formular um bom discurso, ainda estava indefinido), e me diria para ir embora e não voltar mais.
A noite realmente prometia.
Engoli em seco ao reconhecer a propriedade dos Horan logo à frente, e por uma fração de segundo, senti minhas forças se esvaírem, como se eu estivesse prestes a desmaiar. Me recusei a ser tão fraca, e enquanto os portões se abriam para que o carro entrasse, mantive o olhar fixo em meu colo e apenas me concentrei em respirar fundo.
O motorista estacionou em frente à casa, e como Jules havia instruído no dia anterior por telefone, esperei dentro do carro até que Audrey viesse me buscar. Ela não demorou a aparecer, abrindo a porta do automóvel para que eu saísse e logo em seguida me abraçando, como havia feito da primeira vez em que me viu.
– Olá, querida – ela murmurou, sorrindo abertamente ao me observar – Muito obrigada por vir. Nem sei como agradecer.
– Eu que agradeço pelo convite – respondi, me esforçando ao máximo para não demonstrar meu nervosismo.
– Imagine... Você nos faz um grande favor vindo aqui esta noite – ela disse, adotando uma expressão levemente triste – Nós estamos tão preocupados com ele... E mesmo que ele não tenha convivido muito conosco pelos últimos anos, todos pudemos ver o quanto você significa em sua vida. Se você não puder ajudá-lo, ninguém poderá.
Engoli em seco, sentindo o peso de minha responsabilidade pesar sobre meus ombros pela milésima vez desde que minha ida ao jantar de aniversário fora planejada. Em nenhum momento eu havia duvidado de minha capacidade de ao menos fazê-lo refletir sobre como estava lidando com toda a situação com tamanha intensidade quanto naquele instante, em que os olhos esperançosos de Audrey repousavam nos meus, e me fizeram visitar uma possibilidade que eu tentava desesperadamente evitar: e se ele já não se sentisse mais como antes em relação a mim? E se o impacto que Audrey alegava que eu tinha na vida de Niall já tivesse sido atenuado pela distância dos últimos meses?
– Farei o que for possível – foi o que consegui dizer para confortá-la e para acalmar o turbilhão de inseguranças que infestou minha mente em poucos segundos – Eu prometo.
– Boa sorte – Audrey murmurou, segurando minhas mãos entre as suas ao chegarmos à entrada da residência – Espere na sacada. Farei com que ele te encontre lá e cuidarei para que ninguém interrompa.
– Obrigada – sorri fraco, e antes que ela se afastasse, me lembrei de algo essencial – Ah! E feliz aniversário.
Ela retribuiu meu sorriso com um lisonjeado, e acariciou meu rosto de um modo tão maternal que, no estado emocional em que eu me encontrava, quase me fez desabar em lágrimas e pedir colo.
- Obrigada – ela respondeu, transbordando gentileza, seguindo para dentro logo depois.
Respirei fundo antes de imitá-la, e me esgueirei pelos convidados de cabeça baixa e em passos discretos até o local combinado, tentando não ser vista por algum possível parente que já me conhecia, nem observar demais os arredores para que as lembranças que aquelas paredes provavelmente despertariam não me desestabilizassem ainda mais. Completei o curto caminho até a beira da sacada e deixei meus olhos vagarem pelo extenso jardim, repousando minhas mãos trêmulas no parapeito como se desejasse roubar a firmeza da pedra que o constituía. Não funcionou. Minha audição parecia mais aguçada que de costume, para que nenhum passo, por mais silencioso que fosse, atrás de mim passasse despercebido, e nem o discreto som das cortinas que separavam a sacada da área interna sendo abertas se perdesse na brisa noturna.
Não precisei ouvi-lo, e muito menos vê-lo, para saber que ele havia me encontrado.
Um arrepio percorreu meu corpo ao sentir a mudança que sua presença havia causado na atmosfera ao meu redor. Meu coração deu um salto dentro do peito, e antes que meus joelhos ameaçassem ceder ao peso que sustentavam, me virei em sua direção.




CONTINUA...

DIVULGANDO!!!!!!!

Só estou passando pra divulgar esse blog divoooooo   http://loucas-poronedirection.blogspot.com.br/ .... talvez mais tarde eu poste mais um capítulo de Biology 2 e se der tempo um de Who is my true love?


  BJUSSSSSSS POTATOSSS até mais....

