domingo, 27 de outubro de 2013

FanFic - Biology 2 Capítulo 5





- O quê?
De alguma forma, as palavras escaparam por minha boca, mesmo que eu duvidasse de que era capaz de falar.
- Ele sabe disso, Emily também, é claro, a família toda sabe – Elliot continuou, detendo-se aos fatos e ignorando minha pergunta – Ele não quis assumir o filho e manda algum dinheiro todo mês como pensão, mas nunca...
- Elliot, você está aí!
Eu teria pulado de susto se já não estivesse completamente paralisada ao ouvir a voz de Emily unindo-se a nós na sacada.
- É, eu... Eu vim fumar – ele mentiu, colocando a mão no bolso e tirando um cigarro dali no maior estilo blasé, como se eu mal estivesse ali. Excelentes atores, eles.
- Você pode fazer isso mais tarde, papai quer falar com você agora – ela disse, tirando o cigarro de sua mão e me lançando um sorriso rápido – Desculpe, se importa se eu roubá-lo um pouquinho?
Balancei a cabeça negativamente, forçando-me a reagir. Não adiantaria de nada ficar parada ali feito pedra e dar bandeira agora, por mais que eu não quisesse ter que encarar aquela situação.
Emily voltou para o interior da casa com o irmão em seu encalço, e ele me lançou um último olhar cheio de segredos antes de sumir de vista. Dei as costas para a porta da sacada, respirando fundo algumas vezes, o pânico de antes reinando novamente, agora muito mais forte e mesclado a outro sentimento que eu infelizmente conhecia bem.
Traição.
Ele sabe disso.
Ele nunca quis assumir o filho.
Fechei os olhos, minha mente rodopiando perigosamente e me forçando a apoiar as mãos sobre o parapeito.
Havia algum motivo para tudo aquilo. Ele não teria simplesmente ignorado um filho por nada, não era possível. Ele não teria abandonado a própria prima com uma criança que também era sua e se livrado de todas as responsabilidades com apenas uma pensão mensal sem uma boa razão.
Uma peça muito importante estava faltando. E só havia uma pessoa que poderia completar o quebra-cabeça.
- Até que enfim te achei.
Meu corpo se retesou ao ouvir a voz de Niall, e logo em seguida seus braços envolvendo minha cintura. Tentei agir naturalmente.
- Pois é, eu... Precisava de um pouco de ar fresco.
- Com toda aquela gente fumando em cima de você, imaginei que você escaparia mais cedo ou mais tarde – ele riu baixo, plantando um beijo na curva de meu pescoço – Mas está frio aqui fora e você está sem casaco.
- Eu estou bem – falei apenas, desviando o rosto do dele e implorando para que ele não percebesse minha mudança de humor.
Obviamente, não funcionou.
- Aconteceu alguma coisa?
Meu coração quase parou ao ouvir sua pergunta. Por onde começar?
- Não... Eu só estou um pouco zonza mesmo – respondi, sem coragem de dizer a verdade e fingindo um sorriso – Minha cabeça está um pouco pesada.
Niall franziu a testa por um momento, desconfiado.
- Você está um pouco pálida... O que mais está sentindo? – ele murmurou, virando-me de frente para si e analisando meu rosto.
Havia tantas coisas que eu gostaria de responder! Mas eu ainda não estava pronta para aquele confronto. Minhas pernas tremiam e eu tinha medo de desmaiar a qualquer momento, subitamente sem chão. Como o homem que eu conhecia e o homem que abandonara seu filho com a própria prima podiam ser a mesma pessoa?
- Um pouco de fraqueza – falei, evitando contato visual – Eu acho que vou me deitar.
- Tem certeza? Não é melhor chamarmos um médico? Você estava bem há pouco tempo – ele disparou, impedindo que eu me movesse quando ameacei seguir para a sala de estar – Isso não é normal, (S/N).
Muitas coisas sobre você não são normais também, é o que descubro a cada minuto que passo aqui.
- Só preciso descansar – neguei, empurrando-o pelo peito discretamente, sentindo-o me acompanhar ao caminhar até a porta - Não precisa subir comigo, fique com a sua família...
- Não vou te deixar sozinha – Niall me interrompeu, com a expressão firme e preocupação nos olhos. Lembrete: não tente contato visual outra vez a não ser que queira mesmo desmaiar.
Nos despedimos de todos rapidamente, seguindo para o quarto em silêncio. Vesti meu pijama enquanto ele me observava, prestes a se atirar no chão caso eu perdesse a consciência – sua reação quando eu quase tropecei na calça do pijama foi prova suficiente disso – e sem mais conversa me deitei, de costas para seu lado da cama.
- Me avise se sentir algo diferente, está bem? Eu não vou sair daqui – o ouvi sussurrar algum tempo depois, deitando-se ao meu lado e beijando o topo de minha cabeça, aconchegando-me contra seu corpo. Fechei os olhos com força, afastando algumas lágrimas confusas que ameaçavam se formar neles, e assenti de leve.
Mal fui capaz de pregar o olho pelo resto da noite.
Niall demorou a cair no sono, alerta para qualquer chamado meu, que nunca veio. Já era quase manhã quando seu braço finalmente relaxou sobre minha cintura, e com todo o cuidado que pude juntar, me esgueirei para fora da cama, calçando as mesmas sapatilhas do dia anterior e deixando o quarto.
A casa estava deserta conforme eu caminhava silenciosamente rumo à área externa. De braços cruzados para combater a fria brisa matinal, ainda intocada pelos primeiros raios de sol, vaguei pelos jardins sem pressa, muito menos direção. Minha mente trabalhava sem parar desde a noite anterior, ruminando as palavras de Elliot e tentando preparar meu coração para o que mais cedo ou mais tarde viria.
Eu precisava conversar com Niall.
Me sentei sob uma árvore, abraçando minhas pernas dobradas contra o peito e afundando o rosto entre meus joelhos. Estava com dor de cabeça há horas e minhas pálpebras imploravam por descanso, apesar de meus pensamentos agitados. Fechei os olhos, soltando um suspiro angustiado que havia prendido a noite toda, e tudo ficou silencioso por um segundo.
- Querida... O que você está fazendo aqui?
Acordei num pulo, olhando na direção da voz, e me deparei com Audrey a alguns metros de distância, alarmada com minha presença. Já estava mais claro, o que me fez deduzir que eu havia pegado no sono por algum tempo.
- Eu... Me desculpe – murmurei, esfregando os olhos com as costas das mãos, só então percebendo que estava congelando – Eu não consegui dormir e resolvi dar uma volta... Acabei cochilando.
- Tudo bem, não precisa se desculpar – ela sorriu, aproximando-se e agachando ao meu lado, com uma mão solidária em meu ombro – Você parecia fraca ontem à noite... Está melhor?
Hesitei antes de responder, sem saber o que dizer. Eu queria, precisava me abrir com alguém, e quem seria melhor que a mãe dele?
- Não exatamente. Na verdade... Tem uma coisa que eu preciso perguntar.
Audrey franziu o cenho levemente.
- Pois então pergunte.
Mais hesitação. Respirei fundo.
- Por que... Por que Niall abandonou Ben?
As feições antes leves deram lugar à seriedade e contenção. Eu sabia que seria assim. Ela não me responderia com toda a felicidade do mundo depois de trazer à tona tão inesperadamente um assunto íntimo de família.
Levou algum tempo, mas ela finalmente respondeu, esboçando um sorriso sem humor.
- Creio que isso é obra do Elliot... Acertei?
- Não quero prejudicar ninguém – respondi evasivamente, mas ela não precisava de minha confirmação para tirar suas próprias conclusões.
- Eu não sou a pessoa mais apropriada para responder suas perguntas – Audrey disse, num tom baixo e educado – Só... Por favor, tome cuidado. Não é o assunto preferido entre os familiares... Então procure a pessoa certa para sanar suas dúvidas. E vá para dentro, faz frio de manhã aqui fora.
Observei Audrey se levantar com um olhar contido, sem deixar margem para mais perguntas. Mesmo que eu tivesse todo o discurso preparado em minha mente, as palavras jamais sairiam de minha boca depois de sua resposta. Era nítido que ninguém se comprometeria a falar sobre aquele assunto, nem mesmo Emily... A não ser Elliot, que agora, como ele mesmo havia dito, não teria a mínima chance de conversar comigo depois que descobrissem o que me contara.
E Niall.
De volta à estaca zero.
Levei alguns minutos para me recompor, levantando-me e seguindo para o interior da casa. O corredor ainda estava deserto quando voltei para o quarto, e me sentei na poltrona próxima à cama, observando o homem que dormia pesadamente sobre o colchão.
Quem era ele?
Estava na hora de descobrir. Chega de temer, chega de fraquejar. Eu precisava saber.
Assim que ele acordasse, eu o confrontaria. Não conseguiria passar mais um minuto sequer perto dele sem externar tudo o que estava enjaulado em minha cabeça.
E então eu esperei. Foi menos difícil cochilar algumas vezes agora que eu tinha tomado uma decisão, mas eu acordava sempre que ele se remexia na cama, esperando encontrá-lo de olhos abertos a cada vez.
Enfim, isso aconteceu.
- Bom dia.
Abri os olhos, piscando algumas vezes até focalizá-lo, e meu coração parou por um instante. Não me permiti voltar atrás.
- Bom dia.
- Por que não está deitada? – ele perguntou, sentando-se sobre a cama e ostentando leves olheiras sob seus olhos atentos – Aconteceu alguma coisa?
- Eu estou bem – afirmei, me sentindo culpada por tê-lo deixado preocupado com meu suposto mal estar – Só tive uma noite difícil.
Uma leve confusão tomou conta de seu rosto.
- Difícil? O que eu perdi?
Respirei fundo, sem perder a determinação, e comecei uma conversa que poderia acabar muito mal.
- Eu sei que o Ben é seu filho.
Um longo silêncio caiu sobre nós, tornando nosso contato visual quase insuportável combinado à tensão que nos envolvia. Ele soltou um riso nervoso, me olhando como se eu tivesse três cabeças.
- O que você está dizendo?
- Eu já sei de tudo, não adianta negar – insisti, firme em minhas palavras – Eu sei que você sabe, eu sei que todos sabem... Eu sei.
Seus olhos se arregalaram levemente, e depois se fecharam com força, desviando-se dos meus ao se abrirem outra vez. Sua testa se franziu como se estivesse sentindo dor, e gradativamente, ele voltou a me olhar.
Tentei engolir o choro, mas antes que meus esforços pudessem fazer efeito, meus olhos já estavam marejados. Eu já estava plenamente convencida de que era real, mas a parte de mim que vivia num mundo onde utópico onde nada jamais doeria ainda esperava que ele pudesse tirar aquela certeza de mim. Perceber em seus olhos derrotados que isso não aconteceria fez com que minhas resistências fraquejassem.
- Agora eu entendo o seu comportamento estranho de ontem à noite – ele soprou, sem conseguir sustentar meu olhar – Você descobriu a única coisa que não podia saber sobre mim.
- Como você foi capaz? – falei, mal esperando que ele terminasse de falar, deixando todos os pensamentos que me torturavam há várias horas escaparem por minha boca sem filtro – Como você consegue dormir à noite sabendo que seu filho pode estar precisando de você? Ou então, que ele nem sabe que você é o pai dele?
Niall não se mexeu, apenas me ouviu, sem mover um músculo. Ele sabia que tudo que eu dizia era a mais pura verdade, e impulsionada por minha raiva, continuei despejando minha indignação nele.
- Você já parou pra pensar que ele sente sua falta? Que durante esses poucos anos de vida, ele se pergunta por que você o deixou? Você sequer passa algum tempo com ele quando visita seus pais? Você sequer fala com ele? Você sequer sabe que ele existe?
- Eu não estava pronto pra ser pai! Aquilo foi um acidente, nós não devíamos ter deixado acontecer! – ele exclamou, levando uma mão ao rosto e em seguida puxando seus cabelos para trás em sinal de nervosismo – Eu não estou preparado pra isso... Não posso encarar uma situação dessas, você não entende?
- Não, Niall, eu não entendo – respondi, sentindo as primeiras lágrimas rolarem por meu rosto conforme ficava de pé, incapaz de controlar minha agitação – Eu não entendo como você está preparado para transar com a sua prima e não está preparado para criar o filho que fez com ela!
- Aquele filho arruinaria minha vida! – ele exclamou, com os olhos úmidos – Eu era jovem, estava apenas começando a minha vida fora da faculdade, não podia me prender a um filho, ainda mais da minha própria prima! Seria o fim de qualquer chance de ser feliz pra mim! Seria um peso, uma responsabilidade eterna que eu não queria!
Fiquei em silêncio, sem acreditar nas palavras que saíam de sua boca. Observei-o escorregar para fora da cama pelo outro lado, andando de um lado para o outro, tão decepcionada como nunca estive.
- Como você pode dizer essas coisas e não ter nojo de si mesmo? – murmurei, deixando as lágrimas caírem livremente; ele baixou seu olhar, afetado por minha pergunta, mas eu não me importei – Ele é só uma criança, Niall... Você já parou pra pensar que ele não tem culpa por ter nascido?
Fiquei em silêncio por poucos segundos, deixando que minha voz reverberasse em sua mente e o fizesse entender a profundidade dos danos que causara ignorando aquela criança desde que nascera.
- E quanto à Emily? – continuei, soltando um riso medíocre – Ela tinha praticamente a minha idade quando tudo aconteceu... E você a abandonou. Sozinha com um filho pra criar... Sabe, isso me faz repensar o quanto posso confiar em você.
- Não tente comparar duas situações completamente diferentes! – ele disse, exaltado – Eu... Eu amo você, jamais faria isso!
- Então o que a tornou tão diferente de mim foram seus sentimentos? – rebati, sem me deixar impressionar – Realmente, é assim que homens de verdade lidam com seus erros... Julgando-os pelo quanto se importam com as conseqüências deles!
- Por que você está me julgando? A vida é minha, o erro foi meu e você não tem nada a ver com nada disso! – Niall explodiu, avançando em minha direção, e eu não me mexi, finalmente recebendo uma resposta honesta – Eu não preciso da repreensão de ninguém, muito menos da sua!
Senti lágrimas queimando em meus olhos, desesperadas para caírem por meu rosto, mas eu as contive. Apenas encarei os olhos lunáticos dele, esboçando um sorriso satisfeito.
- Você tem razão – soprei, erguendo as sobrancelhas em tom de aprovação, e vi o turbilhão de sentimentos em seu rosto virar vazio enquanto ele se dava conta do que havia dito – Me desculpe por me importar.
Respirei fundo, vendo seus olhos rapidamente encherem-se d’ água, e caminhei devagar até a porta, sentindo meu corpo inteiro tremer. Antes que eu pudesse girar a maçaneta, ouvi sua voz perguntar num tom rouco.
- Aonde você vai?
Encarando o chão, sem forças para olhá-lo de novo, respondi friamente.
- Achar um jeito de voltar para casa.
- Espera, não faz isso... Calma, vamos conversar.
- Eu não quero mais conversar – falei, me encolhendo ao sentir que ele se aproximara e tentava segurar meu braço – Não com esse desconhecido.
Encarar a porta era mil vezes mais fácil que olhar para ele depois do que havia me dito. Por mais que seja difícil assumir um filho, nada justificava seu egoísmo e a maneira imatura com a qual resolveu a situação.
- Não sou um desconhecido – ele murmurou, sua voz fraquejando assim como minha respiração ao sentir a dor em seu tom – Eu só cometi alguns erros... Mas eu nunca... Nunca esperei que você seria a pessoa a me julgar por eles.
Fechei os olhos, desmoronando por dentro e tentando conter as lágrimas furiosas que se acumulavam em meus olhos.
- Eu sinto muito... Eu realmente sinto – solucei, virando-me de frente para ele e sentindo meu coração se contorcer ao ver sua expressão derrotada – Ter um filho não é uma questão de estar pronto ou não. Nunca se está pronto para ter um filho... Mas não é algo de que se possa fugir, uma vez feito. Essa criança precisa de você. E ela não pode esperar até que você esteja pronto para assumi-la. Você precisa se ajustar, não ele.
Enxuguei meu rosto com as mãos trêmulas, olhando-o com desapontamento. Niall encarava o chão, com o maxilar travado e os olhos inundados. Quando ele ergueu o olhar até mim, senti como se aquelas verdades estivessem sempre ali, enterradas em sua consciência, mas ninguém, nem mesmo ele, jamais as tivesse trazido à superfície. E agora que elas estavam tão nitidamente jogadas sobre seus ombros, o peso da culpa era quase maior do que o suportável.
- Não vá embora... Por favor – ele implorou, respirando profundamente na tentativa de se manter íntegro – Vamos conversar, me deixe explicar...
- Eu não tenho mais nada pra te dizer... E não sei se ainda há algo que você possa me explicar – suspirei, baixando meus olhos numa tentativa de reunir forças – Eu... Eu não sei se ainda posso confiar em você.
Seus olhos pareciam gritar, feridos com minhas palavras, e eu tive que me apoiar contra a parede para que minhas pernas não cedessem. Doía tanto em mim quanto nele, mas eu não podia voltar atrás agora que tudo já havia sido externado.
- Por que você está dizendo essas coisas? – ele perguntou num sopro, um tanto desesperado. As lágrimas agora caíam livremente por meu rosto.
- Eu preciso me afastar de você – respondi, fitando-o com o máximo de autocontrole que me restava, o que era praticamente nada - Talvez seja temporário, talvez...
Deixei a frase no ar, sem conseguir pronunciar seu fim, embora este ecoasse em minha cabeça. Talvez seja definitivo.
- Não – Niall reivindicou, segurando minhas mãos com os olhos vidrados – Não, você não pode fazer isso comigo! Isso não tem nada a ver com você!
- Eu não posso ignorar uma coisa dessas – falei, sentindo minhas mãos arderem dentre as dele, já sentindo uma falta que eu sequer podia mensurar de tocá-las – Eu não consigo. Eu olho pra você... Mas não é você que eu vejo... É outra pessoa. É o pai do Ben.
Niall vasculhou meus olhos, buscando algum fio de fraqueza no qual ele pudesse se agarrar e me fazer mudar de idéia, mas não havia nenhum. Por mais que aquilo doesse de uma maneira assustadora, eu sabia que estava fazendo a coisa certa por todos nós. Eu precisava seguir a razão daquela vez, e continuar agindo como se um filho não tivesse aparecido era simplesmente inaceitável, além de impossível.
- Por favor, me perdoe – ele soprou, apertando minhas mãos e me olhando com súplica – Eu sei que fui um monstro, mas eu quero consertar isso! E sei que não vou conseguir sozinho, não vou conseguir sem você, eu não posso te perder, muito menos agora!
- Eu não posso ficar se não confiar em você – sussurrei, com o olhar dilacerado por deixar aquelas sinceras e dolorosas palavras saírem – Enquanto eu não tiver essa confiança... Não vai acontecer. Eu não vou voltar.
Ele afrouxou a força em minhas mãos, e seu rosto esvaziou-se de emoções. Só havia o choque e a desolação. As lágrimas pareciam queimar minha pele, e antes que eu não tivesse mais forças para acabar com aquilo de uma vez por todas, me forcei a dizer uma última palavra antes de deixar o quarto:
- Desculpe.