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

FanFic - Biology 2 Capítulo 7





Estacionei o carro, o caminho até ali um mero borrão em minha mente. A luta entre o querer e o dever sugava minha energia aos poucos, e eu já me sentia destruído antes mesmo que tudo desmoronasse. Encarei o volante por alguns segundos, sem realmente vê-lo; meus pensamentos já estavam muito além daquela noite. Num movimento automático, forcei meu corpo a se mover e deixar o veículo.
Virei-me na direção da casa, meus olhos demorando a se desgrudarem do chão para alçarem voo até a janela do andar de cima, vazia, apesar da luz ligada. Um bom sinal... Dependendo da perspectiva.
Para evitar que a hesitação me dominasse, caminhei em passos lentos até a porta, sabotando qualquer chance de desistir ao levar meu dedo até a campainha, ainda que eu internamente implorasse para que o universo agisse em meu favor e fizesse com que aquela porta jamais se abrisse.
Meu pedido não foi atendido. Poucos segundos depois, a maçaneta girou, e eu instintivamente ergui o olhar, meu coração saltando dentro do peito.
O choque foi mútuo.
Milhares de possibilidades invadiram minha mente ao me deparar com um homem que aparentava ser cerca de dez anos mais velho que eu do outro lado da porta. Uma luz vermelha começou a piscar atrás de meus olhos, dizendo que eu já o havia visto antes, mas a lembrança não me ocorria. Ambos cerramos os olhos, igualmente confusos, até que uma terceira pessoa surgiu atrás dele e tudo ficou ainda mais estranho.
Nossos olhos imediatamente se encontraram, como se de repente só houvesse nós dois, e eu tive que respirar fundo para controlar a saudade escondida há dias, que agora se revelava muito mais incômoda que o desejável. (S/N) parecia igualmente atordoada, mas uma certa urgência em seu olhar alarmou meus sentidos. Uma série de possibilidades mirabolantes infestaram meus pensamentos numa fração de segundo. E se ela estivesse correndo perigo? Quem era aquele homem? O que ele estava fazendo ali àquela hora da noite? Onde estava a mãe dela? (S/N) estava sozinha com ele?
Aproveitando-se do fato de que somente eu podia vê-la, ela apenas balançou negativamente a cabeça, mantendo-se o mais silenciosa possível para que sua presença não fosse notada pelo estranho que me atendia, de costas para ela.
- Boa noite... Posso ajudá-lo? - ele perguntou, desconfiando de minha mudez. Eu ainda tinha o olhar perdido nela, que continuava sinalizando para que eu não dissesse nada sobre o verdadeiro motivo de minha visita. Apesar da grande desconfiança que me dominava, resolvi confiar em suas súplicas. Se havia algo que eu pudesse fazer para ajudá-la, ela com certeza sabia como fazê-lo melhor do que eu.
- Uh... Boa noite, senhor – enfim balbuciei, franzindo a testa em nítida confusão e desviando o olhar para o homem – Eu... Eu acho que...
- Sim? – ele incentivou, começando a desconfiar de minha atitude incomum. (S/N) observava, imóvel, o desenrolar da situação. Com o coração prestes a saltar pela boca, organizei meu pensamento e encontrei minha voz novamente.
- Desculpe, eu... Acho que estou no endereço errado – disse afinal, forjando uma expressão embaraçada que eu esperava ser suficientemente convincente – Eu sinto muito.
O desconhecido hesitou antes de concordar levemente com a cabeça, e eu prendi um suspiro aliviado. Lancei um último olhar perdido a (S/N) antes de sorrir amarelo e ir embora, desculpando-me mais uma vez pelo engano. Assim que a porta se fechou atrás de mim, olhei por sobre meu ombro, completamente desnorteado.
Me reaproximei do carro, ainda tentando formular alguma hipótese que fizesse sentido para tudo aquilo, e meus olhos vagaram mais uma vez até a janela de seu quarto, onde num segundo ela surgiu, já sabendo que eu ainda estaria ali. Ergui as sobrancelhas e os ombros, indicando meu desespero, e ela sinalizou para que eu entrasse no carro e dirigisse. Franzi a testa imediatamente, recusando-me a deixá-la sem antes receber uma boa explicação do que estava acontecendo, mas ela indicou que me ligaria logo em seguida. Levei um momento para decidir o que fazer, transtornado demais para tomar uma decisão, mas ela não me deixou outra escolha a não ser obedecê-la ao sumir de vista sem mais explicações.
Entrei no carro depressa e arranquei, sem saber para onde estava indo, e não aguentei esperar. Mandando qualquer precaução para o inferno, disquei o número para o qual eu havia me recusado a ligar até então.
A resposta não demorou a vir.
- Calma, está tudo bem – ela murmurou, já sabendo que eu não estaria no mais tranquilo dos humores.
- O que foi aquilo? – perguntei, assustado – Quem é esse homem? O que ele está fazendo na sua casa?
- Ele é meu pai – (S/N) respondeu sem delongas, e eu não pude evitar mergulhar num silêncio mortal ao compreender o apuro pelo qual havia passado – Depois eu explico melhor.
Agora tudo fazia sentido. Então eu realmente já o havia visto antes... Ela havia me mostrado algumas fotos dele, e mencionado alguns fatos sobre sua vida, como o fato de ser médico e ter uma família em outra cidade. Mas o que o trouxera até aqui assim, do nada?
Afastei as dúvidas que poderiam esperar por uma resolução para segundo plano, focando-me no essencial.
- E agora, o que vamos fazer? Eu... Eu realmente precisava... Falar com você - suspirei após alguns segundos, adotando um tom sério ao me recordar do verdadeiro motivo pelo qual havia ido ao seu encontro – Eu sei que... Você tem todos os motivos do mundo para não querer me ver nunca mais, mas... É muito importante pra mim... Pra nós... Que resolvamos isso de uma vez por todas.
Dessa vez ela emudeceu, o que só contribuiu para que eu ficasse ainda mais nervoso. Por mais errado que eu estivesse em relação a tudo, eu sabia que tinha razão; não faria bem algum continuar prolongando aquela situação. Engoli em seco, quase iniciando outro discurso desajeitado para que ela concordasse em me ver, mas ela enfim falou, as palavras saindo num fluxo baixo e sem emoção:
- Dê a volta no quarteirão e me espere na rua do lado. Te encontro daqui a pouco.
Antes que eu pudesse dizer qualquer outra coisa, ela encerrou a chamada. Novamente, não havia muito que eu pudesse fazer a não ser seguir suas instruções. Cheguei ao local combinado em poucos minutos, e inquieto demais para esperar dentro do carro, fiquei de pé na calçada, mal conseguindo conter todo o nervosismo que me devorava. Depois do que me pareceu uma eternidade, ela enfim apareceu dobrando a esquina, aproximando-se rapidamente com os braços cruzados sobre o peito.
Mesmo em silêncio, entender o que se passava em sua mente não fora problema, uma vez que a conexão visual estava feita. Sempre me vangloriei por poder ver através daqueles olhos; naquele momento, porém, preferi não possuir tal habilidade e me manter alheio ao nítido distanciamento presente neles.
- Oi.
Não era a melhor maneira de iniciar uma conversa depois de tudo que havia acontecido, mas foi tudo o que consegui dizer, perdido em meio à corrente de emoções que sua presença desencadeara. (S/N) parecia igualmente instável, já que sua resposta não foi muito diferente.
- Oi.
Engoli em seco, revirando meu vocabulário em busca do discurso perfeito. Não perder o foco era essencial. Eu precisava resistir a todos os impulsos magnéticos que se espalhavam por meu corpo a cada segundo, insistindo em me levar até ela, e me manter firme em meu propósito. Ela reencontrou sua voz antes de mim.
- Vamos sair daqui... É perigoso demais conversarmos tão perto de casa.
Assenti automaticamente, sentindo-me um idiota por ainda estarmos parados ali.
- Eu conheço uma lanchonete aqui perto, podemos conversar melhor lá – sugeri, supondo que ela não se sentiria exatamente confortável em ficar dentro do carro o tempo todo. (S/N) concordou com a cabeça, e entramos no veículo sem demora.
Percorremos parte do curto percurso em silêncio, e a cada metro andado, me sentia cada vez mais distante dela, ainda que estivéssemos mais próximos fisicamente do que nunca em relação às duas semanas anteriores. Ela olhava pela janela do carro, parecendo absolutamente tensa; meus dedos, fortemente comprimidos contra o volante, comprovavam meu estado semelhante.
Como se todo o resto já não fosse difícil o suficiente de encarar, ter que fazê-lo justamente dentro da Ferrari vermelha apenas complicava ainda mais as coisas. Cada canto daquele carro me lembrava de algum momento nosso... De quando eu ainda não media esforços para fazê-la enxergar que podia fazê-la mais feliz que qualquer outra pessoa, na certeza de que não poderia haver nada mais certo pelo que lutar, e também de quando essa certeza já brilhava em seus olhos, radiantes enquanto os meus se reviravam dentro de suas órbitas conforme nossos corpos faziam o que sabem fazer de melhor: aniquilar qualquer distância que pudesse haver entre eles.
Interrompi meus devaneios ao perceber que minha respiração havia se tornado levemente ofegante. Rezando para que ela não tivesse reparado – e também para que estivesse se sentindo da mesma forma -, iniciei o primeiro assunto que me veio à mente, desesperado para afastar aqueles pensamentos impróprios da cabeça:
- O que o seu pai faz aqui?
De canto de olho, sondei sua reação; apesar de não virar o rosto para mim, percebi que ela se assustou um pouco com minha pergunta, como se também estivesse perdida em seus próprios pensamentos.
- Ele veio passar uns dias conosco, antes de seguir viagem para um congresso de medicina numa cidade próxima na semana que vem – ela respondeu, seu tom um pouco menos vazio de emoção.
Assenti devagar, fingindo que não estava morrendo a cada segundo enclausurado naquele carro ao lado dela sabendo que não poderia sequer pensar em tocá-la. Manter aquela conversa ajudava a manter meu nível de sanidade no limite mínimo necessário para não arruinar tudo, então eu prossegui:
- Ele não sabe de nada sobre...
Não precisei finalizar a pergunta para que ela entendesse o que eu queria dizer e negasse com a cabeça. Estava prestes a soltar um grunhido de frustração diante da apatia dela quando uma resposta mais elaborada veio.
- Ele não pode saber... Pelo menos não ainda. Eu não faço ideia de como ele reagirá, e prefiro continuar assim, até estar pronta para revelar a verdade.
Virei o rosto levemente em sua direção, notando que ela agora encarava os próprios pés, deixando claro que enganar mais alguém querido era uma tarefa difícil. Baixei o olhar, a realidade do que estava acontecendo me atingindo com um tapa na cara mais uma vez, e estacionei ao chegarmos ao nosso destino.
Saímos do carro e seguimos até a lanchonete em silêncio. Encontramos uma mesa o mais reservada possível e nos acomodamos, remexendo-nos nos assentos e permanecendo mudos por algum tempo. Ambos parecíamos dolorosamente desconfortáveis com a presença do outro, e sem conseguir lidar com uma situação tão torturante, novamente me forcei a iniciar algum assunto, percebendo que ela não sabia como fazê-lo:
- Obrigado por ter aceitado conversar.
Sua voz foi educada ao me responder, seu olhar polido.
- Eu não poderia negar... Não depois de ter ido embora daquele jeito.
Meu estômago despencou dentro de minha barriga. O gosto amargo da discussão de duas semanas atrás ainda se mostrava presente em minha garganta; engoli em seco, tentando atenuá-lo.
- Como você está?
Ela piscou algumas vezes em reação à minha súbita pergunta, corando quase que imperceptivelmente diante de meus olhos cansados. Colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha, típico gesto de sua timidez, (S/N) ergueu o olhar até o meu.