Enxuguei uma lágrima que escorria pelo canto de meu olho enquanto o ônibus me levava de volta para Londres. O sol estava a pino, iluminando mais um lindo dia, mas dentro de mim só chovia.
Me despedir de todos não foi tão fácil quanto pensei; Audrey tentara me convencer a ficar, mas foi em vão. Emily chorava silenciosamente, me olhando como se tivesse destruído minha vida, o que não era bem o caso, apesar de doer da mesma forma. Ben apenas cochilava no sofá, alheio a tudo como sempre estivera.
Niall havia sumido. Depois que o deixei no quarto para arrumar uma maneira de ir embora, não o vi mais. Não consegui ir procurá-lo, o orgulho me dominando e a ele também; talvez mais adiante nós pudéssemos conversar de novo, quando parasse de doer tanto...
Abracei minha bolsa, respirando fundo e tentando dormir um pouco depois de uma noite inteira em claro... Sem sucesso.
Mesmo que eu conseguisse dormir, só o que conseguiria seriam pesadelos.
Novamente, meus pensamentos voaram para ele, por mais que eu tentasse desviá-los. A decepção em seus olhos, tão límpidos antes, tão escuros agora, o ardor de todas as palavras impensadas e cruelmente honestas... Era como se eu nunca mais fosse conseguir deixar aquela dor para trás.
Não, disse a mim mesma. Levaria algum tempo... Mas ele entenderia que fiz a coisa certa. Semanas, meses, anos, mas ele entenderia, e faria a coisa certa também. Eu sabia que ele faria.
E então, quem sabe, pudéssemos tentar de novo.
Mas por ora... Precisávamos aprender algumas lições e curar algumas feridas separados.



CONTINUA...

FanFic - Biology 2 Capítulo 4







Dormência.
Por mais que eu tentasse afrouxar o aperto de minha mão ao redor da maçaneta, meus dedos implorando por circulação sanguínea, meu cérebro estava muito ocupado tentando pensar em alguma saída para a súbita revelação que caíra como uma bigorna sobre minha cabeça.
Quando finalmente fui capaz de reagir, fiz a primeira coisa que me ocorreu, por mais estúpida que ela pudesse ser.
Num milésimo de segundo a porta estava aberta, e Elliot e Emily me encaravam com olhos surpresos.
- (S/N)... – ela começou num suspiro assustado, apesar de meus olhos estarem fixos no irmão – Desculpe pelo barulho, eu...
- É verdade?
Minha voz saiu rouca e grave, e só então me dei conta de que mal havia respirado desde que começara a ouvi-los. Não consegui regularizar a situação, que por sinal só piorou, já que eu estava prestes a receber uma resposta e a adrenalina em meu sangue pareceu duplicar.
- O quê? – Emily perguntou, franzindo a testa em confusão. Bufei, revirando os olhos. Não era hora para desconversar!
- O que você ia me dizer – insisti, ainda focada em Elliot – Sobre o Ben... Ele é... Ele é filho do Niall?
- Quê? – Elliot riu, olhando para a irmã com incredulidade e levando alguns segundos para voltar a falar, como se o choque que minhas palavras o causaram tivesse roubado as dele – Eu já tinha percebido que você era bobinha, mas maluca também? Como ele traz uma doida dessas pra cá?
- Eu não sei o que você ouviu... – ela o interrompeu antes que ele pudesse continuar, lançando-lhe um olhar de censura e abafando seus risinhos antes de se voltar para mim, que apenas franzi a testa e esperei pelo momento em que tudo faria sentido de alguma forma – Mas o que você acabou de dizer é simplesmente absurdo.
- Eu ouvi a conversa de vocês... Eu... Mas...
- Você...? – Elliot ergueu as sobrancelhas, parecendo impaciente e me olhando como se eu estivesse numa camisa de força. Emily ostentava a mesma expressão, porém bem mais atenuada. Engoli em seco.
Talvez eu tivesse interpretado erroneamente a conversa dos dois... Talvez eles nem estivessem falando sobre Niall. Eles não estavam exatamente próximos da porta... E se eles estivessem apenas passando pelo corredor discutindo sobre alguém ser pai de Ben e eu tivesse inventado todo o resto em minha cabeça?
Que vergonha.
- Uh... Eu... Me desculpe – gaguejei, olhando de um para outro com extremo embaraço, na certeza de que meu rosto ficava cada vez mais vermelho a cada segundo – Mas é que eu ouvi vocês conversando e por um momento... Por um momento eu pensei que...
- Pensou errado – Elliot concluiu por mim num tom irritado, erguendo uma sobrancelha – Agora pare de ficar escutando a conversa alheia pelo outro lado da porta e vá se arrumar para o jantar. Audrey é pontual quanto às refeições e você ainda está horrorosa.
- Desculpe – murmurei apenas, tensa demais para me esboçar alguma reação decente, e o observei puxar a irmã (que mal me olhara depois de meu vexame eterno, provavelmente constrangida demais com a ideia de ter um filho com o próprio primo) pelo braço corredor abaixo até se afastarem da porta e entrarem num dos últimos quartos. Assim que me dei conta de que estava sozinha, soltei todo o ar involuntariamente preso em meus pulmões, mortalmente envergonhada e extremamente aliviada. Eu podia não conhecê-los direito, mas ambos pareceram bastante convincentes em sua represália, o que tirou de minha cabeça a imagem de Niall e Ben como pai e filho.
Fechei a porta do quarto novamente, respirando fundo por alguns segundos para estabilizar as batidas de meu coração e o ritmo frenético de minha mente. Bati a cabeça contra a madeira repetidas vezes também, me detestando por ter sido tão lunática. Elliot provavelmente tinha razão; eu devia ter alguns parafusos a menos.
- Sua doida! – me permiti cochichar, tapando o rosto com as mãos ao dar as costas para a porta e me atirar sobre a cama macia. Claro, eu havia acabado de cometer suicídio social diante de dois membros da família Horan, o que seria cômico se não fosse trágico, mas eu sempre poderia tentar ressuscitar com um pedido de desculpas... Ou talvez não.
Eu pensaria nisso mais tarde, quando as ondas de alívio e vergonha parassem de percorrer minha espinha.
A porta do banheiro se abriu e eu me virei em sua direção, a tempo de observar Niall surgir com apenas uma toalha amarrada aos quadris enquanto secava os cabelos despojadamente com outra menor. De certa forma, revê-lo depois de todo o vexame de alguns minutos atrás me causava uma sensação de proteção. Eu não pretendia contar sobre o ocorrido, mas sabia que se alguém o fizesse, ele me entenderia e não me julgaria tão duramente como seus primos. Foi apenas um mal entendido, nada mais.
- Merda... Aquele motor velho me cortou todo – ele comentou ao baixar os braços, observando as palmas das mãos com a testa levemente franzida, e eu tentei manter minha atenção no que ele dizia e não na fina gota que escorria por seu peito e abdômen, rumo a... – É a última vez que me meto numa furada dessas.
- Deixa eu ver – pedi, me levantando e segurando suas mãos com cuidado ao me aproximar, notando alguns machucados nas pontas de seus dedos – Hm... Acho que eu sei como fazer sarar.
Niall fez beicinho, arqueando as sobrancelhas, e eu não pude deixar de sorrir diante de seu rosto suavemente corado pela água quente do chuveiro enquanto levava cada um de seus dedos até meus lábios, cobrindo-os de beijos rápidos.
- Prontinho – suspirei, erguendo meu olhar até o dele, agora totalmente diferente de antes, infantil e ingênuo. Não posso dizer que meus olhos também não haviam sido afetados por uma leve malícia; isso acontecia a cada vez que havia qualquer tipo de contato físico mais íntimo entre nós, especialmente quando uma das partes envolvidas estava praticamente nua.
- Esqueceu um lugar – ele disse, trazendo seu rosto para perto do meu até que nossos lábios ficassem a milímetros de distância. Meu corpo imediatamente reagiu à sua respiração batendo contra meu rosto e ao toque firme e preciso de suas mãos ao redor de minha cintura, espalhando arrepios por toda parte. Deslizei rapidamente a ponta de meu indicador por seu tronco, descendo pelo pescoço até atingir a toalha. Senti a tão familiar corrente elétrica passar de seu corpo para o meu, e encarei seus olhos quentes, tão próximos, antes de propositalmente beijar seu queixo.
Antes que eu pudesse analisar sua reação, estava sendo praticamente carregada até a cama, minhas gargalhadas se misturando ao riso baixo e contrariado dele contra meu pescoço e minhas sapatilhas escorregando de meus pés pelo curto caminho.
- Espertinha – ele rosnou, com um sorriso brincando em seus lábios e íris ao cairmos sobre o colchão sem a menor delicadeza – Não pense que eu me esqueci de onde havíamos parado antes do banho.
- Se importa de refrescar minha memória? – perguntei num risinho divertido, erguendo as sobrancelhas ao deixar minhas mãos viajarem por seus braços e ombros. Niall apenas alargou seu sorriso cafajeste antes de finalmente unir seus lábios aos meus num beijo cheio de empolgação. Apertei seus cabelos úmidos em minha mão, retribuindo as carícias ávidas de sua língua e afastando qualquer negatividade restante em meus pensamentos de uma vez por todas.
Estávamos juntos há meses e os efeitos de seu feitiço só pareciam se fortalecer a cada dia; não havia mal que durasse muito tempo quando ele me beijava, daquele jeito que só nós dois sabíamos fazer.
- Você só de toalha me lembra aquela noite na minha casa... O baile de primavera – sussurrei contra seus lábios, e ambos sorrimos.
– Nada disso estaria acontecendo se eu tivesse ido embora quando você me pediu – ele rebateu, mordendo o lóbulo de minha orelha lentamente e fazendo meu corpo inteiro se retorcer discretamente sob sua doce tortura.
- Talvez sim... Eu provavelmente teria corrido atrás de você, praticamente nua no meio da rua – confessei, mordendo o lábio inferior em sinal de vergonha – Eu já estava envolvida até o pescoço naquela época.
- Eu devia ter pagado pra ver então... Te carregar pra dentro de casa naqueles trajes teria sido um dos muitos ápices da noite – ele riu, sua voz um tanto embriagada por nossas carícias, passando sua mão por trás de minha cintura e descendo um pouco mais até seus dedos se fecharem ao redor de meus glúteos – Ou então não... Não quero que ninguém mais te veja sem roupas.
- Mesmo que vissem, não conseguiriam nada comigo – afirmei, afagando sua nuca com minhas unhas num carinho possessivo e enfatizando bem as palavras seguintes – Eu sou comprometida.
- Não interessa... Só eu sei o quanto me esforcei pra conseguir acesso liberado a todas as partes de você, não admito que outras pessoas tenham privilégios – ele retrucou, iniciando mais um beijo, dessa vez cheio de tesão e pressa. Uma de suas pernas estava entre as minhas, e eu desejei que minhas roupas e aquela maldita toalha evaporassem naquele mesmo instante para poder sentir cada centímetro de contato entre nós sem nenhuma barreira.
O relevo de suas costas deslizando sob as palmas de minhas mãos fez meus olhos revirarem lentamente, num gesto de boas-vindas a todas as sensações que ele me causava. Seu peso sobre mim só parecia intensificar o calor que emanava de cada poro de nossos corpos, ainda mais quando sua respiração ruidosa se confundia com um gemido baixo perto de meu ouvido ao dirigir sua mão a meu seio e sentir meu mamilo se enrijecer sob seu toque. Minha cabeça rodopiava, minha consciência flutuando em meio à névoa de prazer que aos poucos se apoderava de mim.
- Nós vamos nos atrasar... – ouvi minha própria voz soprar, mal compreendendo de onde aquelas palavras haviam surgido – Para o jantar.
Niall cessou os movimentos de sua língua em meu pescoço por um momento, um tanto ofegante ao responder:
- Eu estou duro há horas... Acho que minha mãe pode esperar alguns minutos.
Sorri, satisfeita com o que acabara de ouvir, e mordi meu lábio para prender um suspiro ao senti-lo pressionar sua pélvis contra a minha, me fazendo sentir a alta prioridade de sua necessidade. Minhas costas se arquearam de leve numa demonstração clara de que meu corpo não queria se afastar do dele, o que arrancou um riso rouco de sua garganta. Sua mão subiu por minhas costas, levando consigo minha blusa, e eu me desfiz dela sem hesitar quando ele me deu espaço, aliviada por estarmos diminuindo a quantidade de tecido entre nós. Voltando a beijar meus lábios com fúria, ele levou suas mãos a meus seios imediatamente, apertando-os com uma força deliciosa sobre o sutiã. Gemi baixo, sentindo o interior de minha calcinha cada vez mais úmido, e joguei a cabeça para trás conforme Niall descia seus beijos mais uma vez, agora avançando por meu colo. Suas mãos trabalhavam no fecho em minhas costas, e rapidamente senti o aperto ao redor de meu peito afrouxar. Agradeci mentalmente, atirando a peça íntima ao chão em poucos segundos.