- Já estive melhor – confessou enfim, resquícios de tristeza em sua voz - E você?
Suspirei, dando um rápido riso sem humor. Enfim, consegui formular uma resposta abrangente e suficientemente satisfatória.
- Nunca estive pior.
Não mantive contato visual; o que restava de meu orgulho recusou tal possibilidade. Sentia-me tão diminuído, apenas um vestígio do homem que um dia fingi ser, diante dela. Meu rosto ardia, pura vergonha queimando sob seu olhar fixo em mim. Ela quebrou o silêncio após um curto tempo.
- Onde você esteve nos últimos dias?
- Com meu filho – respondi sem rodeios, partes de meu objetivo final aos poucos se revelando em minha escolha de palavras – Me familiarizando com a idéia.
De rabo de olho, vi que ela desviara o olhar por um momento.
- Ele já sabe?
- Sim.
Não me movi, toda a minha força concentrada na disciplina mental à qual eu havia me submetido.
- Como ele reagiu? – ela perguntou, seu olhar agora atento e fixo em meu rosto, como se não quisesse perder um detalhe. Suspirei mais uma vez.
- A princípio, estranhou, o que já era esperado. Perguntou por que nunca o havíamos dito nada, e teve que se contentar com a clássica resposta: um dia, você vai entender. Não quero que ele pense que sou um idiota logo de cara... Mais tarde, quando ele tiver mais maturidade, eu lhe contarei tudo, mesmo que isso o faça me odiar.
Fiz uma breve pausa, seu abraço apertado ressurgindo em minha memória. Se ao menos ele soubesse o quanto eu não merecia aquele carinho...
- Não quero mais mentir pra ninguém, muito menos pra mim mesmo. Passei anos fazendo isso e olhe onde estou agora.
(S/N) manteve os olhos em mim, um misto de tristeza e distanciamento estampado no rosto.
- E você? – ela murmurou, parecendo genuinamente interessada em minhas respostas – Como tem lidado com tudo isso?
Lentamente, ergui meu olhar até o dela, encontrando um conforto que não desejei ver. Seria aquilo mera obra de minha imaginação ou ela realmente se importava comigo mesmo depois de tudo o que descobriu?
- Ben é uma criança incrível – falei, lutando para me manter são em meio à minha trágica loucura interior – Passamos apenas duas semanas juntos e já posso dizer que me afeiçoei muito a ele. Nunca pensei que alguém seria capaz de se importar tanto comigo sem que eu tenha lhe dado algo em troca como ele faz. Implorou para que eu o trouxesse comigo, mas se contentou com a promessa de que eu voltaria em tempo para sua cirurgia.
- Cirurgia?
- Na verdade, ele apenas vai retirar as amígdalas – expliquei, vendo que ela havia se encolhido ao repetir a palavra – Ben tem a saúde boa, apesar de sofrer com alguns problemas respiratórios por ter nascido prematuro... Por ser filho de primos de primeiro grau, seu estado poderia ser bem pior, ainda que a probabilidade de doenças nesse tipo de situação esteja se comprovando cada vez menor que o imaginado.
(S/N) assentiu devagar, seus olhos agora baixos e sérios enquanto minhas palavras refrescavam a infeliz lembrança que havia causado todo o conflito entre nós.
- Espero que tudo corra bem – disse apenas, bastante sincera; agradeci com um movimento de cabeça.
Permanecemos em silêncio por um tempo, digerindo as informações compartilhadas nos últimos minutos.
- E você? Como vão as coisas na faculdade?
Ela franziu levemente a testa diante de minha pergunta, que destoava totalmente do tom frio da conversa. A tensão estava ficando pesada demais.
- Bem... A mesma correria de sempre – ela deu de ombros, esboçando um sorriso indiferente – Tenho conseguido cumprir os prazos, mas minha vida social está por um triz. Não que eu tivesse alguma antes, mas enfim...
Não pude conter um riso curto, o breve divertimento parecendo alienígena se comparado ao torpor dos últimos dias. Meu coração se retraiu dentro do peito, as palavras que eu queria e ao mesmo tempo não queria dizer escalando minha garganta. Lutei contra elas pelo que me pareceu uma eternidade, o que ainda havia de amor próprio em mim impedindo que eu acabasse logo com aquilo de uma vez por todas e consumasse o fim de qualquer chance de ser feliz que me restava. Porém, logo a batalha se revelou inútil, pois minha voz iniciava o discurso que eu havia repassado em minha mente sem que eu pudesse evitar.
- (S/N)... Eu pensei muito durante esses últimos dias...
- Eu preciso te pedir desculpas.
Franzi a testa, legitimamente confuso com sua interrupção. Eu esperava qualquer coisa, menos aquilo. Ela sustentou meu olhar perdido e respirou fundo antes de explicar.
- Eu não devia ter agido daquela maneira... Ter cobrado uma satisfação por algo que não me dizia respeito. O Ben faz parte exclusivamente da sua vida, e por mais que eu discorde da sua forma de lidar com a situação, eu não tinha o direito de ter invadido o seu passado e exigido uma resposta como eu fiz. Eu sinto muito.
Tudo o que pude fazer por alguns segundos foi encará-la, emudecido pela surpresa de suas palavras. Eu mal podia acreditar que ela, que não havia agido de outra maneira a não ser a que julgara correta, estava se justificando por achar que havia me ofendido. Seu olhar se desconectou do meu, caindo para seu colo enquanto ela continuava a falar.
- Eu só queria... Eu só queria que você tivesse sido honesto comigo. Que tivesse confiado em mim o bastante para dividir esse segredo comigo antes que outra pessoa o revelasse.
Sua voz fraquejara algumas vezes, e eu senti minha garganta se fechar como numa reação alérgica às lágrimas que se formaram em seus olhos. Me senti incapaz de qualquer coisa, imóvel diante da única pessoa que realmente importava para mim e ouvindo-a dizer que me reprovava não apenas por meu erro, mas principalmente por tê-lo omitido. Sua voz continuou a preencher o silêncio esmagador que eu não conseguiria quebrar nem se quisesse, buscando forças para voltar a soar firme e resignada.
- Mas eu entendo que certos segredos são delicados demais para serem compartilhados... Que há fatos em nossas vidas que desejamos esquecer a qualquer custo e que sufocamos com todas as nossas forças dentro de nós, até que a vida os traz de volta à tona, forçando-nos a repensar nossas escolhas.
Engoli em seco, sentindo a veracidade de suas palavras queimar sob minha pele. Como ela conseguia entender aquele tipo de situação sendo tão jovem? Eu sempre soube que ela era mais madura que as outras garotas de sua idade, mas sua capacidade de lidar com tudo o que estava acontecendo de uma forma tão centrada e transparente me espantava. Se ao menos eu tivesse sido capaz de fazer o mesmo, de ser franco com ela e comigo mesmo sobre tudo desde o início... Fui tolo por pensar que conseguiria me esconder de meu passado para sempre. Um dia ele voltaria para acertarmos nossas contas, e assim o fez, no pior momento possível, quando eu tinha tudo a perder. Se eu soubesse desde então que a decepção da revelação seria inevitável, teria escolhido o caminho certo, por mais difícil que ele fosse, ao invés de ter deixado minha covardia no controle como sempre fiz.
Já estava feito. Não me serviria de nada passar o resto da vida confabulando sobre as mil maneiras diferentes de contar tudo a ela para evitar um desastre agora que ele já havia acontecido.
- Eu sinto muito – foi só o que pude dizer, minha voz um mero murmúrio conturbado em meio a todo o esforço que eu fazia para que as lágrimas que se acumulavam em meus olhos não fossem notadas - Por tudo.
- Eu também sinto – ela suspirou, com o olhar perdido sobre a mesa. Um silêncio insuportável caiu sobre nós mais uma vez; uma dor que eu não sabia que podia sentir se alastrou por todo o meu corpo, como se cada centímetro de mim estivesse sendo rasgado, dilacerado pela rejeição que ela demonstrava em relação a mim. Cansado daquela guerra mental tão excruciante, implorei por misericórdia da única maneira que me parecia possível no momento:
- Acabe logo com isso... Por favor.
Seus olhos voltaram aos meus imediatamente, como se eu tivesse disparado uma espécie de ofensa. O silêncio denso deu lugar a uma tensão quebradiça num piscar de olhos.
- Acabar com isso? – ela repetiu, sua voz refletindo a confusão em sua mente - O que você quer dizer?
Respirei profundamente antes de responder, avançando cada vez mais num caminho sem volta com o pouco de determinação que ainda me restava.
- O que eu quero dizer... É que você se esqueceu de dizer uma coisa quando foi embora há duas semanas.
Seu olhar exigia uma resposta, ao mesmo tempo em que parecia temê-la. Por mais que parte de mim implorasse para que eu simplesmente esquecesse tudo e deixasse que meus sentimentos por ela falassem mais alto, não pude lutar contra tudo o que estava entre nós, cada vez mais me sufocando.
- Você se esqueceu de dizer que estava terminando comigo.
Ela cerrou os olhos, completamente confusa. Não pestanejei; precisava terminar o que havia começado.
- O quê? – ela gaguejou, o choque de minhas palavras enfraquecendo sua voz. Fingi que não escutei para não dificultar piorar ainda mais a situação.
- E que não queria mais nada comigo, e que não podia continuar atrasando sua vida com alguém como eu ao seu lado, porque você ainda é muito nova e tem uma vida inteira pela frente enquanto eu já tenho um passado que vai me acompanhar pra sempre.
- Por que você está dizendo essas coisas? – ela interrompeu, completamente transtornada – Eu não quero ouvir nada disso!
- Por favor, não faça tudo ficar mais difícil do que já está – pedi entre dentes, meus nervos em frangalhos diante de seus protestos – Eu só estou tentando te fazer enxergar a verdade de uma vez por todas.
- A verdade? Que verdade? – ela rebateu, enervada, e meu argumento por pouco desmoronou ao confrontar a postura desafiadora dela – A única verdade que eu vejo aqui, Horan, é que tudo o que você disse até agora é a mentira mais ridícula que eu já ouvi.
Recuperei o fôlego que meu ânimo exaltado havia perdido, tentando decifrar suas intenções. Por que ela estava se recusando a entender o que eu tentava lhe dizer? Por que ela simplesmente não aceitava a deixa que eu estava esfregando em seu nariz e não terminava tudo de uma vez? Não precisei me esforçar muito; ela estava disposta a compartilhar seus pensamentos.
- Sabe... Eu andei muito confusa nessas últimas semanas – (S/N) confessou, com os olhos desiludidos fixos em mim durante todo o tempo – Não sabia o que pensar sobre você, sobre nós... Sobre tudo. No começo, não queria nem pensar em te ver pelo resto da vida. Depois, eu estava disposta a ter uma conversa, mas na verdade seria tudo um pretexto pra partir sua cara ao meio assim que te visse. E então... De repente, a saudade começou a apertar, apertar tanto, que tudo que eu queria era falar com você, ver você, acertar as coisas entre nós. Eu até estava começando a me acostumar com a ideia de que você tem um filhinho, e talvez eu tivesse que aprender a te dividir com outra pessoa...
Seu olhar ficou distante, lágrimas discretas se acumulando sem que ela permitisse. Travei o maxilar, ao mesmo tempo estapeando-me e remendando-me diante de suas palavras. Ela prosseguiu:
- Eu realmente queria resolver esse impasse, que na verdade foi culpa de nós dois... Nós mesmos criamos tudo isso, e só nós dois podemos resolver essa confusão. Eu... Estava disposta a discutir isso, a te dar outra chance de me fazer confiar em você outra vez... Mas agora, depois de tudo que você disse... Depois de ter despejado todas essas desculpas esfarrapadas que você sabe que eu odeio sobre a minha cabeça... Eu não sei mais o que você quer de mim.
Fechei os olhos, reunindo forças para continuar aquela conversa. Eu precisava ir até o fim, agora que já havia começado um estrago irreparável.
- E você acha que eu sei? Você acha que eu sei o que eu quero de mim mesmo?
Respirei fundo, deixando que minha revolta a atingisse e me motivasse a esclarecer o real motivo pelo qual eu precisava agir daquela forma.
- Quando você deixou aquela casa há duas semanas... Você não apenas me deixou. Você levou a minha integridade, ou pelo menos o que eu achava que tinha dela. Você me fez questionar princípios que eu já tinha como certos há muito tempo... Me fez revisitar assuntos que eu havia trancafiado no canto mais profundo de minha memória, e pretendia manter intocados pra sempre. Você virou a minha vida de cabeça pra baixo, (S/N). Eu estou completamente revirado, e não sei nem por onde começar a endireitar as coisas. Que tipo de relacionamento você acha que um homem como eu pode te dar? Como eu posso saber lidar com você, se eu nem mesmo consigo lidar comigo?
Ela sustentou meu olhar inquisitivo, sem demonstrar qualquer intenção de me responder. Pisquei repetidas vezes, afastando as lágrimas estúpidas que pretendiam se acumular em meus olhos. Estava confuso demais, furioso com aquela situação repugnante na qual a havia envolvido. Talvez eu devesse ter esperado mais alguns dias para contatá-la, e então poderia articular melhor meus motivos e fazê-la entender porque havia adotado tal maneira de pensar.
Refletindo por um segundo, concluí que não havia melhor momento para ter aquela conversa do que agora... Justamente para que ela presenciasse o nevoeiro desnorteante no qual eu estava perdido, e percebesse que eu não estava em condições de assumir o papel que ela gostaria de atribuir a mim.
- Eu preciso resolver isso... Preciso me resolver – recomecei, meu tom de voz mais sério e comedido – Eu sempre negligenciei, afugentei toda e qualquer lembrança relacionada ao meu filho... Não posso mais continuar fingindo que essa parte da minha vida não existe, que minhas atitudes não têm consequências. Nem que eu decida seguir com a minha vida sem necessariamente ser um pai presente, o mero fato de reconhecer a existência de Ben já é um posicionamento melhor do que o que eu tinha até agora. Mas para que eu consiga me sentir confortável sob a minha própria pele novamente, depois de perceber o quão errado eu estive durante todo esse tempo, eu preciso reavaliar todas as minhas escolhas, e eu não quero que você se sinta obrigada de maneira alguma a enfrentar essa tormenta comigo.
- Você não está me obrigando a nada, eu estou aqui por livre e espontânea vontade, como eu sempre estive! – ela reforçou, inclinando-se levemente sobre a mesa conforme seu ânimo se exaltava gradualmente – Eu não acredito que você está me dizendo essas coisas, sinceramente. Você sabe muito bem que eu nem teria aceitado arriscar tudo o que arrisquei até agora se não acreditasse que vale a pena mentir, esconder tudo de pessoas que eu nunca tinha enganado antes.
- Eu sei, eu sei de tudo isso, e eu odeio essa situação – afirmei com veemência, sua postura ofensiva me contagiando – Eu sou a pessoa que mais odeia que você tenha segredos com a sua família, tanto quanto ou até mesmo mais que você. Não pense por um segundo que eu me esqueço disso, porque é impossível. E é também por não suportar esse absurdo que eu estou agindo dessa maneira, que... Que eu estou te liberando.
(S/N) cerrou os olhos, irritada por ter seu próprio argumento usado contra si.
- Você fala como se eu estivesse fazendo um sacrifício sem receber nada em troca – ela murmurou, sua raiva aos poucos se diluindo em meio à realidade assustadora do momento – Como se cada mentira não estivesse valendo totalmente a pena... Como se o que nós construímos não significasse nada. Você sabe que se eu pudesse voltar atrás, eu faria tudo igual... Eu correria cada risco, inventaria cada mentira outra vez, só pra poder viver o que nós vivemos.
Levei um tempo para absorver o turbilhão de emoções que suas palavras provocaram em mim, e após muito fitar a mesa, reencontrei minha voz:
- Eu sei... Eu também faria tudo igual em relação a você. Mas agora tudo mudou entre nós, e você sabe disso. Foi você quem abriu meus olhos para a minha irresponsabilidade, e se eu não parar agora e olhar para trás, eu posso perder tudo... Eu posso perder você. E isso é uma coisa com a qual eu não conseguiria lidar jamais.
- Você não vai me perder se me deixar ficar do seu lado! – ela sussurrou, pegando minha mão num impulso, e apesar de meu coração saltar, me refreei e rompi o contato – Mas se você me afastar assim, sem nem me dar uma chance pra mostrar que eu posso me adaptar a essa nova fase da sua vida... Você acha que eu consigo lidar com isso?
- Me desculpe... – neguei pausadamente, sem conseguir encarar a expectativa em seus olhos – Mas eu não posso ser o homem que você quer que eu seja... O homem que você merece que eu seja. Pelo menos não agora. E eu não sei quando poderei ser. Talvez quando eu consiga olhar pra você e me sentir digno disso. Mas por enquanto... Eu preciso ficar sozinho.
Enfim ergui meus olhos até seu rosto, indeciso entre resignação e desapontamento. Uma lágrima silenciosa rolou por sua bochecha, e eu contive o impulso de enxugá-la, sabendo que este não era o momento de demonstrar qualquer ternura. Ela precisava entender que eu estava fazendo aquilo para o bem dela, para que ela não desperdiçasse sua juventude com alguém que não poderia dar a ela, pelo menos por enquanto, tudo o que ela merecia ter.
Pensei em dizer mais alguma coisa, mas ao perceber que somente palavras de conforto que não eram adequadas ao que eu pretendia expressar se amontoavam em minha mente, finalmente deixei que a tristeza me engolisse e formasse um nó apertado em minha garganta, impedindo-me de falar, porém não de me levantar subitamente e unir meus lábios à sua testa, num beijo de despedida que eu tentei tornar breve, sem sucesso. Hesitei ao me afastar levemente, embriagado pela proximidade ausente há certo tempo, e tão rapidamente quanto me foi possível, deixei a lanchonete, sem olhar para trás.
Meu corpo inteiro ainda tremia feito gelatina e eu estava prestes a desativar o alarme do carro quando fui interrompido.
- Tudo bem... Se você quer ir, eu não vou te impedir.
Levei alguns segundos para dar meia volta e encará-la, metade de mim surpresa por sua reação, enquanto a outra metade, a que já esperava que a última palavra ainda estivesse por vir, tentava manter minha expressão firme. (S/N), que parecia ter corrido até me alcançar, agora caminhava lentamente até mim, dessa vez sem medo ou tristeza nos olhos; havia apenas determinação.
- Eu sei que não posso te impedir, e nem quero que você deixe de seguir seu próprio caminho, se é o que você acredita que precisa fazer – ela disse num tom grave – Mas tem uma coisa que eu sei.
Ao completar a frase, ela já estava parada a poucos centímetros de mim, e eu não tinha mais nenhuma reação a não ser observá-la, prestar atenção no que dizia.
- Uma vez, não faz muito tempo, eu conheci um cara. Ele era maravilhoso. Bonito, engraçado, talvez um pouco tarado demais... – ela riu, contrariando as lágrimas que rapidamente inundavam seus olhos (e os meus) – Mas ainda sim, um homem incrível. Claro, ele tinha seus defeitos, mas eu não me apaixonei só pelo que ele era. O principal mesmo, o que me dava aquele frio na espinha a cada vez que eu pensava em perdê-lo, era o jeito como ele me fazia sentir. Sim, aos meus olhos, ele era um grande homem. Mas eu... Quando ele me olhava, ele me fazia uma grande mulher. Eu sentia que podia fazer qualquer coisa quando estava com ele, que podia ir a qualquer lugar, a qualquer hora... Bastava saber que ele estaria comigo, que estaria me olhando daquele jeito que só ele sabia olhar.
Ela suspirou profundamente, seu rosto agora molhado pelas lágrimas que caíam de seus olhos, ainda fixos nos meus, que passaram a maior parte de seu discurso fechados, na tentativa de me proteger do impacto que suas palavras causavam. Ela continuou:
- Ele me ensinou uma coisa que eu nunca vou esquecer. Ele me mostrou que eu não posso desistir de lutar pelo que eu acredito... Pelo que eu quero. Você acredita que ele mesmo passou anos da vida dele lutando por mim? Tentando me fazer enxergar que, apesar de eu odiá-lo na época, ele era o caminho certo pra mim?
Prendi a respiração ao sentir uma dor enorme tomar conta de mim, esperando que aos poucos ela se dissipasse e permitisse que eu voltasse a respirar. Eu sabia, porém, que aquilo era só o começo; dores (muito) piores ainda estavam por vir.
- Pois é... Por mais que eu odeie admitir, ele estava certo. E agora, que ele está diante de mim, me dizendo adeus enquanto finge que está dizendo até logo... Como eu poderia deixá-lo ir tão facilmente, se eu sei que não existe nada mais certo para ele do que ficar?
Ao olhar em seus olhos, ainda que só por um instante, mergulhei na determinação incrustada neles. Minha mente vagou para o lugar irresistível que eu havia evitado até então, o lugar que me permitiria ignorar todas as razões que me levaram até ali, todas as decisões que havia tomado até então, e me render à imensidão inabalável de sentimentos que ela despertava em mim desde o primeiro momento em que a vi. Podíamos recomeçar, repetir todo o trajeto que seguimos desde o instante em que ela me permitiu entrar em seu coração, reconstruir os deliciosos passos de nossa história na tentativa de curar as feridas e recuperar nosso relacionamento, ainda que nunca pudéssemos voltar a ser exatamente os mesmos de antes.
- Eu sei que, nesse momento, você precisa ir. E mesmo sabendo que você desistiu de mim, não vou admitir que você não volte.
Sustentei seu olhar, machucado antes de qualquer coisa, enquanto imaginava como seria seguir esse caminho. Uma sensação boa brotou em meu peito, e por um momento eu me senti inclinado a me esquecer de todo o resto e deixar que essa sensação se espalhasse. Meu rosto estava retesado, contorcido em remorso e dor, quando os olhos dela, lacrimosos e feridos, encontraram os meus. Com a voz embargada, ela prosseguiu, aproximando-se ainda mais, de modo que sua respiração me atingisse a cada palavra:
- Você passou muito tempo lutando por mim... Agora é minha vez de lutar por você. E eu vou ter você de volta... Não importa o que eu tenha que fazer.
Não... Esse não era o momento. Eu tinha certeza de que não conseguiria me doar por completo, do jeito que ela merecia, não depois de remexer tanto em memórias que há muito eu acreditei estarem mortas. Eu precisava me tornar um homem melhor, verdadeiramente melhor, se quisesse ser digno de uma mulher como ela.
Semanas, meses, anos, mas ela entenderia. E então, quem sabe, pudéssemos tentar de novo.
Baixei os olhos, rompendo o contato visual entre nós, e involuntariamente fixei-os em seus lábios, tão próximos e tão convidativos. Eu podia não ter certeza de muita coisa, mas a atração que tomava conta de mim a cada vez que me pegava fitando aqueles lábios era uma delas. Qual não foi a minha surpresa ao senti-los pressionados contra os meus um milésimo de segundo depois, quentes e macios como minha memória ainda preservara desde a última vez em que nos beijamos... Quando tudo ainda parecia tão certo.
Após um breve momento que me pareceu eterno, ela voltou a se afastar, e como eu havia feito há poucos minutos, me deixou sozinho outra vez, seguindo na direção pela qual havíamos vindo sem dizer mais nada. Encarei o chão, de onde seus pés haviam partido segundos atrás, por um longo tempo, sobrecarregado demais para me mexer, até que, com o último fio de sanidade que me restava, reuni forças para entrar no carro e retornar ao lugar de onde eu havia vindo, e que muito em breve pretendia deixar.