Niall tomou um de meus mamilos em sua boca, alternando entre circulá-lo com a ponta de sua língua e sugá-lo, mordiscando-o algumas vezes enquanto sua mão brincava com o outro. Estava cada vez mais difícil ficar quieta, e eu mantive meu lábio inferior sob meus dentes para evitar algum acidente sonoro. A expressão concentrada em seu rosto, como se nada mais importasse a não ser me satisfazer, só tornava tudo ainda mais intenso e excitante.
Sua mão livre desenhou a curva de minha cintura, deslizando por meus shorts e acariciando vagarosamente a região entre minhas pernas. Meu corpo se retesou sob sua palma, movendo-se sem pressa, apenas me instigando, e arrancou um suspiro ruidoso de meus pulmões.
- Quietinha – ele sorriu, beijando minha barriga – As paredes daqui são finas.
Fechei fortemente os olhos, rompendo contato com os dele, extremamente luxuriosos. Ele sabia que estava me torturando, e como era de se esperar, estava amando a ideia. Sua trilha de beijos atingiu o cós de meus shorts sem demora, suas mãos já trabalhando no botão e zíper antes mesmo de concluir o trajeto.
Niall se ajoelhou entre minhas pernas, despindo-me também da calcinha ao retirar os shorts, e eu apenas o observei me olhar com um desejo insano antes de se colocar sobre mim novamente. Recebi seus lábios com a mesma devoção que os dele ao nos beijarmos mais uma vez, e sem rodeios, me livrei da toalha que o cobria, envolvendo seu membro com uma mão e sentindo seu corpo responder ao meu toque.
- Podemos elaborar mais depois do jantar – ele se desculpou num sussurro, esticando o braço para pegar a carteira sobre o criado-mudo e tirar dali um preservativo. Cuidei das precauções com um sorriso discreto, sem me importar por irmos direto ao ponto; passamos a tarde toda nos provocando, estava mais do que na hora de consumar o ato.
- Não se preocupe... Hoje é seu dia – lembrei ao pé de seu ouvido – Faça o que quiser comigo.
Ambos sorrimos ao relembrarmos o que aquela frase significava, e sem mais delongas, ele encaixou seu corpo ao meu devagar, saboreando cada segundo. Calei nossos gemidos com um beijo que não durou muito, pois logo Niall estava investindo depressa, retirando-se por completo e voltando a me preencher num ritmo alucinante. Contraí todos os músculos de meu corpo para não gritar conforme o prazer crescia dentro de mim, e ele parecia não estar tendo muito sucesso, grunhindo baixo contra meu pescoço.
Um leve cansaço começou a se manifestar após longos minutos de êxtase, sinal de que logo chegaria ao ápice; a julgar pelo quão saltadas as veias de seu pescoço estavam, era bem provável que ele só estivesse me esperando para atingi-lo. O que estava prestes a acontecer, considerando-se que sua mão escorregou por meu tronco até atingir minha intimidade com seu dedo e friccioná-la circularmente.
Logo estremeci sob seu corpo, relaxando em alívio e sendo rapidamente seguida por ele, desmontando sobre mim algumas investidas depois. Fechei os olhos, ambos nos concentrando em respirar e normalizar meus batimentos cardíacos disparados.
- Bom saber que ainda não estou velho o bastante para morrer de infarto – ele brincou, deitando-se ao meu lado após retornar do banheiro para se livrar da camisinha. Revirei os olhos, rindo preguiçosamente.
- Se depender de mim, seu coração continuará excelente – avisei, ajeitando algumas mechas de seu cabelo completamente revirado – Em todos os sentidos.
- Sei disso – Niall murmurou, beijando o canto de minha boca demoradamente antes de prosseguir, falando ainda mais baixo que antes, porém com muito mais intensidade – Nunca pensei que pudesse ser tão feliz, e a culpa é toda sua.
Olhei fundo em suas íris azuis, completamente derretida pelo calor que encontrei nelas, provindo de toda a sinceridade de suas palavras. Desci minha mão de seu cabelo desarrumado para seu rosto, apertando seu nariz rapidamente antes de repousá-la em seu ombro.
- Eu sei exatamente como você se sente – falei, compartilhando um sorriso cúmplice, e de repente me lembrei de uma coisa.
- Aonde você vai? – ele perguntou, completamente confuso, ao me ver levantar num pulo.
- Feche os olhos! – exclamei, correndo até minha mala e retirando uma pequena caixa retangular de dentro de um dos bolsos.
- Mas o que... – ele começou, dando de ombros antes de finalmente compreender e adotar uma expressão indecisa entre incrédula e contrariada - Eu não acredito que você comprou um presente pra mim!
- É claro que comprei – respondi num tom ultrajado, ignorando seus olhos cerrados em reprovação – Não é tão caro ou valioso quanto deveria, mas como você sabe, eu não tenho muito poder aquisitivo.
- Eu disse que não precisava de presente – ele resmungou, fechando os olhos e erguendo as sobrancelhas por um instante.
- Eu disse a mesma coisa no meu aniversário e ganhei uma caixa de bombons trufados de morango e um par de brincos maravilhoso que deve ter custado a minha vida ou talvez até um pouco mais – rebati, voltando a me sentar na cama ao lado dele com um sorrisinho forçado – Agora pode ir deixando disso e abrindo meu presente com um sorriso bem bonito, mesmo que você o deteste, ou eu vou ficar magoada.
Niall riu de minha chantagem e hesitou um pouco antes de pegar o embrulho de minhas mãos e desfazer o laço que o mantinha fechado. Mordi meu lábio em expectativa, e meus olhos não deixaram seu rosto enquanto ele finalmente abria a caixinha.
Ele piscou algumas vezes, seus traços se dissolvendo num sorriso deslumbrado ao ver a fina corrente prateada com um pingente em formato de tartaruga marinha. Por mais simples que fosse meu presente, sua reação era semelhante à de ter recebido um pedaço da Lua.
- Eu sei o quanto você gostava de dar aulas, por mais que negue até a morte, e não posso deixar de me sentir culpada por tirar isso de você – falei com cautela na voz, ainda analisando sua expressão – Então eu pensei em... Te dar algo mais ou menos relacionado à biologia. E como eu sei que você ama tartarugas, pensei que... Você fosse gostar.
Niall balançou a cabeça sutilmente, parecendo incrédulo com o que via e ouvia. Com as pontas dos dedos, tocou o pingente como se pudesse quebrá-lo se não medisse sua força. O silêncio estava me matando, mas eu não queria pressioná-lo a dizer nada.
Não demorou muito para que ele falasse, sua voz fluindo num riso baixo.
- Você sabe que eu faria tudo exatamente igual mesmo que pudesse voltar atrás, não sabe? – ele murmurou, erguendo seus olhos deslumbrados até encontrar os meus – Que em nenhum momento eu me arrependi do que estava fazendo, mesmo correndo o risco de perder tudo, porque eu preferia mil vezes qualquer coisa a nem sequer tentar conquistar você?
Um sorriso tímido surgiu em meu rosto, acompanhado por batimentos cardíacos acelerados. A única coisa que se passava em minha mente naquele momento era: como um homem como ele podia amar alguém como eu?
Por ora, desisti de tentar entender e me contentei em continuar sorrindo e agradecer por qualquer que fosse o motivo por trás de seus sentimentos.
- Eu já te agradeci por não ter desistido de mim hoje? – perguntei, vendo-o rir e me beijar em seguida, seus braços apertados ao redor de minha cintura.
- Obrigado... É lindo! – ele sorriu, empolgado com o presente, e passou a corrente ao redor de sua cabeça, confirmando minhas suspeitas de que seu comprimento estava perfeito: comprido na medida certa para ficar debaixo da blusa caso ele quisesse usá-lo de tal forma – E não se sinta culpada... Por mais que eu gostasse de dar aulas, estou bem melhor agora, acredite. Além do mais, se existe algum culpado nessa história toda, esse alguém sou eu!
- Eu sou cúmplice, também tenho parte da culpa – insisti, e ele revirou os olhos, arrancando mais um beijo meu – Não adianta tentar me inocentar.
- Parceiros no crime – Niall brincou, ainda com os lábios próximos aos meus, e eu ri junto com ele, distribuindo beijos por todo o seu rosto antes de voltar à boca.
- Nem pense nisso – murmurei, percebendo que já estávamos há alguns minutos enrolando e a situação começava a mudar de rumo – Chega de sacanagem, sua mãe está esperando!
Ele fez cara feia, porém não ofereceu resistência ao me ver levantar e não demorou a me seguir. Nos arrumamos em poucos minutos, deixando o quarto e já ouvindo algumas vozes vindas da sala de jantar enquanto descíamos as escadas. Fomos recebidos com sorrisos ao nos unirmos ao resto da família.
A não ser por Elliot, que parecia distraído demais com seu reflexo nos talheres para notar nossa chegada.
Emily, por sua vez, agiu normalmente, como se o infeliz ocorrido de alguns minutos atrás nunca tivesse acontecido. Suspirei aliviada, sorrindo abertamente para Ben, que apesar de levemente pálido e aparentando cansaço, retribuiu com alegria.
- Você está muito bonita hoje, (S/N) – Anthony comentou ao nos sentarmos à mesa, e eu não pude evitar engolir em seco ao me lembrar do que Niall me contara sobre ele e Kelly. Sorrindo fraco, lancei um rápido olhar a Audrey, que me observava com leve interesse, e antes de murmurar um tímido obrigada e encerrar o momento constrangedor.
O jantar foi ainda mais divertido que o almoço, já que não era o primeiro contato e parte do gelo havia sido quebrado. Muitas perguntas sobre como eu e Niall nos conhecemos e sobre minha faculdade e planos para o futuro foram feitas, e apesar de um tanto contrariado, ele me ajudou a respondê-las com sinceridade. Mentir era desnecessário, eles pareciam conhecer Niall o suficiente para não se surpreenderem com nosso passado turbulento; pelo contrário, havia um quê de paz em seus olhares, como se comemorassem nossa felicidade apesar de todos os contras.
A conversa se estendeu por um longo tempo antes de todos se levantarem, seguindo para a sala de estar, onde tia Margareth me puxou para uma sessão de fotos de família antigas regada a vinho e cigarro. Niall tentara me resgatar, mas seu pai o chamara ao escritório. Não me importei; pelo menos não ficaria sozinha enquanto ele estivesse ausente.
- Pelo amor de Deus, mãe – Elliot riu, parando à nossa frente com um olhar constrangido – Tenho certeza de que ela não quer ver nada disso.
Engoli em seco, envergonhada, mas antes que pudesse dizer algo, ele me puxou pelo pulso, arrastando-me até a larga sacada onde o burburinho não parecia tão ensurdecedor.
- Obrigada – foi só o que consegui dizer, sem entender porque justo ele estava sendo gentil comigo.
- Não estou fazendo isso por você – ele retrucou, não no esperado tom ríspido, mas com certa urgência na voz – Agora me escute, pois se alguém nos vir aqui sozinhos, é bem capaz de que desconfie de mim e aí eu não terei a menor chance de falar com você de novo.
Franzi a testa, subitamente alarmada com a seriedade de suas palavras.
- O que houve? – perguntei num sopro, meu coração batendo cada vez mais rápido em meu peito.
Elliot respirou fundo antes de responder.
- É verdade. Niall é pai de Ben.



CONTINUA...

FanFic - Biology 2 Capítulo 3






((S/N)’s POV)



- Tô ficando gorda.
- Hã?
Ouvi Niall soltar uma risada curta, e o olhei com ceticismo.
- É sério! – resmunguei, sem me importar com o vento que bagunçou meus cabelos ao entrar pela janela quando virei minha cabeça na direção dele – Olha!
Levantei minha blusa até expor minha barriga, e o fato de estar com os pés sobre o painel do carro só piorava a situação calamitosa de minha gordura localizada.
- Nossa... Sua nojenta, sai do meu carro – ele disse, cheio de sarcasmo ao me olhar, mas antes de direcionar seus olhos para a frente algo chamou sua atenção em minha cintura, fazendo-o franzir a testa – Esse hematoma é obra minha?
- Acho que sim – respondi distraidamente enquanto ele voltava a focar sua atenção no trânsito quase inexistente, pressionando o pequeno roxo em minha pele e sentindo-o um pouco dolorido – Mais um pra coleção.
Niall deu um charmoso sorriso de canto, daqueles que faziam uma febre inexplicável subir pelas pernas, e eu baixei a barra da blusa, frustrada com as reações idiotas que meu corpo demonstrava por quase tudo que ele fazia.
- Sua pirralha – ele falou, revirando os olhos por detrás dos óculos escuros, e eu, indignada, lhe dei um soquinho no ombro – E nem adianta querer dar o troco, porque além de pirralha você é fraca.
- Eu consegui deixar a marca dos meus dedos no seu braço uma vez! – lembrei, tentando não rir das provocações dele – Você mesmo assumiu que ficou dolorido.
- Não me lembro disso – ele rebateu na mesma hora, mentindo descaradamente.
- Argh, você me tira do sério! – exclamei com os olhos cerrados, dando vários tapas em seu braço antes de cruzar os meus e olhar na direção oposta à dele – Não quero mais falar com você.
- (S/N)? – ele chamou, sem receber resposta imediata. Fiz bico, irritada com a facilidade que ele tinha de me irritar (não de um jeito sério... na verdade era até divertido, se é que isso existia), e percebi que ele olhava meu reflexo no retrovisor do carro.
- Que é? – rosnei, sem conseguir evitar que meus lábios formassem um sorriso contrariado em meu rosto, e o vi sorrir de volta enquanto reduzia a velocidade.
- Chegamos.
Virei meu rosto na direção do dele, subitamente séria, e ele fez uma curva, parando diante de um alto portão de metal que interrompia uma cerca viva igualmente imponente.
- Bom dia, senhor – um homem sorriu cordialmente ao reconhecer Niall, que retribuiu o cumprimento com um aceno de cabeça, e permitiu que entrássemos na propriedade. Engoli em seco ao ver a mansão, precedida por uma extensa área verde.
- Bem vinda à casa dos meus pais – ele anunciou com certo embaraço, parando a poucos metros da porta.
Respondi com um sorriso indeciso entre ansiedade e alegria. Estava na hora de finalmente conhecer sua família.
Assim que o ronco do motor cessou, uma senhora saiu pela porta da frente do casarão, sorrindo docemente ao nos ver.
- Querido! – ela suspirou, caminhando até Niall, que saiu do carro direto para seu abraço.
- Oi, mãe – o ouvi dizer enquanto também deixava o automóvel. Não consegui conter um sorriso ao ver os dois se cumprimentando tão carinhosamente.
- Fizeram boa viagem? Minha nossa, como você está magro. Está com fome? O almoço está quase pronto – ela disparou, acariciando o rosto de Niall enquanto o examinava de cima a baixo e depois olhando para mim conforme eu contornava o carro até parar ao lado deles – Oh... E você deve ser a famosa (S/N).
Tive certeza de que meu rosto ficou roxo de vergonha ao dar um sorriso tímido em confirmação, e senti os dedos de Niall se entrelaçarem aos meus.
- Você é mesmo muito bonita – ela sorriu, me observando com interesse e depois lançando um olhar cúmplice ao filho, que sorria disfarçadamente de volta – Muito prazer.
- O prazer é todo meu, senhora Horan – falei educadamente, e qual não foi minha surpresa ao vê-la se aproximar e me dar um abraço. Aquilo foi totalmente inesperado. Eu previa no máximo um aperto de mão.
- Ora, por favor – ela riu ao se afastar – Estamos numa reunião familiar, vamos dispensar as formalidades. Me chame de Audrey. Venham, vamos entrar!
Respirei fundo, involuntariamente apertando a mão de Niall com mais força, e ao lançar-lhe um rápido olhar nervoso, vi um sorriso divertido muito confortável em seu rosto.
Acompanhamos a senhora Horan – digo, Audrey – até o interior da casa, tão elegante e bonito quanto seu exterior. Passamos pelo hall de entrada, que já me permitia ter uma noção do quão grande o resto seria, e chegamos até uma bela escadaria, de onde seguimos para a direita.
- Estávamos colocando a conversa em dia e aproveitando o dia ensolarado enquanto vocês não chegavam, mas agora podemos mandar servir o almoço – ela disse enquanto caminhávamos na direção de uma grande porta que dava para o exterior novamente. Minhas entranhas reviraram de ansiedade a cada passo que dávamos até finalmente deixarmos a casa, chegando na área da piscina, onde algumas pessoas conversavam. Engoli em seco.
... Olá, família Horan?
- Niall! – uma das mulheres sorriu ao ver que nos aproximávamos, e pelas discretas rugas em seu rosto, logo presumi que deveria ser uma de suas tias – Só faltava você!
- Oi, tia Margareth – ele disse com um meio sorriso, e então mais sete pares de olhos caíram sobre nós. O que basicamente significa que todos estavam me analisando dos pés à cabeça. Eu sabia que devia ter escolhido um jeans mais escuro.
- Como vai, meu rapaz? – o homem bastante calvo ao lado de Margareth perguntou enquanto ela cumprimentava o sobrinho com um abraço, fazendo o mesmo que ela logo depois.
- Vou bem, tio Joseph, obrigado – Niall respondeu, voltando a envolver minha cintura com seu braço assim que o tio se afastou – Esta é minha namorada, (S/N).
- Minha nora em potencial – Audrey disse gentilmente, me lançando um olhar maternal – Ela não é linda?
Niall apenas suspirou, lançando um olhar de censura à mãe, que revirou os olhos em resposta. Se não estivesse tão intimidada, teria sido difícil não rir.
- Muito prazer – gaguejei para os tios dele, sorrindo cordialmente.
- Muito mesmo, com o namorado que você tem... – uma voz masculina murmurou atrás deles, que se viraram para olhar seu dono – O apelido dele não é britadeira por acaso.
Franzi a testa ao observar o homem incrivelmente bonito sentado numa das espreguiçadeiras, que me olhava de cima a baixo com vago interesse para depois fixar seus olhos entediados nos meus.
Niall havia me dito que seria um choque, mas eu definitivamente não estava esperando por uma apresentação tão marcante, primo gay.
- Elliot! – a mulher que dividia a cadeira com ele chamou em tom de repreensão – Quanta grosseria!
- Que seja – ele deu de ombros, disfarçando uma risada maldosa e depois olhando para o primo – Oi, Niall.
- Oi, Emily – Niall rebateu, dando ênfase à palavra ao dar um sorriso forçado à moça, que eu logo deduzi ser sua prima e portanto, irmã de Elliot – Essa é (S/N), minha namorada.
Elliot fingiu não sentir o fora que havia levado enquanto Emily prendeu um sorriso maldoso e me olhou com simpatia.
- Prazer em conhecê-la – ela disse com humor na voz, e eu sorri timidamente de volta. Ela era tão bonita quanto o irmão, o que basicamente me fazia a pessoa mais feia no recinto. Nem os mais velhos perdiam de mim.
- Mamãe, eu achei uma minhoca! – uma voz de criança exclamou, se aproximando em rápidos passos até Emily – Olha!
Um sorriso enorme se abriu em meu rosto ao ver um garotinho parar ao lado da espreguiçadeira, arfando, e estender o braço para a mãe, mostrando o pequeno bicho que havia encontrado no jardim. Elliot revirou os olhos, enojado, e se levantou, esbarrando em meu ombro ao passar por mim. Ignorei sua atitude imatura completamente, disposta a fazer exatamente o mesmo pelo resto do fim de semana.
- Filho, você já sujou sua roupa? Eu pedi pra não brincar na terra antes do almoço! – Emily suspirou, prendendo um sorriso diante da empolgação do menino – Agora largue isso e diga oi para o seu tio e a namorada dele.
- Oi, tio! – ele disse alegremente, piscando várias vezes ao dirigir seus olhos de Niall para mim – Oi, namorada do tio!
- Fala, pequeno – Niall sorriu, bagunçando os cabelos do garoto, que soltou uma breve risada – Ben, esta é (S/N).
- Oi, (S/N)! – Ben corrigiu, evidenciando suas bochechas coradas ao sorrir ainda mais para nós antes de voltar a falar com a mãe – Tô com fome... Já podemos almoçar?
- Só se você largar essa minhoca e subir comigo para trocarmos essa blusa antes – ela respondeu, ficando de pé e estendendo-lhe a mão. Na mesma hora, ele a obedeceu, e os dois entraram em casa.
- Que garotinho adorável! – guinchei com os olhos brilhando. Niall apenas assentiu, me conduzindo até o pequeno grupo de pessoas que conversavam a alguns metros de distância.
- Esses são meus tios paternos, Sarah e Leonard – ele prosseguiu, indicando uma mulher que com certeza aparentava muito menos idade do que realmente tinha e um homem com um bigode incrivelmente medonho, que sorriam gentilmente para nós; cumprimentei os dois com um gesto respeitoso de cabeça – E este é meu pai, Anthony.
- Que bom que ainda se lembra dos nomes de todos - o homem de mais ou menos cinquenta anos ao lado de Leonard riu ao enfim ser apresentado, tão charmoso quanto o resto da família. Mas que coisa, não tinha ninguém feio naquele raio de casa?
Ah, sim, tinha. Eu.
- Me poupe do drama, mamãe já se encarregou dessa parte – Niall revirou os olhos, cumprimentando o pai com um abraço – Esta é (S/N).
- Muito prazer, (S/N) – ele sorriu, estendendo sua mão para que eu lhe desse a minha, e quando o fiz, recebi um leve beijo próximo ao pulso – Seja bem vinda.
- Obrigada – falei, um tanto surpresa pelo tom galante que ele havia usado ao pronunciar meu nome... Seduzir estava no sangue da família, pelo visto.
- Vamos entrando... O almoço será servido em poucos minutos – Audrey anunciou, seguindo para o interior da casa, e todos a acompanharam. Niall voltou a segurar minha mão com firmeza, e rapidamente ergueu uma sobrancelha quando o olhei, o que só tornou seu sorriso discreto mais charmoso. Acho que aquilo era um sinal de que estava fazendo tudo certo até então...
O almoço foi bastante tranqüilo. A comida estava simplesmente deliciosa, e apesar de muitas perguntas serem dirigidas a mim e Niall, ele conseguiu fazer com que eu não me sentisse pressionada ou sem graça diante da curiosidade de seus familiares. O único que parecia insatisfeito era, obviamente, Elliot, que comia em silêncio, só falando quando lhe perguntavam alguma coisa, e ainda assim num tom desgostoso. Eu nunca imaginei que Niall estivesse tão certo quanto à obsessão do primo por si.
- Vocês devem ter acordado cedo e passado horas naquele carro, merecem um descanso – Audrey sorriu quando todos já se levantavam da mesa – O quarto já está preparado para recebê-los.
- Obrigada – agradeci gentilmente ao seguir com Niall para as escadas, porém algo nos parou no meio do caminho. Ou melhor, alguém.
- Nós redecoramos seu quarto, espero que goste – Elliot comentou, parando à nossa frente e olhando para o primo, que já havia cerrado os olhos em desconfiança – Que pena você não ter trazido a Kelly esse ano... Ela iria adorar as novas cortinas!
Com um sorriso falso direcionado a mim, ele rapidamente subiu para seu quarto. Não era como se eu realmente fosse fazer alguma coisa de que ele devesse ter medo, já que de repente respirar havia ficado difícil.
- Kelly? – repeti após algum esforço, quebrando o silêncio tenso entre nós – Kelly Smithers?
Niall apenas suspirou, levando uma mão ao rosto em sinal de frustração, e eu imediatamente senti uma forte náusea.
- Eu não acredito nisso – gaguejei, sem reação. Meu almoço estava voltando pelo caminho por onde havia entrado e eu estava tão incrédula que tudo o que fiz foi me deixar ser arrastada por Niall para o quarto. Ele mal teve tempo de fechar a porta atrás de nós antes que eu finalmente explodisse.
- Por que você não me contou antes? – disparei, olhando-o com indignação – Por que não me contou que Kelly já esteve aqui?
Ele abriu a boca para falar, mas antes que qualquer palavra saísse de sua boca, o interrompi.
- Em nenhum momento você julgou relevante mencionar esse pequeno detalhe? Não passou pela sua cabeça um segundo sequer que talvez fosse sensato de sua parte compartilhar esse fato? Eu não acredito, eu juro que não acredito nisso...
Niall me encarou com um misto de desespero e arrependimento enquanto eu andava de um lado para o outro, até enfim se aproximar de mim e postar suas mãos em meus braços.
- Você tem razão... Eu devia ter contado antes – ele disse com sinceridade, tentando me acalmar – É que tudo aquilo foi tão insignificante perto de trazer você aqui... Eu não queria estragar esse momento.
- Mentir nunca é a melhor opção – rosnei, me desvencilhando de suas mãos e dando-lhe as costas – A verdade sempre acaba aparecendo e estragando tudo.
- Você quer saber a verdade? – ele bufou, irritado – Tudo bem, eu conto. Não tenho nada a esconder.
- Ótimo, pode começar – assenti, voltando a me virar em sua direção com os braços cruzados sobre o peito numa postura hostil – Sou toda ouvidos.
- Sim, eu já trouxe a Kelly aqui – Niall iniciou, e eu senti o enjôo subir por minha garganta novamente ao ouvir as palavras saírem de sua boca – Mas nunca significou nada para mim, muito menos para a minha família.
- Realmente, estou me sentindo muito mais confiante agora – dei risada, sem me preocupar em dosar meu sarcasmo.
- Será que você não entende? – ele exclamou, novamente se aproximando de mim com urgência no olhar e na voz – Eu nunca senti nada por ela, absolutamente nada! Eu só a trouxe aqui porque estava cansado de ficar sozinho! Não agüentava mais querer alguém que me fizesse morder a língua por todas as vezes em que menosprezei o amor, que me fizesse parecer um idiota só de olhar pra mim e realmente me fizesse sentir quando me tocasse... Não só perceber.
Ele se sentou na cama ao nosso lado, respirando fundo e esfregando o rosto com as mãos. Mantive minha postura séria.
- Eu estava cansado de querer você.
A raiva em meus olhos desapareceu por alguns segundos enquanto meu coração respondia às suas palavras com batimentos cada vez mais acelerados, mas logo respirei fundo e voltei a adotar uma expressão centrada.
- Não foi uma boa idéia, mas pelo menos ela me ajudou com o Elliot – Niall murmurou, cabisbaixo – A cada ano que se passava ele ficava cada vez mais ousado e eu não agüentava mais as provocações dele... Ninguém mais agüentava, na verdade. Então eu a trouxe no ano passado numa tentativa de afastá-lo, e felizmente, funcionou.
Franzi a testa involuntariamente, impressionada com o que ele estava me contando. Elliot estava começando a me dar medo de verdade.
- No fim das contas foi um erro trazê-la aqui – ele prosseguiu com uma risada ácida – Meu pai não parava de paquerá-la, e... Bem, você conhece a Smithers. Não é tão difícil assim cair nas graças dela.
Pisquei algumas vezes, ainda processando o que ele havia acabado de dizer. Eu só podia ter entendido errado.
- A Kelly... Dormiu com o seu pai? – soprei, chocada demais para encontrar minha voz.
- O que você esperava? Ela é jovem e fácil, meu pai é rico e tem seu charme... Um tinha o que o outro queria – ele deu de ombros, balançando negativamente a cabeça – A única coisa que me decepciona nessa história toda é minha mãe.
- Ela sabe? – perguntei imediatamente, sentando-me ao lado dele, ainda mais horrorizada com tudo o que estava ouvindo e deixando a raiva de lado por um momento. Aquilo era muito mais sério.
- Ela sempre sabe – ele disse com certa amargura – Não foi a primeira escapada dele e com certeza não foi a última. Ela sabe que ele é infiel... Eles têm um acordo.
- Acordo? – repeti, tão entretida no que ele contava que nem me dei conta de que talvez estivesse me intrometendo demais.
- Eles se amam, de verdade – Niall explicou, retribuindo meu olhar atento – Mas meu pai tem... Necessidades que minha mãe já não pode mais suprir. Então ele procura quem possa preencher esse posto fora de casa... E ela não se importa.
Engoli em seco, lembrando-me do quão próximos Audrey e Anthony foram durante todo o tempo em que estávamos reunidos. Se Niall não tivesse me dito tudo aquilo, eu jamais adivinharia que algo daquele tipo acontecia. Permitir que o próprio marido seja infiel, apesar de ser uma atitude compreensiva da parte dela, não deve ser a tarefa mais fácil do mundo.
- Isso não significa que eu não me importe... Mas eu sei que eles são felizes assim, e é tudo o que eu quero – ele suspirou com um sorriso fraco – Assim como é o que eu quero para nós.
Seus olhos se fixaram nos meus com muita intensidade, como se ele quisesse ter certeza de que eu entenderia o quão sincero ele estava sendo através daquele olhar. Suas mãos envolveram as minhas com suavidade, espalhando arrepios por meu corpo.
- Me desculpe... Eu devia ter te contado sobre a Kelly antes, mas foi tudo um erro tão desagradável que eu não pensei que teríamos que tocar nesse assunto novamente. Eu devia saber que o idiota do Elliot não pensaria duas vezes antes de jogar sujo.
Respirei fundo, um tanto arrependida por ter ficado brava agora que sabia o que havia acontecido.
- Vai passar – murmurei, fechando os olhos por um momento numa tentativa de afastar os pensamentos ruins de minha mente – Me desculpe por ter reagido daquele jeito, eu não sabia...
- Tudo bem – ele disse com a voz baixa, observando nossas mãos vagamente – Eu entendo.
Sorri fraco para ele, que parecia um tanto chateado, e sem me importar com mais nada daquilo, o abracei. Mal havíamos chegado e já estávamos brigando... Não era assim que eu queria que as coisas acontecessem.
- Eu sempre vou fazer de tudo para sermos felizes – ele disse contra a pele de meu pescoço – Eu não posso perder você.
Um mau pressentimento subitamente provocou um calafrio em minha espinha. Por que ele estava dizendo aquilo?
- Não mentir para mim já é um bom começo – murmurei, lutando contra a insegurança que repentinamente crescia dentro de mim.
Desfiz nosso abraço, olhando fundo em nos olhos azuis dele, que agora pareciam preocupados.
- Eu confio em você – sussurrei, com toda a minha honestidade – Não me faça perder uma das coisas que mais amo sobre nós dois.
Ele respirou fundo, baixando o olhar por um segundo, e assentiu.
- Eu não vou deixar isso acontecer – ele disse, e eu esbocei um sorriso antes de unir nossos lábios num breve, porém significativo beijo.
Não era uma promessa. Era um pedido mútuo.
Por favor, não estrague tudo.

Acordei um tanto alarmada devido ao fato de que havia adormecido inesperadamente. Niall e eu estávamos deitados vendo TV antes de cair no sono – por quantas horas eu havia dormido, a propósito? – e agora eu estava sozinha no quarto. Esfreguei os olhos ao procurar pelo relógio no criado-mudo, e ao ver que havia cochilado por apenas meia hora, reparei num pequeno bilhete ao lado da luminária.