CONTINUA...

domingo, 3 de novembro de 2013

FanFic - Biology 2 Capítulo 6





(Niall Horan’s POV)


O pôr-do-sol banhava com gentileza a faixa de asfalto em meio à grama, uma fria brisa de fim de tarde encontrando seu caminho por entre os galhos das árvores e fazendo as folhas silvarem timidamente. 
Respirei fundo, absorvendo a paisagem solitária. O vento atingia meu rosto em golpes macios, entrando pela janela do carro como se tivesse medo de que eu o repelisse com minha indiferença. Meu coração batia forte, meu olhar perdido no horizonte deserto. Em poucas horas, eu estaria de volta à vida real, de volta a todos os problemas dos quais tentei escapar pelas últimas duas semanas. 
Eu não sabia se estava pronto para voltar. A cada vez que piscava, olhos azuis cheios de dúvida me encaravam no auge de sua inocência, mil perguntas colidindo em suas grandes íris. 
A palavra pai parecia estrangeira, nem um pouco familiar para ambos, por mais contraditório que isso soasse. O abraço, apesar de apertado, não fora íntimo; o sorriso, por sua vez, compensara a falta de um dente com a perfeita materialização de um sonho realizado, expandindo seus horizontes como nada antes fizera. 
O leve estrangulamento intensificou-se ao redor de meu pescoço, ainda que mal representasse ameaça à sólida sensação de tomar a atitude certa reinando em meu peito. Ali estava mais uma pessoa – ou um pequeno ser humano que mal podia esperar para que eu o ajudasse a se tornar uma – que esperava algo de mim. 
Pelos resquícios de integridade ainda presentes em mim, pedi para que aquele olhar esperançoso não fosse mais um dos muitos outros que manchei com decepção. 
Eu não sabia se estava pronto para voltar. Mas eu precisava voltar. 
Engoli em seco, apertando o volante e tentando me focar na estrada. Difícil. Minha mente divagava à medida em que me aproximava de minha última parada, minha última relação com o surreal, com o inexistente. Com o passado. 
Me perguntei se ainda doeria. Fazia tantos anos... Por mais que o tempo já tivesse cumprido seu dever e se encarregado de amenizar a dor, a cicatriz emocional sempre existiria, impedindo-me de esquecê-la, mesmo que já desbotada. 
Parei o carro rente à grama, levando comigo a singela rosa em meus dedos trêmulos ao caminhar por sobre o verde. Não olhei ao meu redor; eu já sabia que caminho seguir sem precisar me orientar. 
Meus pés desaceleraram ao me aproximar do granito antigo. O nó em meu peito, que a anatomia chamava de coração, apertou-se; tudo estava acontecendo exatamente como sempre. Quis rir de mim mesmo por pensar que algo mudaria. 
Ajoelhei-me de frente à lápide, meus dedos abandonando a rosa diante dela e percorrendo a fria superfície onde letras em dourado resistiam ao tempo, persistentes em sua função de representar a dor ali enterrada. 