Você dorme demais. E olha que o velho aqui sou eu.
Fui para a garagem resolver algumas coisas para o meu pai. Está um calor horrível, então tome um banho se quiser se refrescar e vista algo leve - sua mala já está no quarto! – antes de vir me procurar.

- Panaca – resmunguei com um sorriso sonolento, me espreguiçando demoradamente antes de levantar e seguir suas instruções. Demorei um pouco mais que o aconselhável no chuveiro, deixando que a água me relaxasse, e vesti um shorts jeans, uma camiseta branca larga - porque era dele e cobria até boa parte de minhas coxas - e sapatilhas azuis. Prendi o cabelo numa trança simples e segui para o exterior da casa. Onde raios ficava a garagem?
Não levei muito tempo para encontrar o lugar, após alguns minutos caminhando pela propriedade. Me surpreendi ao ver que uns cinco carros – e quando eu digo carros, me refiro a carros de verdade, não os meros meios de transporte que pessoas normais geralmente têm – estavam estacionados no grande espaço coberto. Niall já havia me dito que seu pai tinha amigos que trabalhavam em grandes empresas automobilísticas e de certa forma isso contribuía para que a família tivesse carros excelentes, mas ainda assim me surpreendi. Eu sempre me surpreendia, e duvidava muito que um dia deixasse de me surpreender.
- Bom dia! – Niall sorriu ao surgir de trás de um dos veículos, e eu pulei de susto – Achou muito difícil me encontrar?
Abri a boca para responder, mas qualquer palavra que eu pudesse dizer se tornou insignificante quando ele começou a se aproximou de mim.
Ele estava apenas de calça jeans.
Ele sabia que eu tinha um fraco por ausência de camisas.
Desgraçado.
Com uma risada sacana ao perceber que sua pergunta havia se tornado irrelevante, ele parou a poucos centímetros de mim, perto o suficiente para que sua respiração batesse em meu rosto, porém longe o suficiente para que eu somente o beijasse se realmente quisesse.
Em meio aos tremeliques de meus joelhos e pensamentos impuros, me perguntei pela milésima vez como ele era capaz de fazer aquele tipo de coisa.
Que se dane, eu podia pensar nisso mais tarde.
Coloquei minhas mãos sobre seus ombros, tomando impulso para envolver minhas pernas em seu quadril, e nossos lábios colidiram sem a menor gentileza. Meus dedos buscaram seus cabelos da nuca, um pouco úmidos de suor, enquanto suas mãos escorregavam por minha cintura para tirar proveito de minhas coxas em seguida. Apesar do movimento brusco, o que predominava em nosso beijo era a intensidade.
Niall deu alguns passos na direção da garagem, e não demorou muito para que ele me apoiasse sobre uma estante onde algumas ferramentas repousavam. Por vários minutos continuamos nossa batalha de nervos, dispostos a resistir bravamente até que o outro assumisse a derrota.
Quando já estava ficando difícil respirar e eu estava prestes a partir o beijo, ouvi um gemido baixo escapar pelos lábios dele, e então anunciar sua desistência.
- Ganhei – sorri debilmente com a boca inchada, ofegante.
- Se o seu shorts não fosse tão curto... Talvez eu tivesse mais chances – ele arfou, enterrando o rosto em meu pescoço e dando uma mordida no lóbulo de minha orelha. Cruzei minhas pernas ao redor dele, aproximando nossos corpos, e pude sentir que ele estava empolgado por debaixo da calça. Joguei a cabeça para trás, sentindo meu coração bater tão rápido que me causou uma leve tontura.
- Quais são as chances de alguém nos pegar aqui agora? – sussurrei, cheia de segundas intenções.
Com um suspiro, ele ergueu o rosto para me encarar, com a testa franzida em desapontamento.
- Eu tenho que consertar o carro do meu pai – ele murmurou com desânimo, encolhendo os ombros – Ele não deixa mais ninguém tocar nele a não ser eu, e precisa que esteja pronto até amanhã cedo, quando um possível comprador virá avaliá-lo.
Revirei os olhos, recostando-me na parede atrás de mim. Um carro era mais importante do que eu. Inacreditável.
- Posso pelo menos ficar aqui com você? – perguntei, fazendo beicinho – Não quero ficar sozinha pela casa.
- Claro que pode... Desde quando você precisa pedir uma coisa dessas? - Niall sorriu, achando graça de minha pergunta, e me deu um selinho – Só não garanto que será divertido, já que não vou poder te dar muita atenção.
Dei de ombros, sem muita escolha, e o observei pegar algumas ferramentas na caixa ao meu lado para voltar a trabalhar no motor do carro de onde ele havia surgido alguns minutos atrás. Tentando lutar contra o tédio (sem falar na frustração), entrei no carro e me acomodei no estreito banco de trás.
– Ei, isso aqui funciona? – perguntei quando meus olhos caíram sobre o que parecia ser um rádio próximo ao painel.
Fiquei de joelhos no banco e esgueirei meus ombros pelo espaço entre os assentos da frente, mexendo no que me parecia ser o tuner. Não obtive resposta, e virei meu rosto para descobrir o motivo do silêncio. Revirei os olhos ao vê-lo me olhar através do vidro traseiro. Piscando algumas vezes, com o rosto vazio e uma leve demência momentânea, ele finalmente notou o que havia acontecido.
- Desculpe – Niall murmurou, me fazendo balançar negativamente a cabeça e soltar um risinho – O que você disse?
- Nada, deixa pra lá – falei, passando o resto de meu corpo para o banco do motorista, a fim de não distraí-lo para que terminasse logo de arrumar aquele carro - Pode continuar o seu trabalho.
Ainda rindo disfarçadamente do momento puberdade dele, continuei tentando fazer o rádio funcionar, e depois de alguns minutos de trabalho, consegui destravar o botão velho que o ligava.
- Não acredito que você conseguiu arrumar essa coisa! - ele riu, fechando o capô do carro para me olhar com a expressão espantada.
- Pois é, nada que um toque de delicadeza feminina não resolva – pisquei, ignorando o fato de que quase havia arrancado o painel inteiro do carro para destravar aquele botão. Ele franziu a testa, duvidando de minha resposta, e ambos caímos no riso.
Passamos boa parte da tarde ouvindo músicas antigas, conversando, rindo, e confesso, nos amassando. Já havia escurecido há um tempo quando ele terminou o conserto, e sem aceitar não como resposta, me carregou até a casa.
- Aí estão vocês – Audrey sorriu ao nos ver subindo as escadas – O jantar está quase pronto.
- Ótimo, estou faminto – Niall disse, sem nem parar para respondê-la, e quando já estávamos a uma distância razoável, sussurrou em meu ouvido – Em todos os sentidos.
Prendi uma gargalhada, afundando meu rosto em seu pescoço enquanto percorríamos o caminho até o quarto, e ele me prensou contra a porta assim que a fechamos.
- E então... Onde estávamos? – ele sussurrou, beijando meu pescoço sem pudor.
- Na parte em que você vai tomar banho – respondi, mordendo meu lábio em seguida e empurrando-o pelos ombros – Você está sujo de graxa, nem pensar.
Ele levou alguns segundos para entender, e mais alguns para se conformar.
- Ugh, tudo bem – resmungou, dando-me as costas e indo para o banheiro – Mas não pense que isso vai ficar assim, você ainda me paga!
- Fique limpinho, amor – dei risada, afinando a voz, e recebi uma careta mal educada em resposta. Caminhei até minha mala para escolher uma roupa, cantarolando uma música qualquer que ouvimos na rádio mais cedo, porém um burburinho no corredor se destacou sobre o barulho do chuveiro. Franzi a testa, preocupada, e me aproximei da porta, tentando entender o que estava acontecendo.
- Você não vai fazer isso, eu não vou deixar! – uma voz feminina disse, num volume razoavelmente baixo.
- Ela precisa saber, e eu aposto que ele ainda não contou! – um homem rebateu, e então eu reconheci as vozes de Elliot e Emily. Cerrei os olhos.
- Não é problema seu, portanto não se meta! – ela rosnou, parecendo apavorada – Quando você vai parar de destruir a vida das pessoas?
- Destruir? Eu só quero ajudar! Talvez ela o ajude a entender que o Ben precisa do pai! – Elliot respondeu, irritado – Por quanto tempo você pretende continuar mentindo pro seu próprio filho? Você não acha que ele merece saber a verdade?
Os dois continuaram discutindo, mas meu cérebro não foi capaz de processar o resto da conversa. Meu corpo havia paralisado, o choque entorpecendo meus músculos e fechando minha garganta num segundo, meus olhos arregalados, perdidos num lugar qualquer da parede.
Por alguns segundos que me pareceram horas, eu não consegui formar a frase dentro de minha cabeça. Porém, as palavras encontraram seu rumo sozinhas.
Niall era pai de Ben. 




CONTINUA...

FanFic - Biology 2 Capítulo 2






 (Niall’s POV)