Lucy Davies 
(17/02/1978-10/09/1991) 
Amada filha


Minha garganta se fechou ao fitar a foto sobre os dizeres. Não ousei encará-la por mais que dez segundos, as lembranças fluindo livremente por todo o meu corpo e me causando arrepios. 
Muito do que eu era podia ser explicado por elas. Eu me recordava de tudo, com tamanha intensidade que relembrá-las era como voltar no tempo. A culpa se enroscava ao redor de meu estômago como uma serpente, aniquilando-o em seu aperto e provocando náuseas. Em meio à tortura silenciosa sob a qual minha mente submetia meu corpo, fui capaz de pedir, mais uma vez, desejando mais do que tudo ouvir alguma resposta. 
- Me desculpe. 
Não seria diferente. O perdão nunca viria. 

Respirei fundo ao fechar a porta do carro, minha última missão pendente antes de regressar à vida que eu planejava consertar cumprida. Esfreguei os olhos, afastando as incertezas que ainda os assombravam, e mantive-os baixos por alguns segundos. 
Um brilho prateado em meu pescoço atraiu minha atenção, e instintivamente meus dedos se fecharam ao redor do pequeno pingente sob minha blusa. O presente sempre encontrava uma maneira de se fazer notar. 
Duas semanas. E enfim, seus olhos corroídos pelo desapontamento haviam perfurado a última barreira que protegia meus raros sonhos. 
Afinal, não se pode sonhar se não se dorme, certo? 
Relembrando como minha vida era poucos dias atrás, duvidei da teoria. Sonhos podiam sim acontecer mesmo de olhos abertos. 
Pesadelos não eram exceção, aprendi mais tarde; a dor era igualmente ou talvez ainda mais real que a alegria. 
Me perguntei se tudo havia sido um devaneio. Talvez se eu me esforçasse para despertar de meu transe, acordaria em minha cama, atrasado para dar aulas. Nos encontraríamos nos corredores por uma coincidência muito bem arquitetada, e eu lhe sopraria algumas palavras infames para me divertir com a irritação em seus olhos. Com alguma resposta inteligentíssima ardendo em meu rosto como um tapa, eu olharia por cima de meu ombro para vê-la fugir de mim, e gravaria sua imagem para me fazer companhia mais tarde, nas noites em que o sono me faltasse e não houvesse outro alguém para realizar a função de minha mão. 
Sim... Tudo aquilo me parecia muito mais crível que a decepcionante versão que minha mente insistia em considerar verdadeira, e da qual eu já não podia mais fugir. 
Eu a havia conquistado; ela havia sido minha, porque realmente quisera ser. Pela primeira vez em muito tempo, eu sentia. Meu coração batia, meus olhos viam, minhas mãos tocavam. Mas sem que eu pudesse fazer qualquer coisa, ela havia me deixado. E então, eu deixei de sentir. Meu coração ainda batia, meus olhos ainda viam e minhas mãos ainda tocavam; porém, nada era como antes. Parecia não haver nada para ser bombeado a não ser o remorso, nada para ser visto a não ser o cinza, nada para ser tocado a não ser o frio. 
Novamente, eu estava sozinho. Mas a solidão se mostrava muito mais hostil depois que me permiti conhecer a felicidade, como se guardasse rancor do tempo em que lhe fui desleal. Uma lição que eu aprendia pela segunda vez: não se entregue a ninguém, não deseje ninguém; uma vez feita a troca, corre-se o risco de, na pior das hipóteses, perder ambos. 
Acontece que as piores hipóteses tinham um fraco por mim. 
Demorei a perceber que havia voltado a dirigir, perdido em pensamentos; horas haviam se passado, porque já estava em Londres. Felizmente, consegui completar o trajeto sem me envolver em acidentes ou infringir leis de trânsito, apesar de minha mente estar bem longe da estrada. Reforcei a atenção nos últimos minutos do caminho, dirigindo com toda a concentração que pude reunir, até estacionar na garagem de meu prédio. 
Lar, doce lar. 
Refreei meu pensamento. O que me esperava a alguns metros de altura? Nada além de paredes frias, escuro e vazio. 
A palavra lar e a sensação de conforto que trazia consigo parecia alienígena em meio à imagem que surgiu em minha cabeça. Algo estava faltando, algo essencial; desejei com todas as minhas forças que todo o resto desaparecesse se este fosse o preço para recuperar o que havia perdido. Mas como eu já havia aprendido muito bem, quando o assunto era (S/N), não havia muito que o dinheiro pudesse fazer. 
Relutante, peguei minha mala e subi para meu andar, encontrando-o exatamente como previra. Nada estava fora do lugar, o que teria sido um tanto incomum para meus padrões se eu já não soubesse que ela fazia questão de deixar tudo em perfeito estado antes de ir embora, como se fosse responsável por cada centímetro de bagunça. 
Quem eu estava tentando enganar? Eu não duraria dois dias sem ela. Não ali, onde tudo ainda tinha seu cheiro e parecia acostumado à luz e ao calor de um relacionamento feliz. 
Abandonei a mala em algum lugar e de imediato preparei um drinque, necessitando do ardor do álcool em minha garganta para me distrair mesmo que minimamente. Fitei o nada, deixando meu corpo cair sobre o sofá. 
Agora que a solidão havia realmente me engolido, não consegui evitar que antigas recordações me fizessem companhia; um homem nunca estaria realmente só enquanto ainda guardasse suas lembranças, ainda que no lugar mais longínquo possível de sua mente. 