Soltei um suspiro cansado quando entrei no elevador, rapidamente apertando o botão no painel. Tive que fazer hora numa livraria enquanto o carro era revisado para a viagem da manhã seguinte e levei mais meia hora para finalmente me livrar do trânsito do horário de pico. Teletransporte, ainda te aguardo ansiosamente.
Esperei as portas se abrirem para poder me jogar no sofá e vegetar por alguns minutos, porém me surpreendi quando cheguei a um 23º andar totalmente escuro e vazio.
- (S/N)? - chamei, franzindo a testa ao deixar o elevador, e quase fiquei cego com a súbita iluminação do ambiente.
- Surpresa! - várias pessoas exclamaram em uníssono, surgindo de trás de todos os móveis com sorrisos nos rostos.
- Mas o que... - arfei, assustado, até que reconheci um rosto... E mais um... Espera aí.
- Ih, o velho travou. Alguém vai lá dar um tapa pra ver se volta a funcionar? - ouvi a voz de Brad, meu amigo desde os tempos de faculdade, dizer num tom divertido, e todos caíram no riso.
Era mesmo o que eu estava pensando?
- Peguem leve com ele, a culpa é minha! - (S/N) sorriu, saindo de trás do sofá e vindo até mim - Afinal, eu o mantive alheio a tudo isso, e muito bem por sinal.
- Metida! - Jules, a mulher de Brad, gritou, e (S/N) deu língua para ela enquanto algumas risadas voltavam a ecoar pelo apartamento. Eu ainda estava confuso demais para esboçar reação.
- Niall? - (S/N) murmurou com um sorriso - Está tudo bem?
- Você... Vocês armaram isso pra mim? - gaguejei, completamente surpreso, e recebi acenos positivos como resposta - Mas... Eu nem desconfiei de nada!
- Esse é o objetivo de uma festa surpresa, oras - Brad revirou os olhos - Como te deixaram ser professor um dia?
Lancei-lhe um olhar cético ao ouvir risos novamente e não consegui evitar me juntar a eles.
- Vocês me pegaram - assumi, impressionado com a quantidade de rostos familiares ao meu redor, e voltei a olhar para (S/N) - Principalmente você, sua pestinha.
Ela fez uma reverência, sorrindo orgulhosamente do sucesso do plano.
- Tá, agora que você chegou podemos beber, o que significa que você já não é mais o centro das atenções da festa - Brad brincou, me olhando com desdém por um momento antes de rir e me receber decentemente - Parabéns, cara.
- Vai ter troco, pode anotar - prometi, apontando para ele e depois para Jules, que veio me abraçar logo em seguida.
A partir daí todos vieram me cumprimentar, e de repente eu fui engolido por um bando de amigos que eu via quase sempre e outros que não via há anos, o que rendeu bons minutos de conversas. Somente quando enfim consegui atravessar a sala me dei conta de que estava faltando o abraço de alguém.
Olhei ao redor e encontrei (S/N) rindo numa conversa com Eleanor, Ewan e Joshua, um amigo que trabalhava com organização de eventos. Por sorte ela olhou na minha direção poucos segundos depois, permitindo que eu pudesse chamá-la discretamente. Segui até o quarto e esperei que ela entrasse atrás de mim.
- O que foi? Algo de errado? - ela perguntou, atenciosa.
- Sim - respondi com o semblante sério, puxando-a pela cintura - Eu não te beijei ainda.
(S/N) sorriu quando aproximei meu rosto do dela, e levou suas mãos ao meu pescoço, deslizando suas unhas por minha nuca num carinho aconchegante. Mantendo seu corpo grudado ao meu, iniciei um beijo intenso, porém bastante calmo para nossos padrões. Ela correspondeu com vontade, descendo suas mãos por meus ombros e peito enquanto eu seguia na direção oposta e subia por sua cintura. Partimos o beijo com um selinho demorado, ofegantes, e ela me deu um sorriso lindo, com os lábios avermelhados e o rosto bem próximo do meu.
- Você tinha razão - ela sussurrou, assentindo levemente - Está bem melhor agora.
- Obrigado por tudo isso - murmurei, roubando mais um selinho dela - Eu realmente não esperava.
- Jura mesmo? - ela sorriu, satisfeita – Foi tão difícil guardar segredo! Eu estava muito ansiosa.
- Preciso tomar cuidado com você... Está se saindo uma excelente atriz - cerrei os olhos, vendo-a morder o lábio inferior com falsa inocência – Daqui a pouco vai estar fingindo orgasmos ou algo parecido.
(S/N) jogou a cabeça para trás numa gargalhada, e eu prendi o riso.
- Se está com tanto medo disso, é melhor fazer sua parte direitinho – ela murmurou com um ar malicioso, brincando com a gola de minha camiseta – Você me ensinou a ser exigente. Agora aguente as consequências.
- A cada dia que passa você se revela uma aluna melhor – sorri, sentindo a empolgação do desafio me atingir. Ela sabia mesmo como me atiçar.
- Obrigado, professor – ela soprou, buscando minha boca com a sua e prendendo meu lábio entre seus dentes demoradamente. Fechei os olhos, desfrutando da provocação, e percebi que já estava ficando difícil conter os pensamentos impuros rodopiando dentro de minha cabeça.
Puxei seu corpo para mais perto do meu, ouvindo-a soltar um suspiro delicioso de aprovação. Tortura.
- Vamos voltar pra sala - ela sussurrou de repente, me dando um selinho rápido e afastando seu rosto logo em seguida - Não podemos deixar os convidados sozinhos.
Franzi a testa, ainda um tanto desnorteado.
- Claro que podemos - resmunguei, avançando para beijá-la, mas seu indicador sobre meus lábios frustrou meus planos.
- Mais tarde - (S/N) piscou, dando um sorriso maldoso – Agora... Pra sala.
Bufei, contrariado, e deixei que ela me arrastasse para fora do quarto, onde peguei uma cerveja e logo fui fisgado para uma conversa entre alguns antigos colegas de profissão.
A noite voou. Depois de algum tempo para que todos colocassem a conversa em dia e bebessem um pouco, alguém achou tequila no armário da cozinha e a diversão de verdade começou. Resultado: meia hora depois, a grande maioria – somente os motoristas continuavam sóbrios – estava bêbada. Incluindo (S/N).
- Tem alguma coisa muito errada com você! - Dustin, irmão de Jules, exclamou com um riso indignado ao vê-la comemorar por ter virado um shot mais rápido que ele.
- Eu tenho mandíbula de cobra! – ela riu, e quase tropeçou nos próprios pés ao dar um rodopio. Sorte dela que eu estava por perto para segurá-la.
- Chega de álcool por hoje, você já bebeu muito – falei, tentando parecer autoritário diante da gargalhada bêbada dela, e aproveitando-me da distração dos outros, sussurrei em seu ouvido – Além do mais, eu quero você bem lúcida pro nosso mais tarde.
- Oh, sim – ela cochichou, como se fosse um segredo super secreto, tornando minha tarefa de não rir ainda mais difícil – Pode deixar.
A partir dali, não demorou muito para que o nível de sonolência começasse a se tornar insuportável e aos poucos todos fossem embora, alguns carregando outros, alguns sendo carregados. Brad e Jules foram os últimos, já que insistiram em me ajudar a arrumar a bagunça na sala e cozinha. (S/N), já um pouco menos alterada, tentou me impedir de participar da organização, mas desistiu de resistir quando percebeu que seria inútil.
Assim que a porta do elevador se fechou, deixando-nos finalmente sozinhos, soltei um suspiro de alívio. A porção moderada de álcool em minhas veias também estava me deixando sonolento, mas não a deixaria me derrotar. Afinal, eu ainda tinha assuntos pendentes a resolver.
- E então... - falei, virando-me para (S/N), e ergui uma sobrancelha – Já está tarde o suficiente para o mais tarde?
Ela deu de ombros, disfarçando um sorrisinho.
- Isso só depende de uma única coisa... – ela respondeu, tirando os sapatos devagar – Do quão rápido você conseguir me pegar!
Com uma gargalhada, ela saiu correndo sem aviso prévio, rumo ao interior do apartamento. Surpreso, corri atrás dela, sentindo uma leve tontura devido ao álcool que insistia em me atordoar, até as escadas. Não sei como ela conseguiu subir aqueles degraus tão depressa sendo que mal conseguia ficar de pé algum tempo atrás, mas ela o fez. Deus abençoe o metabolismo rápido dos dezoito anos.
Percebendo que eu não estava muito longe, ela soltou um grito desesperado digno de filme de terror, e acelerou na direção da área externa. Quase dei de cara com a porta ao passar, e quando finalmente a encurralei na borda da piscina, ela esperou que eu a abraçasse pela cintura para se jogar na água, me levando junto.
- Você achou que eu não pularia, não é? – (S/N) riu, assim que minha cabeça emergiu e eu finalmente consegui respirar direito.
- E por acaso eu tive tempo de achar alguma coisa? – retruquei, tossindo um pouco – Mas pelo menos eu te peguei.
- Claro que não! Eu deixei! – ela reclamou, indignada, jogando água em meu rosto – Eu ganhei, Horan, aceite isso!
- Pra sua informação, esse foi só o primeiro round – falei, avançando na direção dela rápido demais para que ela pudesse fugir, e a prensei contra uma das beiradas da piscina – E eu acho que tivemos um empate.
Ela me deu um sorriso contrariado, analisando minha versão dos fatos com um aceno discreto de cabeça, e seu veredicto não demorou a sair.
- Tudo bem... Mas saiba que eu não estou disposta a facilitar pra você de novo.
- Você não costuma facilitar muito as coisas pra mim... – soprei ao pé de seu ouvido numa risada rouca, levando minhas mãos até suas costas lentamente – Ficar perto de você sem perder o controle já é difícil, e você ainda me provoca...
Dei um beijo demorado em seu maxilar, trazendo minha mão para sua nuca e prendendo algumas mechas de seu cabelo entre meus dedos. Senti seu corpo se encolher de leve quando minha outra mão puxou seu vestido para cima, ao mesmo tempo em que eu misturava nossas pernas. A água gelada era mais um motivo para que buscássemos o máximo de contato físico.
- Não se faça de coitado, eu também sofro na sua mão – ela riu baixinho, deslizando as mãos por meu tronco com a respiração fraca – Acho que temos um empate no quesito provocação também.
Afundando as pontas de meus dedos na pele de sua cintura, desci meus lábios por seu pescoço, empenhado em enlouquecê-la antes de mim, o que eu sabia que não funcionaria tão bem quanto o esperado. Ela estava apenas desfrutando de minhas provocações, sem exatamente corresponder, mas ainda assim era como se ela me excitasse por simplesmente me deixar tocá-la. Seu perfume fazia minha mente girar numa velocidade alucinante, como uma droga, e ver o tom avermelhado de sua pele respondendo às minhas carícias só me fazia querê-la mais e mais. Às vezes eu me perguntava como não a machucava. Ela parecia sempre tão jovem e sensível...
Minha respiração tornou-se pesada rapidamente conforme minha boca viajava por seu pescoço. Baixando o rosto devagar para atrair minha atenção, ela capturou meus lábios com os seus e iniciou um beijo intenso, no qual nossas línguas travavam uma luta sem regras. Trouxe meu polegar para seu rosto, determinado a provar que era possível aprofundar ainda mais aquele beijo, e consegui. Seus dedos gelados iniciaram caminhos por meus braços, deixando rastros ferventes por onde passavam, até atingirem meus ombros e darem lugar para seus braços, que o envolveram sem pressa. Enroscando seu indicador em meu cabelo, ela partiu o beijo por um momento para que ambos pudéssemos respirar um pouco, e sussurrou:
- Estou morrendo de frio!
Concordei com um risinho, e olhei rapidamente para o interior do apartamento.
- Estamos molhados... Nossas roupas vão encharcar o chão – observei, tentando encontrar uma solução prática, mas não precisei me esforçar muito. Ela já tinha a solução.
- Não precisamos entrar com as roupas.
Ergui as sobrancelhas, compartilhando um sorriso divertido, e deixei que ela saísse da piscina para então segui-la. Ao chegar à porta, ela tirou o vestido sem a menor cerimônia e correu para dentro.
- Vem! – ela chiou, abraçando o próprio corpo, e eu me desfiz da camiseta, calça, sapatos e meias. Mal havia terminado, ela me puxou para dentro e me abraçou, tremendo de frio.
- Sua fracote – brinquei, cambaleando com ela pelo pequeno corredor até chegarmos à sala (fazendo uma pausa supersônica no banheiro para pegar algumas camisinhas). Com um sorriso sapeca, ela se sentou no tapete e me puxou consigo, rapidamente colocando uma perna de cada lado de meu corpo.
- Quem é fracote agora? – ela riu contra meus lábios antes de me roubar um beijo, e eu não hesitei em correspondê-lo, explorando suas coxas nuas com urgência. As mãos dela passeavam por meus cabelos, bagunçando-os e puxando-os sem qualquer pudor, e agora que as roupas e a água não nos atrapalhavam mais, cada toque parecia muito mais intenso, contribuindo para que rapidamente nossas poucas peças de roupa se tornassem um incômodo.
Pressionei seu corpo sobre o meu, segurando seus quadris, de forma a mostrá-la o quanto exatamente eu estava excitado. Ela soltou um gemido quase inaudível ao sentir minha ereção cada vez mais evidente, e um sorriso metade maldoso, metade satisfeito surgiu em seu rosto.
- Não adianta reclamar... Eu disse que não seria fácil – ela soprou em meu ouvido, arranhando meus ombros lentamente a cada palavra. Fechei os olhos ao sentir seu corpo relaxar em meu colo, aumentando a pressão sobre meu membro, e aos poucos ela iniciou um movimento de vai e vem que provocava uma fricção dolorosamente deliciosa. Com um palavrão baixo, afundei meu rosto na curva de seu pescoço e inconscientemente comecei a me mover com ela, como se as roupas mal estivessem ali ainda. Soltando o ar ruidosamente contra sua pele, deixei que ela deslizasse minhas mãos por suas costas até atingir o fecho do sutiã, e antes que eu pudesse ver o que havia feito, ele já estava longe dali.
Ela estava totalmente no controle. E eu não estava exatamente reclamando... Mas tinha que tomar uma atitude. Afinal, tínhamos um empate a decidir.
Por isso, não hesitei em levar uma de minhas mãos até sua barriga e rapidamente deslizar meus dedos para dentro de sua calcinha.
(S/N) sibilou ao sentir meu toque, e eu pude desfrutar de seu colo quando jogou a cabeça para trás. Brinquei com um dedo em sua entrada, sem pressa, enquanto meu polegar estimulava seu clitóris. O calor que emanava de dentro dela me causava arrepios, eu adorava aquela sensação; era como uma forma explícita de sentir o que ela sentia, e somar tudo isso ao que se acumulava dentro de mim.
- Niall... – ela suspirou, voltando a me olhar com as bochechas rosadas, e o desejo repuxou os cantos de meus lábios para cima diante daquela visão. Nos beijamos mais uma vez, sem nos preocuparmos com qualquer tipo de delicadeza, e eu escorreguei dois dedos para dentro dela, sentindo suas paredes se contraírem em volta deles conforme suas costas se arqueavam e suas pernas ficavam rígidas. Ela cravou as unhas em meus bíceps, respirando contra meus lábios, e eu me controlava para não acabar logo com aquilo a cada gemido que ela soltava. Empatados novamente.
- Você quer mais? – provoquei com a voz falha, notando sua reação agressiva ao curto alcance proposital de meus dedos e me divertindo com minha vantagem – É só pedir.
- Eu quero... Isso – ela arfou, rapidamente descendo suas mãos até a barra de minha cueca, capturando meu pescoço com seus lábios ao abaixar seu tronco. Respirei fundo ao sentir as pontas de seus dedos tocarem minha virilha, me arrepiando com a expectativa, até que sua mão o envolveu, com um leve carinho de seu polegar. Sentindo-o bastante duro, os dedos dela se fecharam, exercendo uma pressão que fazia as veias de meu pescoço saltarem, e iniciaram movimentos vagarosos. Me concentrei na parte de mim que estava dentro dela enquanto meu lóbulo era caprichosamente sugado, e meus olhos se reviraram com seu toque sutil em meu abdômen, passeando sobre meus músculos tensos.
- Assim você vai estragar toda a diversão – avisei após alguns minutos, com o que restava de oxigênio em meus pulmões, sentindo uma fina camada de suor recobrir nossos corpos. Com uma trilha de beijos, ela chegou até minha boca e mordiscou meu lábio inferior antes de responder:
- Então me impeça.
Você está perdendo, Horan. Hora de virar o jogo.
- Você sabe mesmo com quem está mexendo, não é? – murmurei com um sorriso sujo, recebendo um igualmente impuro em resposta – Como queira.
Puxei seu rosto para perto do meu, sem beijá-la, e acelerei os movimentos de meus dedos, atingindo fundo nela. Travei meu maxilar ao ver o prazer em seu rosto, juntamente com o movimento de seu quadril contra minha mão. Esperei até que o choque inicial passasse, e engolindo os gemidos que se aglomeravam em minha garganta, ordenei:
- Agora seja uma boa menina e me ajude aqui.
Com a mão livre, tateei pelo tapete até encontrar a pequena embalagem, e tomando cuidado para não danificar o preservativo, rasguei o plástico externo com os dentes, estendendo-o a ela. Respirando fundo, ela se forçou a seguir minhas ordens, e com um pouco de dificuldade, concluiu sua tarefa. Sentindo que ela estava perto de um orgasmo pelas contrações internas de seu corpo, prossegui.
- Tire a calcinha.
Num movimento brusco e um certo contorcionismo, ela me obedeceu, e sem que eu precisasse pedir, fez o mesmo com minha cueca, recebendo minha ajuda. Intensifiquei meu trabalho, ajudando-a a atingir seu ponto máximo em pouco tempo, e retirei meus dedos úmidos de dentro dela, deslizando-os suavemente por entre seus seios para que minha língua provasse de seu orgasmo logo em seguida ao passear por sobre a pele da região. Com um suspiro profundo, ela demonstrou sua aprovação. Empate.
- Você me deixa louca – ela sussurrou perto de meu ouvido, alisando meus ombros com as mãos espalmadas, e sem aviso empurrou meu tronco para baixo, me fazendo deitar no tapete – Hora de retribuir o favor.
Movendo sua pélvis sobre a minha, ela me posicionou em sua entrada, e cobrindo minhas mãos com as suas, desceu devagar, permitindo que eu a invadisse aos poucos. Uma onda de calor percorreu meu corpo ao nos encaixarmos, arrancando grunhidos baixos de minha garganta e enrijecendo meus músculos. Nossos dedos se entrelaçaram conforme ela continuou se movendo, permitindo que eu sentisse meu membro invadi-la por completo incontáveis vezes.
Por mais que eu pudesse enxergar tudo deitado, me senti muito distante dela, e após algum tempo preferi voltar a me sentar, podendo desfrutar do atrito irregular de seu tronco subindo e descendo rapidamente contra o meu. Ela trouxe seu rosto para perto de mim, apoiando-se em meus ombros, e eu lhe dei suporte com minhas mãos em sua cintura, ambos com rostos contorcidos e respirações irregulares. Um ardor gostoso indicava que as unhas dela haviam arranhado minha pele, sofrendo o impacto de nossos movimentos, tão rápidos que quase conseguiam superar a velocidade de nossos batimentos cardíacos frenéticos. Por entre minhas pálpebras quase fechadas, observei que ela mordia seu lábio inferior, tentando segurar seus gemidos sem muito sucesso, e a vermelhidão de sua boca, juntamente com o leve inchaço, só me ajudou a atingir meu limite. Eu era um amante dos detalhes, e todos os dela me enlouqueciam.
Ainda estávamos empatados, mas eu estava prestes a anunciar minha rendição.
- Eu não vou agüentar muito mais – arfei, respirando com dificuldade.
- Não precisa me falar – ela respondeu num sussurro, e aproximando sua boca da minha, completou sua frase – Só faça.
Ligeiramente trêmulo e com muita adrenalina correndo em minhas veias, me desfiz da tensão que ajudava a me conter, sentindo uma resposta imediata de meu corpo através de uma explosão de torpor que durou alguns segundos. Investi pela última vez, apoiando minha testa em seu ombro e respirando fundo até ter fôlego o bastante para me mexer de novo. Também se recompondo, (S/N) acariciou minhas costas calmamente, em silêncio, até que eu a abracei pela cintura e a ouvi rir baixo.
- Feliz aniversário – ela murmurou, retribuindo o abraço em meu pescoço. Sorri.
- Eu te amo – falei com a voz serena, sem nem pensar antes. Só depois percebi o quão gay isso soou, mas eu estava exausto e minha cabeça estava cheia de pensamentos abominavelmente fofinhos, então não foi exatamente minha culpa.
- Que delícia ouvir isso – ela disse, manhosa – Eu também te amo.
- Eu sei que não falamos isso tanto quanto deveríamos... Desculpe por isso – continuei com um certo remorso, traçando linhas imaginárias em suas costas – Acho que o certo seria dizer pelo menos uma vez ao dia, e não ao mês...
- Eu não quero que você peça desculpas por isso – ela falou com autoridade, desfazendo nosso abraço para me olhar – É exatamente por não dizermos todo dia que valorizamos tanto quando dizemos. Fico feliz por não usarmos essa palavra como se fosse algo banal... É muito mais do que isso.
Meu sorriso, que antes havia se enfraquecido, voltou a se alargar, e o dela fez o mesmo. Nós realmente tínhamos algo único ali.
Gay de novo? Nem vem.
- Bom... Eu raramente uso essa palavra - comentei, erguendo uma sobrancelha com a expressão séria – E sempre é pra falar de você.
Ela fechou os olhos, dando um sorriso tímido.
- Eu sei que não somos exatamente um casal romântico... E isso é uma das coisas que eu mais adoro – ela suspirou, arrumando meu cabelo desgrenhado – Então nem pense em pedir desculpas de novo, entendeu? Senão eu vou ter motivos pra me desculpar depois que quebrar essa sua cara charmosa todinha.
Soltei uma risada curta, sentindo minhas pálpebras pesadas, e mais uma vez, uni nossos lábios.
Ela tinha razão. Podíamos não seguir certos padrões, mas éramos muito mais íntimos e apaixonados que muitos casais convencionais.
E ser convencional não era algo que estava em nossos planos.

- Tem certeza de que eu estou decente?
Revirei os olhos, fingindo que sua pergunta era digna de minha atenção. Era a sétima vez que ela repetia aquelas mesmas palavras.
- (S/N), você precisa se acalmar – falei, tentando não rir da agitação dela – Não tem nada de errado com a sua roupa, nem com o seu cabelo, nem com nada. Você está linda.
- Desculpe... Acho que eu estou um pouco nervosa – ela suspirou, ajeitando-se no assento do carro timidamente. Olhei para ela com as sobrancelhas erguidas.
- Está pronta? – perguntei, recebendo um aceno positivo dela, e assenti de volta, ligando o carro. Deixamos a garagem em poucos segundos, deparando-nos com um sol revigorante, apesar das baixas temperaturas. Tínhamos cerca de duas horas e meia de viagem pela frente, e como da última vez que viajamos para a casa de praia eu havia determinado a trilha sonora, dessa vez ela escolheu as músicas que ouviríamos durante o trajeto. Não me importei muito, já que ela parecia ter achado uma boa maneira de se distrair. Prendi o riso quando ela tentava alcançar as notas mais altas e soava bem... Diferente do esperado.
- Quem vai estar lá mesmo? – ela indagou do nada, observando distraidamente o encarte de um dos CDs. Franzi a testa tentando me lembrar de todos.
- Meus pais, meus tios paternos e maternos, meu primo gay, minha prima que é irmã dele, o filho dela e... Acho que só – dei de ombros, sem conseguir me lembrar de mais ninguém – São poucas pessoas. Nossa família não é grande, você não tem que ter medo de nada.
- Não estou com medo, só estou... Nervosa – ela corrigiu, mudando de música freneticamente até encontrar a que queria – É normal se sentir assim nessas situações.
- Eu só não quero que você se sinta diminuída diante deles de forma alguma – expliquei, vendo que ela erguera o olhar para mim – Eu sei que você não se deslumbra com dinheiro, mas não quero que se sinta intimidada por ele.
(S/N) desviou o olhar de mim e não respondeu de imediato. Percebi que havia tocado num assunto delicado.
- Eu só tenho dezoito anos, Niall – ela murmurou, com os ombros encolhidos – Sou só uma pirralha que mal começou a faculdade. Se eu fosse rica, pelo menos teria alguma coisa pra ostentar...
- Então você acha que o dinheiro nos atrapalha? – interrompi, inconscientemente apertando o volante com mais força – Acha que as pessoas vão olhar pra você e tudo o que verão será a namorada do cara rico? A aproveitadora?
- Não, claro que não! – ela exclamou prontamente, me olhando com incredulidade – Não é isso que eu tô dizendo! Eu jamais tocaria no seu dinheiro!
- Então por que você age assim? Ninguém tem que nos julgar por nada – falei, um tanto ríspido, sem olhar para ela – Enquanto dermos certo, ninguém precisa nos aprovar além de nós mesmos, e eu sei que você não é esse tipo de pessoa. Você está feliz comigo?
- C-claro – ela gaguejou, assustada com minha súbita mudança de humor.
- Eu também estou com você, e é só o que importa – rosnei, irritado - Não precisamos de ninguém apontando nossos defeitos. Droga, eu sabia que não daria certo trazer você.
Através de minha visão periférica, vi que seu rosto havia mudado de intimidado para magoado. Seu olhar caiu até seu colo, e um silêncio horrível caiu sobre nossas cabeças.
Exceto pela música.

Some people want it all 
(Algumas pessoas querem tudo) 
But I don't want nothing at all 
(Mas eu não quero nada) 
If it ain't you, baby 
(A não ser você, baby) 
If I ain't got you, baby 
(Se eu não tiver você, baby) 
Some people want diamond rings 
(Algumas pessoas querem anéis de diamante) 
Some just want everything 
(Algumas simplesmente querem tudo) 
But everything means nothing 
(Mas tudo significa nada) 
If I ain't got you 
(Se eu não tiver você) 

Fechei meus olhos por um momento, cheio de arrependimento, enquanto reduzia a velocidade e parava no acostamento. (S/N) nem se mexeu.
- (S/N), eu... Me desculpe – pedi, olhando-a com aflição – Eu me expressei mal.
Nenhuma reação. Continuei.
- Se você soubesse quantas vezes o fato de meu pai ter se dado bem na vida me deu dores de cabeça... Toda vez que eu tentava ter algo sério com alguém, a ganância sempre falava mais alto e eu tinha que voltar atrás. Sempre que eu levava alguém ao meu apartamento, eu sabia que não tinha mais chance de ter um relacionamento mais duradouro que uma noite. E você... Até nisso você me surpreendeu. Eu confio em você, sei que não está comigo para me dar um tipo de golpe ou algo parecido. Eu não quero que você mesma destrua isso, entende? Que você se sinta mal por achar que não tem nada a oferecer por ser muito nova ou por não ser rica.
Levei meu indicador até a base de seu queixo, erguendo seu rosto e virando-o na minha direção. Seus olhos brilhavam um pouco mais que o habitual, e eu me senti péssimo.
- Eu não quero alguém da minha idade, eu não quero alguém rico... Porque não seria a mesma coisa. Porque não seria você... Não seríamos nós. E eu gosto desse nós. Como eu nunca gostei de nada antes. E eu não quero perder isso logo agora que eu finalmente consegui... Agora que você finalmente está comigo.
Ela esboçou um sorriso tristonho, com os olhos fixos nos meus, e com a voz baixa, disse:
- Nem eu.
- Mal fiz 31 e já estou virando um velho ranzinza... Como você vai me suportar, (S/N)? – resmunguei de brincadeira, conseguindo arrancar um sorriso dela, e voltei a falar sério – Me desculpe mesmo... Eu não queria te magoar.
- Tudo bem – ela assentiu, sincera – Só preciso de um tempinho pra voltar ao normal.
- Eu vou ficar bem quietinho aqui, tá? – falei, me afastando dela o máximo que pude e vendo-a rir baixo – Não vou falar nada, só vou dirigir. Quando você ficar bem me avise e eu prometo que só vou falar de arco-íris, unicórnios e borboletas.
- Bobo – ela murmurou com olhos carinhosos, e eu não consegui evitar me reaproximar o suficiente para que nossos rostos ficassem a poucos centímetros de distância.
- Nada vai estragar nosso fim de semana – sussurrei, indeciso entre fitar seus olhos ou sua boca – Está bem?
(S/N) assentiu, me dando um lindo sorriso envergonhado, e eu a beijei delicadamente, o que era relativamente raro. O máximo de drama que tínhamos era discutir sobre o fato de que ela roubava o lençol inteiro para si quando dormíamos juntos... Aquilo era algo completamente diferente e assustador.
- Podemos continuar a viagem? – ela pediu, partindo o beijo não muito tempo depois de iniciado – Eu estou com um pouco de fome... E ansiosa para comer comida de rico.
Soltei uma gargalhada alta, voltando à minha posição normal no assento.
- Golpista! – exclamei, vendo-a cair no riso enquanto voltava a dirigir.



CONTINUA...