Flashback – vinte anos atrás 

Fechei os olhos, deixando que as correntes do balanço onde estava sentado me acalentassem em meio ao calor da tarde. Eu estava chateado; meus primos não ficariam para aquelas férias de verão. Tinham acabado de partir para a casa de veraneio dos pais, e devido às minhas recentes notas insatisfatórias, mamãe havia me proibido de ir junto. 
Maldita matemática. 
Com as pontas dos pés tocando o chão, impulsionei-me, ganhando altitude cada vez mais depressa. Ameacei sorrir, gostando da pequena aventura, até que com um estalo vindo da estrutura de metal, encontrei o chão. 
Caí sobre meu braço, tentando em vão proteger o rosto do impacto com a terra. Meu nariz formigou, inundando meus olhos fechados, e mais que depressa me sentei, esperando me recompor o mais depressa possível do vergonhoso ocorrido. Senti meu joelho arder, e notei um corte na pele que aos poucos começava a sangrar. 
Nada estava dando certo naquele início de férias. Fechei a cara, preparado para me levantar e marchar até meu quarto para não sair de lá tão cedo, quando algo chamou minha atenção. 
- Espera! 
Sobressaltei-me ao ouvir a voz desconhecida e inesperada, e olhei em sua direção. Uma garota pulava a cerca que separava nosso jardim da casa vizinha, e correndo até mim, cobriu delicadamente meu machucado com um Band-Aid colorido. 
- Pronto – ela sorriu, parecendo satisfeita com seu socorro. Ainda envergonhado e assustado com sua presença, levei algum tempo para responder. 
- Obrigado – gaguejei, piscando várias vezes para mascarar as lágrimas que haviam se acumulado ali. Ela riu baixo. 
- De nada. Quem é você? 
Lancei-lhe um olhar inseguro. 
- Niall – respondi simplesmente. 
- Niall de quê? 
- Horan. 
A garota sorriu e estendeu uma mão em minha direção. 
- Sou Lucy. Lucy Davies. Tenho treze anos. E você? 
- Onze – falei apenas, ainda intimidado, e percebendo que ela insistia no cumprimento, levei minha mão até a dela num rápido aperto. 
Um belo erro. 
- Ai! – choraminguei, trazendo meu braço para perto do corpo num reflexo. A dor em meu pulso derrotou qualquer tentativa de combater o choro, que veio em poucos segundos. 
Não demorou muito para que minha mãe viesse até mim, confusa, e de olhos fechados, ouvi a tal Lucy contar o que havia acontecido. Mamãe me ajudou a ficar de pé, e em pouco tempo estávamos no hospital, onde um médico engessava meu punho quebrado. Dois meses imobilizado. 
Definitivamente, nada estava dando certo. 
Voltei para casa em menos de uma hora, cabisbaixo e conformado com o tédio que me acompanharia pelas próximas semanas. Para melhorar meu humor, mamãe dissera algo sobre me ajudar a estudar matemática, já que não haveria mais nada para fazer. Ótimo. 
Depois do jantar, sentei-me nos degraus da varanda, cutucando o gesso sobre meu colo, com cuidado para não doer. Não fiquei sozinho por muito tempo. 
- Oi. 
Eu a havia visto se aproximar dessa vez, poupando-me do susto. Forcei um sorriso. 
- Oi. 
- Está doendo? – Lucy murmurou, com o olhar fixo em meu braço; neguei com a cabeça – Me desculpe por ter apertado sua mão. Eu não sabia. 
- Tudo bem, não foi sua culpa – falei, dando de ombros e indicando meu joelho – Obrigado pelo Band-Aid. O médico teve que colocar outro no lugar depois de limpar o corte. 
- Tudo bem, eu tenho outros – ela repetiu, mexendo numa pequena bolsa de lã pendurada em seu ombro transversalmente – De que cor você gosta? 
- Azul – respondi, esperando até que ela encontrasse o curativo certo, e franzi a testa ao ver que ela havia pegado dois iguais. 
- Pronto – Lucy disse, colocando um deles sobre meu gesso e estendendo o outro a mim – Pode ficar com esse. 
- Obrigado – sorri, dessa vez genuinamente, guardando o presente em meu bolso – Eu nunca tinha visto Band-Aids coloridos que nem os seus. 
- É porque só eu tenho – ela riu baixo, lisonjeada – Eles só são coloridos porque eu uso canetinha neles. 
Ergui as sobrancelhas, surpreso. 
- Mesmo? 
- Mesmo. 
Observei a pequena tira azul sobre o branco do gesso. A pergunta que eu estava acanhado demais para fazer saiu de sua boca. 
- Quer colorir Band-Aids comigo? 
Voltei a encará-la, minha resposta nítida em meu sorriso. 
A partir desse dia, Lucy fora oficialmente incluída em minhas restritas brincadeiras. Eu não podia correr, mas descobri que havia muito a ser feito para me divertir sem que meu braço fosse comprometido. Perdi a conta de quantos quebra-cabeças montamos naquelas férias, de quantas horas passamos lendo gibis e fingindo sermos super-heróis, de quantas competições de quem ficava mais tempo sem piscar ou respirar fizemos, de quantas histórias de terror ela havia me contado para me deixar com medo de dormir sozinho à noite... De certa forma, Lucy havia me acolhido como um irmão caçula. Sempre que eu conseguia melhorar nas lições de matemática que mamãe me dava, ela colocava mais um Band-Aid colorido em meu gesso, agora cheio de desenhos que havíamos feito juntos. Sempre que eu me irritava por perder em uma brincadeira, ela me fazia cócegas e em cinco minutos eu já me esquecia da derrota. 
- Sabe... Meu irmão bem que podia ser como você. 
Desviei os olhos da centopéia que cambaleava sobre o parapeito da varanda de sua casa. 
- Irmão? – Franzi a testa, tentando me lembrar de alguma menção anterior. – Pensei que você era filha única como eu. 
- E eu sou – ela sorriu, erguendo os olhos até mim – Mas se um dia eu tiver um irmão, quero que seja assim que nem você. 
Sorri de volta, empolgado. 
- E se um dia eu tiver uma irmã, quero que seja como você. 
Lucy cerrou os olhos, como sempre fazia ao ter uma idéia. 
- Quer ser meu irmão? 
Pisquei duas vezes. 
- Isso é possível? 
- Claro que é. Basta a gente querer. 
- Então eu quero. 
- Tá, agora me pergunta de volta. 
- Você quer ser minha irmã? 
- Quero! 
Sorrimos um para o outro. Eu tinha uma irmã agora! E ainda por cima mais velha, o que era sempre mais legal. Ela cuidaria de mim e me ajudaria com a lição de casa quando as aulas voltassem, o que aconteceria dali a uma semana. 
Eu e meus primos voltamos à escola; Lucy, não. 
Durante todo o caminho de volta, tentei pensar em possíveis motivos para justificar sua ausência. Todos eles simplesmente sumiram ao avistar minha casa. 
E o monte de cinzas bem ao seu lado. 
- Lucy! – gritei, largando minha mochila no meio do caminho e correndo na direção do que restava da casa dos Davies, sendo barrado por um bombeiro antes mesmo de pisar no jardim. Minha mãe surgiu na mesma hora, puxando-me para perto de casa com choque no rosto, e eu não consegui parar de chamar por ela, me debatendo para me livrar dos braços firmes que me prendiam no lugar. Lágrimas inundavam meus olhos desesperados, e eu mal percebia o que acontecia ao meu redor a não ser o trabalho dos bombeiros. Eu precisava saber onde ela estava, eu precisava vê-la... 
- Querido, você precisa se acalmar – minha mãe implorou, apertando-me contra seu corpo e me carregando para dentro de casa. Tentei me libertar, em vão. 
- Eu preciso ir até lá! Ela precisa de ajuda! – eu gritei o mais alto que pude, soluçando sob o olhar torturado de minha mãe – Você não entende? Ela precisa de mim! 
Vi lágrimas se formarem em seus olhos, e seu silêncio aos poucos se tornou ensurdecedor, a verdade muda infiltrando-se em meus ouvidos. 
- Não... Não, mãe, não – murmurei, as palavras deixando minha garganta com dificuldade – Diz alguma coisa, por favor, diz... 
Perdi completamente a força, enterrando o rosto em seu abraço ao permitir que o choro me engolisse. Gritei. Gritei muito. Chorei, mal conseguindo respirar. Fechei os olhos com força, lembrando-me dela, meu coração doendo mais do que nunca. 
Lucy tinha morrido. Minha irmã... Eu era filho único outra vez. 
Meus olhos ardiam, inchados após horas de choro. Não estendi o braço para pegar o copo de água com açúcar que papai me dera. Não tive vontade. Apenas encarei o nada, lágrimas agora silenciosas escorrendo por meu rosto e que mamãe insistentemente enxugava, escondendo as suas ao máximo. 
Ela havia me ajudado tantas vezes... Desde a primeira vez em que nos falamos, quando fez um curativo em meu machucado, até a noite anterior, quando nos despedimos com sorrisos ansiosos pelo primeiro dia de aula que viria depois que ela me ajudara a consertar uma boneca de Emily que eu havia quebrado. 
Eu não estava lá quando ela precisou de ajuda. Quando, segundo o que ouvi os bombeiros dizerem a meus pais algum tempo depois, um curto-circuito no andar de baixo iniciou um incêndio que rapidamente se alastrou por toda a casa, que já era bastante antiga, deixando-a presa no quarto assim como seus pais. 
Eu não pude fazer nada para ajudá-la. Ela simplesmente morreu... Sozinha. 
Não fui ao enterro. Afinal, não havia nada para ser enterrado. Apenas uma lápide fora colocada, com uma foto do que um dia fora minha melhor amiga, e agora não passava de uma lembrança que muito em breve todos esqueceriam. 
Menos eu. 

Fim do flashback 

Nos mudamos daquela vizinhança em poucos meses, numa tentativa frustrada de meus pais de me tirar do escuro. Os olhos vazios e a incansável apatia me acompanharam, já parte de mim onde quer que eu fosse. 
Levei um ano para, aos poucos, despertar do entorpecente luto que caiu sobre mim e finalmente voltar a ser eu mesmo. 
Mas lá no fundo, eu sabia que muito havia mudado em meio à troca de pele pela qual passei... Como um enxerto que agora se confundia em meio a traços de minha personalidade, eternamente camuflado. 
Conforme os anos passaram, descobri que havia me tornado incapaz de algo muito humano: me entregar a alguém. Durante a adolescência, nunca me apaixonei. Nunca tive namoradas fixas, que durassem muito mais que um fim de semana ou dois. Na faculdade, apesar de despertar muitas paixões, nunca as retribuí inteiramente. Me sentia oco, impossibilitado de desenvolver pelos outros o que eles desenvolviam por mim. Nunca sofri por amor; terminava relacionamentos da mesma maneira que perguntava as horas a algum transeunte. A única dor passional que sentia era a dos tapas das garotas que dispensava, nada que algumas cervejas não anestesiassem. 
Me formei, e vi muitos amigos casarem. Nunca me via em seus lugares, com as mãos frias e suadas ao esperar pela mulher de minha vida no altar. Não acreditava no amor, apenas na conveniência de ter alguém em quem se apoiar. 
Engraçado como a vida pode mudar em um minuto. 

Flashback – três anos atrás 

- Bom dia. Meu nome é Niall Horan e eu serei seu professor de biologia laboratório esse ano. 
Sorri cordialmente ao receber um uníssono bom dia como resposta, respirando fundo ao analisar os cerca de trinta pares de olhos curiosos que me encaravam. 
Mais um ano começara. A revigorante sensação de ensinar para alunos que nunca haviam tido uma aula sequer comigo, sempre bem-vinda, se espalhava por meu corpo conforme eu circundava minha mesa, sentando-me sobre a madeira de maneira informal. 
- Como hoje é nossa primeira aula, não faremos muito mais que a introdução às regras do laboratório e apresentação dos aparelhos que nos ajudarão em nossos relatórios – continuei, cruzando os braços sobre o peito – Porém, não se deixem enganar; o que veremos nos próximos minutos será de extrema importância para a praticidade e segurança do resto de nossas aulas. Portanto, muita atenção. 
Alguns alunos sacaram cadernetas e canetas, prontos para anotar todas as minhas palavras. Típico. 
- Vamos começar pelas regras. Como faremos vários experimentos envolvendo produtos químicos que podem ser perigosos caso entrem em contato com a pele ou manchar as roupas, o uso do avental é imprescindível. 
Indiquei o jaleco branco que usava, e aguardei até que os alunos que anotavam minhas instruções descansassem novamente as canetas sobre a mesa. Prossegui com minhas recomendações e em cerca de vinte minutos todas as informações necessárias já haviam sido transmitidas. Anotei alguns detalhes extras no quadro após distribuir uma folha com o desenho de um microscópio e as indicações de todos os nomes das partes que o compunham para uso futuro. 
- Por hoje é só... Na próxima aula começaremos a observar células humanas no microscópio, complementando a aula teórica de introdução à citologia. Alguma dúvida? Como de costume, intimidados pelo primeiro contato, ninguém ergueu a mão. Dei de ombros. 
- Tudo bem, sintam-se à vontade para perguntar caso tenham dúvidas posteriores – sorri, sentando-me em minha cadeira - O sinal deve tocar daqui a dez minutos, então prossigam com suas anotações. Ah, e antes que eu me esqueça, um conselho: se eu fosse vocês, escovaria bem os dentes antes de nossa próxima aula. Afinal, nunca se sabe quando se terá que fazer raspagem bucal para observação em microscópio. 
Alguns risos tímidos preencheram o laboratório, e eu mesmo ri de minha indireta, fazendo algumas anotações em minha caderneta. Suspirei baixo, largando a caneta e observando o comportamento sempre divertido dos novatos com leve interesse, até meus olhos encontrarem algo que seria cômico, se não fosse trágico. 
Uma garota, com os cabelos firmemente presos num coque, lutava para dobrar as mangas de seu jaleco, que insistiam em desobedecê-la e voltar a cobrir suas mãos. 
Comprimi meus lábios, sufocando um risinho, e continuei olhando até que ela bufou, com um leve tom avermelhado no rosto, fazendo com que uma mecha solta de sua franja voasse repentinamente e caíssem com leveza sobre seus olhos. Não resisti. 
- Espera – murmurei, aproximando-me em poucos segundos e dobrando habilmente suas mangas – Pronto. 
As palavras me soaram familiares por algum motivo, mas ignorei o pensamento naquele instante. A garota me olhou por alguns segundos, surpresa com minha ajuda inesperada, e o rubor em suas bochechas intensificou-se. Olhando em volta discretamente, perguntando-se se o resto da turma havia percebido a atenção especial e notando que os alunos pareciam mais interessados em suas próprias conversas, ela sorriu fraco, baixando os olhos para seus pulsos visíveis. 
- Obrigada – sua voz baixa disse, e eu libertei meu riso curto ao vê-la me olhar com certa vergonha – Acho que esse avental é um pouco... Grande. 
- Percebi – comentei, erguendo as sobrancelhas por um instante – Não precisava usá-lo hoje, só começaremos a mexer com material de laboratório na semana que vem. 
Ela piscou algumas vezes, parecendo desapontada, e por algum motivo minha voz agiu independentemente. 
- Mas tudo bem. Você seguiu o procedimento desde a primeira aula. Deve ser uma aluna dedicada. 
Seus olhos, antes um tanto baixos, voltaram a fitar os meus, e um sorriso que parecia ter luz própria surgiu em seu rosto. Engoli em seco. 
Um gancho invisível pareceu me puxar pelo estômago, e por um segundo eu não estava mais no laboratório. 
Eu estava na varanda dos Davies, brincando com Lucy. 
Senti a cor deixar meu rosto gradativamente. 
- Eu realmente adoro biologia – a garota disse com confiança na voz, despertando-me de minha viagem ao tempo – Talvez porque meu pai é médico e sempre me ensina uma coisa ou outra sobre o assunto. 
Assenti, sem conseguir tirar os olhos dela, que agora parecia mais à vontade com minha presença. Meu coração batia forte, e eu tive medo de deixar transparecer algum tipo de emoção indesejada. 
- Como é o seu nome? – gaguejei, considerando a hipótese de seu sobrenome ser familiar; não que a fisionomia fosse parecida, mas algo nela trazia de volta algumas lembranças que eu tomei o cuidado de manter distantes há alguns anos. 
- (S/N) (Seu sobrenome) – ela respondeu prontamente, as pontas de seus lábios curvadas num sorriso. Imitei sua expressão, um tanto frustrado com a resposta nada esclarecedora. 
- Muito bem, (Seu sobrenome)... Veremos se seu rendimento em minhas aulas será mesmo tão promissor quanto parece – falei, lançando-lhe um sorriso encorajador ao me afastar, retornando à minha mesa. De lá, tentando me recompor da repentina visita ao passado, observei-a sorrir para si mesma, anotando furiosamente algo em seu caderno, antes de o sinal tocar, liberando a turma de mais um dia letivo. 
(S/N) (Seu sobrenome)... Definitivamente, um nome do qual eu deveria me lembrar. 

Fim do flashback 

Me peguei sorrindo ao voltar ao presente. Ela sempre fora adorável aos meus olhos. 
Não comecei a me empenhar tanto em chamar sua atenção tão repentinamente; o primeiro ano foi apenas de observação, as reviravoltas em minha mente buscando sua origem em cada detalhe, sem encontrar respostas. 
Dizer que desisti de entender não seria de todo verdade. Vez ou outra, quando ela adormecia em minha cama, as dúvidas voltavam a formigar em minha mente sonolenta, mas não se demoravam. Tudo que importava era o momento, e a vivacidade com a qual meus sentidos percebiam o corpo dela ao lado do meu.
Virei a dose de whisky em um único gole, espantando as memórias e voltando a me focar no presente. Meus olhos pairaram sobre a mesa de centro, mais especificamente no brilho metálico das chaves do carro, e tirando coragem do álcool ainda queimando em minha garganta, fiquei de pé novamente, pegando-as antes de seguir rumo ao elevador. 
Como alguém me ensinara há muitos anos, certas coisas na vida devem ser feitas como retirar Band-Aids: rapidamente para evitar prolongar a dor. 
No fundo, eu sabia que não seria exatamente o caso. 



CONTINUA...